Um título de campeão europeu. Um título de campeão mundial. Outro título de campeão europeu.

Nos últimos quatro anos, Jorge Braz trouxe todos os títulos de seleções do futsal para Portugal.

E o mundo do futsal rendeu-se às evidências. Três vezes seguidas, o homem nascido há 49 anos no Canadá, filho de emigrantes portugueses, e que cresceu na pequena aldeia de Sonim, em Trás-os-Montes, foi eleito o melhor selecionador três anos seguidos.

Mas mais importante do que isso, é o reconhecimento dos jogadores que lidera. E para esses, não há dúvidas.

A cada intervenção, quer logo a seguir ao final do jogo, quer no dia da chegada a Portugal, o nome de Jorge Braz foi repetido por todos os jogadores.

Todos. Todos fizeram questão de enaltecer o papel do timoneiro do grupo.

Mas Braz, em entrevista ao Maisfutebol, devolve os elogios. Aos jogadores e, sobretudo, ao staff que o acompanha.

É a humildade de que fala e que diz trazer da infância em Sonim.

E pensar que o futsal esteve quase a perder Jorge Braz para o futebol. Isso mesmo. Não uma, mas duas vezes.

Valeu a paixão com que um desporto pouco conhecido à data despertou no jovem professor de educação física.

Uma paixão que se tornou amor. Uma paixão que se tornou glória e levou o futsal ao topo. 

Maisfutebol: Têm sido dias de maratonas de atenção mediática e entrevistas. Está a aguentar o ritmo?

Jorge Braz: Essa é a parte mais fácil. O mais difícil é jogar e ganhar. Isso é que é um problema, isto agora faz parte e tem de ser.

MF: Mas para quem vê de fora, não está a parecer muito problemático isso de jogar e ganhar….

Jorge Braz: [risos] É, ultimamente, tem estado a correr bem.

MF: Indo ao início de tudo, o que há ainda em Jorge Braz do menino que cresceu em Sonim?

Jorge Braz: Há um grande orgulho nas raízes e na educação que a minha mãe me deu na aldeia. E orgulho na simplicidade de humildade daquelas pessoas, do que vivi com os amigos de infância. E ainda hoje, nas festas da aldeia e nos fins de semana que são tradicionais, quando regressamos todos àquelas origens e às brincadeiras de antes. Ver a forma genuína como todos se cumprimentam e a felicidade com que nos revemos. E aí, é o Jorge Braz, o menino de sempre. Regressar e estar com aquela malta toda deixa-me extremamente feliz. 

MF: Como se moldou naquela pequena aldeia alguém que é hoje uma figura de destaque do desporto nacional e internacional?

Jorge Braz: As coisas dependem muito de nós. Não é por ser de uma pequena aldeia. Eu queria muito seguir desporto. Estudei em Vilarandelo e em Valpaços. Depois não havia opção de desporto, tive de ir para Chaves. Também queria muito jogar futebol e fui para Chaves já à procura disso, para me esforçar e tentar ingressar no clube que é a referência do futebol de Trás-os-Montes. Se o Desp. Chaves era o melhor clube, era aí que eu queria tentar.

MF: Perseguiu sempre o melhor.

Jorge Braz: Sim. Eu queria tentar com os melhores. Qual era a melhor faculdade de desporto? Era a FADEUP, no Porto, por isso era para essa que eu queria ir. E agora é a mesma coisa. Quem eram os melhores? A Espanha, a Rússia, o Brasil, a Argentina? Então vamos tentar ser como os melhores e ultrapassá-los. A aldeia ensinou-me a manter-me sempre humilde. Mas que essa humildade não era impeditiva de tentar ser como os melhores, respeitando sempre quem é melhor. Acho que essa foi sempre a minha forma de estar nos vários passos que dei na minha vida: na escola, no futebol, na Universidade, como treinador e professor de Educação Física. 

MF: Ultrapassar as fronteiras dessa pequena aldeia que podiam prender os sonhos de um miúdo foi o primeiro desafio?

Jorge Braz: Digo a muita gente que as barreiras que se colocam no nosso país, que é muito assimétrico, não podem ser impeditivas de nada. O país é tão pequenino, que é fácil chegar a todo o lado. Temos tantas oportunidades, que é uma questão de se querer. Eu estava ali na aldeia por isso era impossível jogar no Desp. Chaves? Mas é impossível porquê? Deixa-me la ir tentar. Porque não há de ser assim? Eu nunca vi nada como impeditivo, apesar de reconhecer a dificuldade. Mas as dificuldades são para ultrapassar. E para isso é preciso treinar muito, estudar muito… Não é eu por ser de trás das pedras, como costumo dizer, que isso me ia impedir de sonhar. É isso que digo a todos os miúdos que estão em Sonim e nas aldeias lá à volta.

MF: Chegou a estar no plantel principal do Desp. Chaves. Perdeu-se um bom guarda-redes de futebol para se ganhar o melhor selecionador de futsal do mundo?

