Nove anos após ter trocado o Sporting pelo Chelsea, Fábio Ferreira recupera nos Antípodas a paixão que julgara perdida pelo futebol. O extremo português é figura central do Adelaide United - segundo classificado da liga australiana – onde está desde 2012.

O afastamento do futebol europeu foi feito, garante, «conscientemente». Começa assim uma entrevista ao Maisfutebol, condicionada pelo desfasar do fuso horário australiano: mais 11 horas do que em Portugal.

«Se não tivesse tomado a decisão de vir para a Austrália, talvez já não estivesse a jogar futebol».

OS NÚMEROS DE FÁBIO FERREIRA

RESULTADOS E CLASSIFICAÇÃO DA A-LEAGUE

A frase não deixa margem para dúvidas. Após os quatro anos em Stamford Bridge, a carreira de Fábio entrou numa fase de indecisões. Passou pelo modesto Oldham Athletic, voltou a Portugal para jogar no Esmoriz e no Sertanense, e em 2011 arriscou tudo e partiu para Sydney.    

«Estive primeiro no Dulwich Hill e jogo no Adelaide Utd. há três anos. Estou numa liga mais forte a nível físico. Tecnicamente, o campeonato tem jogadores de muito boa qualidade. As pessoas pensam que é uma liga com pouco valor, mas está a evoluir muito».

Fábio junta o projeto desportivo à estabilidade pessoal. Vive «na sexta melhor cidade do mundo» [de acordo com alguns estudos] e tem «praias incríveis, clima bom e pessoas impecáveis». «Estou muito contente com a minha vida em Adelaide».

Na equipa técnica está Guillermo Amor, antiga glória do Barcelona. Nada a que Fábio Ferreira dê especial relevância.

«Podiam ser japoneses ou treinadores de outra língua qualquer. Treino e jogo de igual forma. Antes de eles chegarem, eu já estava no clube».

Os golos de Fábio Ferreira no Adelaide Utd.:



«Drogba era impressionante, uma verdadeira máquina»

Fábio era um adolescente de 13 anos quando chegou ao Sporting. Trocara o Paio Pires pelos leões com a ilusão de ser alguém importante em Alvalade. Durante três anos, o atual avançado do Adelaide United partilhou o balneário com muitas caras conhecidas.

«Joguei com o André Santos e o Adrien Silva, entre outros. Foi uma grande experiência e fez-me crescer muito como jogador e pessoa. Foi no Sporting que fiz parte da minha formação e isso ajudou-me a ser o jogador que sou hoje»
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Na transição dos juvenis para os juniores, Fábio Ferreira teve a surpresa de uma vida. O convite do Chelsea, ainda por cima quando José Mourinho já treinava com os blues, foi o cumprir de outro sonho.

O Sporting tentou bloquear a transferência – avaliada em 540 mil euros -, instalou-se a polémica entre os clubes, mas Fábio Ferreira mudou-se mesmo para Londres.

«Estava nos Sub16 da Seleção Nacional, num torneio em França. Mostrei o meu valor e o Chelsea abordou-me. Foi uma experiência incrível», recorda Fábio Ferreira, a partir da Austrália.

Imagens de Fábio Ferreira no Chelsea:



Fábio partiu para os Sub19 dos blues, fez vários jogos pelas reservas e treinou regularmente com o plantel de José Mourinho. Tem na ponta da língua a sua primeira equipa num treino com os seniores do Chelsea:

«Cudicini, Ricardo Carvalho, Joe Cole, Arjen Robben, Paulo Ferreira, Glen Johnson e eu, claro».

O português recorda a «tranquilidade de Lampard» e «Gallas, o mais calmo de todos». Os portugueses eram «dos mais brincalhões», juntamente com «Gudjohnsen e Terry».

«Foi uma experiência fantástica a todos os níveis. Conhecer estes jogadores, estar dia a dia com eles, comer ao lado de todos… Tudo que passei no Chelsea foi positivo para mim. Os portugueses ajudaram-me bastante!»

Fábio guarda no coração as conversas e conselhos com Paulo Ferreira, Ricardo Carvalho e Bosingwa, mas a nível desportivo destaca outro nome: «Didier Drogba». «Era impressionante vê-lo a treinar, uma verdadeira máquina».  

«Saí do Chelsea porque não quiseram renovar o contrato»

Da equipa técnica de José Mourinho fazia parte um menino chamado André Villas-Boas. Fábio nunca privou com eles, mas por esses dias um simples aceno fazia toda a diferença.

«A conversa resumia-se a um 'bom dia, tudo bem'? Na altura isso era mais do que suficiente para me fazer feliz».

Quatro anos após a chegada, já em 2009, o Chelsea anunciou a não renovação do contrato de Fábio. Luiz Felipe Scolari era o treinador nessa fase.  

«Não me deram qualquer explicação. Apenas me informaram que o contrato não seria para renovar».

À distância de 11 fusos horários, Fábio Ferreira tem como objetivo continuar a ser feliz na Austrália. Está no último ano de contrato com o Adelaide United e a fazer tudo o que pode «para decidir bem» o futuro.  

No baú de recordações há fotos de Fábio no Sporting, imagens dos treinos no Chelsea e a sensação de proximidade única com o mais titulado dos treinadores portugueses. «Aqueles bons dias que ele me dizia…»