Saiu do Sporting em janeiro de 2019, mas um ano e meio depois voltou a Portugal. Bruno César reentrou no nosso país pela porta do Futebol Clube de Penafiel e da II Liga, destinos surpreendentes para alguém que tinha Benfica, Sporting e a seleção do Brasil no currículo.

Em entrevista ao Maisfutebol, Bruno explica a opção pelo histórico emblema duriense e garante estar muito feliz no Norte do país, onde de vez em quando arrisca sair de bermudas, mesmo no inverno. No Estádio 25 de Abril, o 'Chuta-Chuta' reencontrou o treinador Pedro Ribeiro, um homem com quem trabalhou na Arábia Saudita e um dos maiores responsáveis pelo regresso a Portugal. E agora é mesmo para ficar de vez.  

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Maisfutebol – Um ano e meio depois de sair do Sporting, o Bruno voltou a Portugal. Esteve sempre nos seus planos regressar?
Bruno César –
O meu pensamento era voltar em janeiro de 2021, na verdade, mas as coisas foram muito rápidas e antecipei o regresso a Portugal, que fazia parte dos meus planos, sim. Era um objetivo voltar, por tudo o que este país representa para mim. Portugal deu-nos muito, a nível pessoal e profissional. Foi um pedido expresso da minha esposa, ela ama Portugal.

 

A situação da pandemia em Portugal está mais leve do que no Brasil?
Sim, acho que sim. Creio que por ser um país mais pequeno e também por as pessoas serem mais respeitadoras. No Brasil há um presidente que não leva as coisas tão a sério e influencia negativamente. 2020 é um ano atípico e todos temos de respeitar as diretrizes dos governos e da ciência. Só assim poderemos voltar com alguma rapidez à normalidade.

E porquê a opção pelo Penafiel? É um emblema histórico, mas está na II Liga.
Foi uma decisão muito rápida. Eu trabalhei com o mister Pedro Ribeiro na Arábia Saudita, onde ele era adjunto do Vítor Pereira no Al Ahli, e temos amigos em comum. Eu falei com os meus empresários e disse-lhes que queria voltar para Portugal. Eles perguntaram-me se eu tinha preferência entre a primeira e a segunda divisão, e eu respondi que o importante era mesmo jogar em Portugal. Fosse na primeira ou na segunda. Entretanto, surgiu o nome do Penafiel e o Pedro ligou-me. Eu disse-lhe que faria o máximo para ir para o clube, expliquei-lhe o desejo da minha família e garanti que tentaria tudo para ser possível jogar em Penafiel. O Pedro disse-me exatamente o mesmo e deu tudo certo.

Que condições e que clube encontrou em Penafiel?
É como você disse, é um emblema histórico, tem um passado rico no futebol português. O grupo de trabalho é muito qualificado. Como só tinha jogado na I Liga, havia algum medo sobre o que iria encontrar. Mas o plantel é trabalhador e comecei a respeitar ainda mais todos os atletas que estão na II Liga. ‘Será que estou a fazer a coisa certa?’ Pensei nisso, claro, mas estou muito feliz por esta escolha. Fui muito bem acolhido e só posso agradecer ao Penafiel e a toda a estrutura. O regresso a Portugal está a corresponder às expetativas.

E está a jogar pela primeira vez num clube do Norte. É muito diferente?
Bem, para começar é um pouco mais frio (risos). Como joguei sempre em Lisboa, acho que estou a perceber que as pessoas desta zona são mais acolhedoras. Eu só vinha ao Norte para jogar contra o FC Porto e outros clubes, mas estou a gostar muito, é diferente. O problema é só mesmo o frio, não dá para andar de bermudas. De vez em quando arrisco e vou de bermudas para o treino e a malta começa logo a brincar: ‘calma aí, você não está no Rio de Janeiro’. Estava acostumado a Lisboa, que é bastante mais quente do que Penafiel. Vivo em Leça da Palmeira, em frente ao mar, gosto bastante. Estou mesmo aqui ao lado do Farol de Leça.

Tem 32 anos e tem jogado sempre a titular. Ainda tem objetivos por alcançar?
Claro. Se um jogador deixa de ter ambição, é melhor acabar a carreira. Em Penafiel há objetivos diferentes dos que tinha no Benfica e no Sporting, mas estou inserido num grupo qualificado e que está a ter bons resultados [sexto na II Liga, seis jogos seguidos sem derrotas]. Estou a treinar bem, o campeonato está no início. Dizem que há candidatos mais fortes à subida e por isso estamos a trabalhar tranquilamente. Tenho pensa de não ter ganho ao Marítimo na Taça de Portugal, mas esse jogo mostrou que o Penafiel quer bater de frente com toda a gente. Fizemos um grande jogo e só perdemos no prolongamento. Tenho 32 anos e posso dar qualidade às equipas onde estiver. Quando achar que não consigo… é melhor um jogador parar do que ser parado. Posso ajudar o Penafiel, tenho ambições e pretendo jogar até aos 34/35 anos.

O Bruno já disse que só lhe falta jogar à baliza. Mas qual é a sua posição favorita em campo?Já joguei em tantas posições, principalmente no Sporting, que às vezes até me esqueço. A minha posição favorita é como segundo avançado, como número dez. Saí assim do Brasil. Hoje em dia jogo naturalmente a lateral, a médio ou a extremo, é indiferente.

No Penafiel tem jogado em que posição?
Médio, extremo direito e extremo esquerdo. Mas mais vezes a extremo.

O Pedro Ribeiro foi adjunto do Vítor Pereira vários anos. A ideia de jogo deles é parecida, baseia-se na posse e controlo de jogo com bola?
Eu trabalhei quatro meses com o Vítor na Arábia Saudita. Com o Jesus trabalhei quatro anos. Ou seja, não conheci tão bem as ideias do Vítor. O Pedro gosta de ter bola, de jogar com três centrais e acho que posso dizer que tem parecenças com a filosofia do Vítor.