Jorge Braz: [risos] Não sei. Ainda hoje digo que foi das decisões mais difíceis que tomei. Era um miúdo de 18 anos, ofereceram-me uma melhoria de contrato para continuar no plantel. Mas tinha de abdicar da Faculdade. Foi sem dúvida difícil. Abanei muito. Ia ficar no plantel com o contrato melhorado para ser jogador de futebol de um clube que estava na Liga. Pensei muito, mas já tinha o primeiro ano da Faculdade praticamente concluído e houve ali qualquer coisa que me disse: primeiro termina a Faculdade. Com muita pena minha não fiquei no Desp. Chaves, mas fui para o Vila Pouca, na III divisão, andei por outros clubes e consegui conciliar as duas coisas.

MF: Mas perdeu-se um bom guarda-redes?

Jorge Braz: Isso tem de perguntar ao José Romão, que era o treinador na altura [gargalhada]. Foram épocas muito boas. Havia bons guarda-redes. Tive o privilégio de treinar com o Rui Correia, que era de topo; e com o Vítor Nóvoa, que também era um guarda-redes fantástico. Foi uma opção da qual não me arrependo. Foi por causa disso que depois surgiu o futsal e esta paixão pelo futsal. Não sei se iria ser muito bom guarda-redes. Até ali não tinha sido [risos]. No plantel sénior só treinei, nem um jogo fiz, por isso a qualidade não devia ser muita [mais risos]. Mas também para superar o Rui e o Vítor não era fácil.

MF: Outra situação que o fez abanar foi quando recebeu uma proposta para deixar o futsal e seguir carreira de treinador de futebol. Como é que isso aconteceu?

Jorge Braz: Foi já depois de terminar a faculdade, nos primeiros anos. Surgiu um convite e claro que o futebol na altura… Só que eu ia iniciar um estágio do Mundial Universitário como adjunto do Orlando Duarte e do Zé Luís [Mendes], que hoje está comigo na seleção. E para mim, sempre foi muito clara a questão do compromisso e da palavra. Íamos iniciar o estágio e eu ia abandonar para ir para o futebol só porque financeiramente era melhor? Também abanei um bocadinho, é evidente, mas tomei a decisão de me manter no futsal. Aí também já havia a paixão pelo futsal, por isso só uma coisa estratosférica é que me ia desviar da paixão.

MF: Qual era o clube?

Jorge Braz: Na altura, a proposta era para ir para o Desp. Chaves como treinador-adjunto e preparador físico. Mas como disse, já havia uma grande paixão pelo futsal.

MF: Ou seja, cresceu a olhar para o Desp. Chaves como o clube para onde queria ir, e acabou a dar duas negas ao clube.

Jorge Braz: [gargalhada] Mais ou menos. [mais risos]. Mas o Desp. Chaves é sempre o Desp. Chaves. Foram as minhas primeiras experiências desportivas, na altura em que batemos com a cabeça na parede muitas vezes. Foram momentos de aprendizagem fantásticos. O Desp. Chaves fica marcado para sempre.

MF: Fala muitas vezes de Orlando Duarte como responsável pela sua opção pelo futsal. Aquela primeira convocatória para o Mundial universitário foi fundamental?

Jorge Braz: Um bocadinho, sim. Um bocadinho, não: muito. Totalmente. A forma de liderar do Orlando, a forma dele pensar e organizar o treino e o jogo. Mas também o lado humano, e de líder, e a ambição que tinha. É muito fácil dizer hoje que ganhamos, mas o Orlando disse sempre: vamos jogar de olhos nos olhos e da forma como queremos jogar, porque só assim é que um dia lhes vamos ganhar. Eu aprendi estas palavras com ele e senti-as muito com ele.

MF: Foi o primeiro a ver o que agora é realidade?

Jorge Braz: Sim. Se calhar, nos primeiros momentos as pessoas também hesitavam e achavam que devíamos era defender atrás, fechadinhos: ‘lá está o mister!’. Mas não. Isso é que nos levou a crescer, é que nos levou à medalha de bronze [no Mundial] na Guatemala, a ir à final em 2010. O Orlando passou-me valores do treino, do jogo e de como devemos olhar para ele. Mas do ponto de vista da liderança, daquilo que é o nosso papel enquanto líderes, ele passou-me valores fantásticos que ficam para a vida.

MF: Neste dia que falamos, cumprem-se quatro anos desde a conquista do primeiro título Europeu. Mais do que o pontapé de saída para o sucesso que se seguiu, essa conquista foi o pontapé no ‘quase’ que parecia acompanhar a seleção?

