A viver a «melhor fase desde a mudança para o Estoril», na opinião do próprio, Francisco Geraldes dá uma entrevista ao Maisfutebol.

O médio fala das boas exibições que tem assinado, com destaque para o jogo com o FC Porto, mas também sobre a forma como tem amadurecido o seu futebol, para além de temas paralelos ao terreno de jogo, como os recentes incidentes nas bancadas da Liga, ou a importância da saúde mental.

Uma conversa descontraída mas reflexiva, de um jogador que gosta de pensar o jogo e pensar sobre o jogo, mas que não gosta de ser rotulado como intelectual.

No excerto abaixo apresentado, Francisco Geraldes faz o balanço do início de época, do trabalho com Nélson Veríssimo e da juventude do plantel do Estoril.

MF: O Francisco tem um golo e uma assistência na Liga, foi titular nas oito jornadas, e fez os últimos três a tempo inteiro. Podemos dizer que é um momento positivo, a nível individual?

FG: Sim. Há muito tempo que não fazia 90 minutos, julgo eu. Levo três jogos seguidos, o que mostra também alguma consistência da minha parte, e a confiança que a equipa técnica tem passado, e que eu tenho procurado retribuir.

Frente ao FC Porto foi mesmo eleito o melhor em campo. A nível exibicional sente também essa fase positiva?

Isso corresponde também ao número de minutos. Individualmente, as coisas têm corrido bastante bem. Talvez seja a melhor fase desde que estou no Estoril, e é isso que importa.

Está na segunda época no Estoril, que o recrutou ao Rio Ave, que tinha descido à II Liga na altura. Foi o clube certo no momento certo, para dar outro fôlego à carreira?

Nunca se sabe, é uma questão mais filosófica. O Estoril recebeu-me muito bem. A época passada não foi fantástica a nível pessoal, mas fui bem recebido, a estrutura é excelente. Estou a aproveitar e a retribuir da melhor maneira que consigo, esse apoio que o clube me deu.

E que balanço faz deste início de época?

É extremamente positivo. São muitos jogadores novos, e uma equipa técnica também nova. Existiam aqui alguns ingredientes que, todos cozinhados juntos, podia não correr bem, pelo menos numa fase inicial. Mas, antes pelo contrário, o trabalho foi muito positivo. Temos uma pontuação bastante boa, dado este contexto que referi, e até podíamos ter mais quatro ou cinco pontos. O balanço é bastante positivo, mas nada interessa se não dermos continuidade.

De que forma é que aquela mudança de treinador, já no início de julho, veio condicionar a preparação da nova época?

Uma mudança de treinador é sempre difícil. O mister Bruno [Pinheiro] já tinha dois anos de Estoril, a ideia de jogo já estava bastante cimentada. Mudar de paradigma é sempre complicado, mas acho que a adaptação às ideias do treinador foi excelente. O mister Nélson passa muita confiança aos jogadores, dá bastante liberdade com responsabilidade. Foi um casamento que acabou por dar certo, e a classificação e as exibições, principalmente, demonstram isso.

O Nélson Veríssimo é um treinador habituado a trabalhar com jogadores jovens (tal como o Bruno Pinheiro). Isso também ajudou?

Sim. O nosso plantel é extremamente jovem, e ter um treinador com essa sensibilidade, com um passado que fala por si, ao nível do trabalho com jovens, é excelente para a integração deles. Muitos estão na primeira experiência na Liga. A adaptação tem sido bastante boa porque o treinador sabe lidar com as situações e liberta os mais jovens da pressão. Em termos táticos também é muito fácil de compreender, e temos mostrado isso.

Ainda recentemente saiu um estudo que apontava o plantel do Estoril como o mais jovem da Liga. O Francisco tem agora outra maturidade, já passou por situações com as quais os colegas mais novos estão agora a lidar. Tem essa preocupação de os acompanhar de perto, de os ajudar (se é que já não tinha antes)?

Sim, já estive no lugar deles, e agora tenho mais experiência. Posso comparar a minha passagem pelo Moreirense com aquilo que o Tiago Gouveia está agora a viver, por exemplo. Assim como depois no Rio Ave, ainda emprestado pelo Sporting. Também tive a sorte de ter colegas que me ajudaram bastante na altura, o que é essencial para o crescimento do jogador, privar com experiência. Acredito que o Gouveia, neste momento, esteja muito mais capaz do que estava quando chegou. Também porque não está no contexto de uma equipa grande. Têm um espaço enorme para crescer, e se eu os puder ajudar… perfeito.

Para além do Tiago, que outros jovens do Estoril destacaria? Quem tem surpreendido mais?

Mais do que falar em nomes, que o futebol é momento, muda de um dia para o outro, é importante que os jovens tenham alguma cautela nas expectativas. No futebol passa-se do céu ao inferno em poucos dias, e eu passei por isso. É de valorizar o que o Estoril tem feito, a potenciar jogadores mais jovens, mais do que a questão individual. Aquilo que temos feito mostra a qualidade dos jovens, mas é de destacar o trabalho que o Estoril tem feito.

Como se faz para não passar assim do céu ao inferno, ou pelo menos para lidar melhor com isso?

Existem lesões, maus jogos… se já estivermos preparados para isso, se mentalmente os jogadores souberem que podem ter cinco jogos bons e depois seis ou sete jogos menos conseguidos... a experiência também ajuda a lidar com isso, e dessa forma estarão mais perto de atingir os patamares que ambicionam.

O Francisco está no último ano de contrato com o Estoril. Já há conversas para a renovação? Está tudo muito em aberto? O que pode adiantar?

Não estou minimamente preocupado com isso. O que tenho demonstrado sempre é uma enorme gratidão ao Estoril, por ter acreditado em mim, por continuar a acreditar. Não estou preocupado com dia de amanhã, nem com janeiro ou junho. Estou preocupado só em continuar a jogar bem, ajudar o clube, colocá-lo num patamar condizente com a estrutura, com a qualidade das pessoas que aqui trabalham. O que vier a seguir, de certeza que será pelo melhor. Eu dou o meu melhor todos os dias para que isso aconteça.

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