Portugal foi finalista no europeu de sub-19 em 2014, semi-finalista no europeu de sub-19 em 2013 e finalista do mundial de sub-20 em 2011. A qualidade é objetiva… será que vamos conseguir aproveitá-la ao máximo nos próximos anos?

Ilídio Vale, coordenador técnico das seleções de formação de Portugal, cargo que desempenha desde agosto de 2010, dá pistas, partilha ideias, revela factos sobre como se tem trabalhado a formação na FPF, nos últimos quatro anos.

Em longa entrevista ao Maisfutebol, com o recente sucesso do europeu de sub-19, realizado na Hungria, e a liderança portuguesa no Troféu Maurice Burlaz (que contabiliza os resultados acumulados das seleções jovens na Europa) como pretextos, Ilídio Vale responde a tudo. Mostra-se otimista, mas também, por vezes, reticente.

Tenta contextualizar algumas aparentes contradições que o futebol português tem revelado neste capítulo, mas inclui os clubes no ciclo virtuoso do processo de «progressão» dos jovens jogadores.

E, sobretudo, mostra-se orgulhoso pelo talento e empenho que muitos jogadores jovens portugueses têm mostrado nos últimos anos.

Numa altura em que tanta gente em Portugal (sobretudo depois do Mundial-2014) tem tocado na questão «da formação», esta é uma entrevista de leitura obrigatória.


A presença na final do Euro de sub-19 é fruto de um trabalho contínuo ou foi um episódio que pode não ser repetido? 

De uma forma convicta, digo-lhe que é fruto de um trabalho contínuo, sistémico, estratégico, tendo como referência a excelência, tendo como objetivo criar condições para que as nossas equipas e jogadores possam ser competitivos, vencedores e ter sucesso ao mais alto nível.



O que mudou nos últimos quatro/cinco anos para que as seleções jovens de Portugal tenham voltado a ter bons desempenhos nas competições internacionais? Que hábitos foram introduzidos e que permitiram a melhoria nos resultados?

Mudança de paradigma. Uma visão sistémica, considerando um conjunto de pressupostos, fazendo (re)nascer uma identidade para as seleções de Portugal. Tendo como referências fundamentais uma identidade de jogo, uma identidade metodológica, uma identidade de jogador, uma identidade de treinador, uma identidade organizativa…



A relação FPF/clubes é a chave em todo este trabalho? Isso tem vindo a mudar nos últimos anos?

É fundamental que FPF, clubes, associações, outras instituições, sejam parceiros empreendedores na busca de melhores jogadores, melhores equipas, de um melhor futebol português. De um futebol vencedor.



O jovem jogador português tem características naturais que o tornam especialmente bom no plano europeu e mundial? Consegue identificar os pontos fortes e eventualmente os menos fortes do jovem jogador português?

O jogador português, se enquadrado em contextos de desenvolvimento de qualidade, naturalmente terá condições para desempenhos de altíssimo nível. Embora haja uma evolução significativa, continua a ser necessário melhorar os meios fundamentais para a formação de um jogador português consistente na excelência, considerando as diferentes dimensões do rendimento.



Os clubes formadores portugueses têm as condições de trabalho adequadas? E as seleções jovens?

Hoje, os clubes portugueses, globalmente, têm melhores condições que no passado, contudo, muito aquém do desejável. É fundamental para a evolução do futebol de formação em Portugal criar muito mais espaços que sejam funcionais para treino e jogo do futebol. Os espaços continuam a ser muito poucos. Em muitos clubes chegam a treinar duas e três equipas ao mesmo tempo num campo de futebol. Exceção para uma amostra ainda pequena de clubes portugueses, os quais já possuem excelentes condições de trabalho. Seria importante termos um espaço próprio para as seleções nacionais, contudo gostaria de dizer que a Direção da Federação Portuguesa de Futebol tem feito tudo para nos oferecer as melhores condições de trabalho, o que merece o nosso reconhecimento. 


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