André Martins voltou a vestir a camisola de Portugal, agora em representação da seleção olímpica nos Jogos Olímpicos. O médio foi um dos três jogadores acima dos 23 anos convocado por Rui Jorge e agradece, por isso, a oportunidade. Fez quatro jogos, três a titular, depois de uma época com poucos minutos no Sporting e foi no Brasil que decidiu o futuro: assinou pelo Olympiakos.

O jogador de 26 anos surpreendeu na convocatória, foi comentado por ser o único jogador sem clube no torneio de futebol do Rio2016 e respondeu dentro de campo com boas exibições, tendo também envergado a braçadeira de capitão quando entrou na segunda parte do Argélia-Portugal.

A experiência foi única, fê-lo viver novas realidades e conhecer um grupo de jogadores mais novos e «cheios de talento», como disse ao Maisfutebol. Companheiro de equipa de Ricardo Esgaio, Tobias Figueiredo e Carlos Mané, o médio também já conhecia Rui Jorge e não tem dúvidas: «É um grande treinador.» 

Quanto ao percurso da seleção olímpica, outra certeza: «Deu o seu melhor.»

Regressou há pouco do Brasil, onde representou a seleção olímpica nos JO. Como foi participar na maior prova de desporto do mundo?

Foi boa. Uma experiência diferente sobretudo para os jogadores de futebol. Não estamos habituados a tanto convívio, a espaços assim e, por exemplo, a refeitórios com muita gente, nem a estar tão perto de outras modalidades. É sempre tudo mais tranquilo, mais privado. Estamos habituado a coisas mais calmas. Foi uma experiência única e estou satisfeito por ter tido a oportunidade de a viver.

E como avalia a prestação da seleção portuguesa? Partiu para o Brasil sem grandes expetativas, mas fez uma boa fase de grupos…

Sim. No fundo saímos com o sentimento de dever cumprido. Sabíamos que ia ser uma competição difícil, pois havia seleções muito fortes. A Alemanha, que nos eliminou, era uma delas. Fizemos uma fase de grupos, na minha opinião, muito boa, mas depois encontrámos uma seleção mais fresca, mais forte, que se conhecia melhor e isso acabou por marcar a diferença. Ainda assim, acho que foi um resultado pesado. Não merecíamos sair daquela forma, mas o futebol é isto. Queríamos seguir em frente, mas não conseguimos.

Como lidaram com o rótulo de «lista suplente» ou até «surreal» como Rui Jorge a classificou, devido a todas as condicionantes e tantas negas dos clubes portugueses?

Isso não nos afetou. O mister teve de passar essa mensagem porque foi uma realidade. De facto, se os clubes tivessem autorizado todos os jogadores a irem, nós não estaríamos ali. Mas a partir do momento em que saia o nosso nome e éramos os escolhidos, só tínhamos de fazer o nosso trabalho, dar o máximo e corresponder à oportunidade de representar o nosso país. No fundo, acho que depois de lá estarmos isso foi esquecido, porque nos foi dada a confiança do treinador e isso ficou provado no torneio que fizemos.

Mas essas «críticas» não serviram como motivação?

No fundo sim, mas já disse: nós não fizemos aquilo para mostrar às pessoas que éramos capazes ou não. Não tínhamos de provar nada a ninguém a não ser, se calhar, ao treinador por nos ter dado a oportunidade que nos deu. Fizemos o nosso trabalho e o que sabíamos.

Rui Jorge saiu também muito elogiado dos JO, depois de fazer em tão pouco tempo um grupo «desconhecido» jogar bem e com qualidade…

Sim. É um grande treinador e tem provado isso com o trabalho que tem feito com as seleções. Já tinha trabalhado com ele quando estava nos sub-21 e jogado contra ele quando ele treinava os juniores do Belenenses. Tem demonstrado, ao longo do tempo, que é bom naquilo que faz e que tem qualidade. Desejo-lhe as maiores felicidades, porque é um treinador que, acima de tudo, admiro muito.

Fizeram-no perder ao fim de 29 jogos, cerca de cinco anos depois. Não se chateou?

Não. Ninguém mais do que nós queria ganhar aquele jogo e seguir em frente nos Jogos Olímpicos. Foi uma derrota ao fim de muito tempo, e uma derrota pesada, mas acho que todos saímos de lá com a consciência de que fizemos o que podíamos e que não dava para fazer mais. Ficámos tristes, claro, não por perdemos ao fim de quase cinco anos, mas porque falhámos a possibilidade de disputar uma medalha.

O grupo não se conhecia muito bem, pela diferença de idades, pelos diferentes clubes e até porque havia quem nunca tivesse ido à seleção, mas parecia unido…

Sim, éramos. O grupo surpreendeu muito e até já o disse a pessoas mais chegadas: surpreendeu-me muito e pela positiva. Muitos já os conhecia de os ver jogar, mas adorei toda a gente. Adorei conhecê-los. Mostraram que, para além de serem miúdos com muito talento, são seres humanos fantásticos. Ainda bem que tive a oportunidade de os conhecer porque tenho ali amigos para a vida.

Quem o acompanha nas redes sociais, conseguiu ver alguns momentos de descontração e, por exemplo, os dotes de Gonçalo Paciência também para cantar. É o mais «palhacito»?

Não é o mais palhacito, mas é o mais divertido sim. O Gonçalo Paciência e o Chico Ramos destacavam-se nisso. Ainda bem que estavam lá no grupo porque muitas vezes faziam com que o tempo passasse mais rápido e melhor.

O que faziam nos tempos livres? Riam e cantavam muito, pelo menos…

Tentávamo-nos abstrair. Não havia muita coisa para fazer se não «inventássemos» um bocadinho. Tentávamos divertir-nos um bocado para manter o espírito de grupo. Nos quartos não havia muito para fazer. Havia uma sala de jogos, mas era aberta a todos os atletas. Mas a verdade é que também não tínhamos muito tempo entre os jogos para descansar, então aproveitávamos o tempo para descansar e às vezes para nos divertir e criar espírito de grupo.

André Martins: os 14 anos em Alvalade, os elogios a JJ e as saídas polémicas

André Martins: o vermelho do Olympiakos e o desejo de fazer história