(artigo originalmente criado às 23h55 de 05/12/2019)

O talento de Yacine Brahimi fez as malas e embarcou para o Médio Oriente. No FC Porto deixou um rasto de génio, um estilo único, um artista do drible. Em cinco temporadas, o argelino fez 215 jogos oficiais e tornou-se no sétimo estrangeiro com mais presenças oficiais de dragão ao peito. Um número de respeito. 

A partir do Qatar, onde vive e joga desde julho, Brahimi atende o Maisfutebol e abre o coração numa conversa de uma hora. Fala-se de tudo, desde os motivos que o levaram a optar pelo Al Rayyan, até aos convites surgidos na hora do final de contrato com o FC Porto. 

O futuro, assegura, passará sempre pela Cidade Invicta. Só a viver ou também a jogar? 

Uma entrevista dividida em quatro partes, para saborear devagar. Como se Brahimi partisse em câmara lenta para cima de mais um defesa. 


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Maisfutebol – Quatro meses e meio depois de assinar pelo Al-Rayyan, está satisfeito com a escolha feita para a sua carreira?
Yacine Brahimi – Sim, estou feliz aqui no Qatar. Eu e a minha família. Temos conhecido o país, a cidade, estamos a adaptar-nos. Os meus filhos também estão a conhecer uma escola nova e isso não é fácil porque nasceram no Porto. A cada dia que passa sentimos que as coisas ficam mais fáceis.

MF – O seu futebol não sente falta da Europa e da Liga dos Campeões?
YB – Claro que sente. Tenho saudades dos jogos grandes com a camisola do FC Porto, em Portugal e na Champions. Mas decidi vir para o Qatar.

MF – Consegue explicar-nos essa decisão? Porquê o Qatar?
YB – É um país bom para esta fase familiar que atravesso. Aqui vive-se bem, em segurança, financeiramente é ótimo e nesta altura isso é o mais importante para nós. Tenho 29 anos, não tenho 22. Adoro jogar a um nível altíssimo, mas aqui no Qatar há outras coisas que foram determinantes para a minha escolha.

MF – Que futebol e que sociedade encontrou no Qatar?
YB – As condições de vida são impressionantes. Parece que vivemos numa cidade futurista e isso está ligado às centenas de obras que estão a ser feitas por causa do Mundial. É tudo extremamente evoluído, avançado, só vemos instalações modernas, de topo. O futebol é melhor do que as pessoas pensam em Portugal. Estou numa boa equipa, a jogar e a fazer golos.

MF – Escreveu-se que teve convites de Inglaterra e do Benfica. É verdade?
YB – Sim, claro que tive propostas, de Inglaterra e de outros países. Mas uma vez que decidi vir para o Qatar, não podia mudar a minha posição. Isso era claro para mim. Quando optei pelo Qatar, não tinha nenhum convite para jogar num clube maior do que o FC Porto.

MF – E o Benfica, tentou contratá-lo?
YB – Não era possível. Tenho respeito pelo Benfica, é um clube grande, mas sou portista doente e era impossível aceitar jogar no Benfica. Sou portista de coração e ninguém poderá mudar isso. Há uma grande rivalidade, o Benfica é um clube importante, mas nem quis ouvir [a oferta do Benfica] porque para mim era impossível.  

MF – Cinco anos, mais de 200 jogos. O FC Porto é o clube mais importante da sua vida?
YB – Claro, de longe. Senti ainda mais isso depois de sair de lá. Quando estamos num lugar, se calhar não lhe damos o valor justo. Às vezes temos de sair para perceber o quão bem estávamos. O Porto representa muito para mim e foram os cinco anos mais felizes da minha carreira. Pelo clube, pelas pessoas e amigos que fiz. A cidade, a simpatia das pessoas, foram cinco anos maravilhosos. É por isso que quero voltar ao Porto para morar lá. Sentimo-nos muito ligados à cidade.

MF – Tem saudades do Porto e do FC Porto.
YB – Muitas saudades. Estamos bem no Qatar, viajamos quando podemos, mas o Porto é especial. Será sempre uma cidade importante na nossa vida. Nunca conheci pessoas tão simpáticas como os portuenses. Quero que a minha família viva aí no futuro, queremos voltar.

MF – Pretende voltar ao Porto. E voltar a jogar no FC Porto?
YB – Não posso fechar portas (risos). Porque adoro o clube, adoro a cidade e no futebol… tudo pode acontecer. Tomei a decisão de mudar, a pensar na minha família, mas não sei o que acontecerá no futuro. Sou realista: gosto muito do clube, nunca direi que não ao FC Porto, mas é muito, muito, muito complicado voltar a vestir aquela camisola linda.

MF – Antes da sua chegada ao FC Porto, o Madjer era o génio argelino do clube. Cinco anos depois, acha que superou o que ele conseguiu?
YB – Não, não, não. Nem me quero comparar ao Madjer. Ele foi diferente de todos. Eu tentei fazer a minha história, ser um bom jogador, dar o máximo, mas não acho que superei o Madjer. Até porque ele foi campeão europeu no FC Porto (risos).