Jorge Braz: [hesita] Com a quantidade de aprendizagens que tivemos de outras fases finais, chegámos ao momento em que ou é, ou não é. Lembro-me de uma reunião com os jogadores em que dissemos: trabalhamos tão bem ou melhor que os outros, temos organização; o que nos falta? É disso que temos de ir atrás. E na Eslovénia [2018], percebemos que era possível. Bastava acreditar e sermos mesmo uma equipa. É difícil ter esse clique, mas eles foram fabulosos e hoje é um dia muito feliz de recordar uma data que fica para sempre.

MF: Na preparação para o Europeu deste ano, Portugal perdeu duas vezes com a Espanha, a segunda delas por 6-0. Essa derrota foi importante para baixar a ‘crista’ de uma equipa que chegava como campeã europeia e mundial?

Jorge Braz: Sim, essa derrota teve esse efeito Percebermos que tínhamos de vir à base da montanha. Acabou por ter essa influência.

MF: O que fez para dar a volta à cabeça dos jogadores?

Jorge Braz: Eu não fiz nada. Foi tão mau que nem fiz nada e todos eles perceberam o que tinha de ser feito. Mas não fiz nada. Nós tivemos momentos muito bons nesses jogos. Mas voltámos ao antigamente: a partir do momento em que as coisas começaram a ficar difíceis, deixámos descambar. E claro que não me identifico nada com isso. Aquilo não eramos nós. E quando as coisas são tão óbvias, nem é preciso dizer nada. É preferível ficar calado e refletir. Sei o grupo de homens que tenho tido comigo nos últimos tempos. E sei que não era preciso dizer nada.

MF: É preciso conhecer mesmo muito bem o grupo para não dizer nada depois de uma derrota dessas às portas de um Europeu.

Jorge Braz: Não disse absolutamente nada. Aliás, até me pediram para entregar as medalhas [os jogadores recebem uma medalha relativa a cada jogo que fazem pela seleção] no final do estágio e nem isso fiz. Pedi autorização para não o fazer, claro. Mas não entreguei, não falei, nada. Queria era ir para casa, não me apeteceu ser eu a fazê-lo.

MF: O certo é que se duvidas houvesse, as reviravoltas com a Espanha, nas meias-finais, e a Rússia, na final, mostraram que a força mental é um dos pontos fortes desta equipa.

Jorge Braz: A resiliência, sem dúvida. É muito isso, mas também é sermos competentes. A força mental e as palmadinhas nas costas são muito importantes, mas temos de ser competentes. E dento dessa competência, há uma noção clara de que não é por estar a perder 2-0 que ficamos fora do jogo. Claro que se sofreres o terceiro e o quarto, aí adeus. Mas não há problema nenhum em haver erros e sofrer golos, isso faz parte. E fazendo o nosso trabalho, podemos dar a volta. Todos têm muito essa consciência.

MF: Foram divulgadas imagens da palestra antes da final e vemos um Jorge Braz muito emocionado a falar com os jogadores. Foi das palestras mais emocionais que fez?

Jorge Braz: Já tive várias. Aquilo é muito nosso. As imagens foram divulgadas agora, mas já houve outras vezes que me senti assim. Se sentimos, não há que esconder. Este tipo de coisas não se consegue esconder. Mas ali, depois de tudo o que passámos, depois de tudo o que eles fizeram e da forma como se comportaram como equipa, era muito difícil falar com eles e acrescentar alguma coisa. Era difícil pedir-lhes algo mais. Só lhes podia dizer que era para continuar assim. Foi muito difícil falar com eles naquele momento, depois de tudo o que tínhamos vivido.

MF: Após o apito final, talvez tenhamos visto a sua versão mais ‘solta’ na forma de festejar. Pareceu-me até vê-lo a dançar…

Jorge Braz: [risos] Já houve outros momentos. Lembro-me da qualificação na Póvoa de Varzim e de outros momentos em que brincámos entre nós. Sentimo-nos muito bem uns com os outros. Eu sempre disse que foi um mês muito bem passado. Todos os dias. Houve dias em que até disse: ‘Isto está a correr tão bem, que não me agrada. Está a ser tão bom, que ainda corre mal’. Deve ser da velhice, parece que temos sempre de refilar de alguma coisa [risos]. E é uma alegria enorme estar no meio desta família.

MF: Após a conquista do primeiro título falou-se muito de Ricardinho. Depois do Mundial, falou-se muito de Pany Varela e de Ricardinho. Agora, falou-se muito de Zicky e de Jorge Braz…

Jorge Braz: É, mas o Jorge Braz coordena e lidera uma equipa fantástica. E não são só os jogadores. Hoje em dia, andamos sempre à procura dos heróis e eu percebo. Mas desde 2018, tem sido decisivo para estes êxitos o staff que tenho. É que não duvide. Tenho melhor treinador português a trabalhar comigo e o resto é conversa.

MF: De quem fala?

Jorge Braz: O Zé Luís é o melhor treinador português, na minha opinião. O Pedro Paula também está comigo há muito tempo e tem uma perspicácia fabulosa. Juntou-se agora a nós o Emídio [Rodrigues] que é, de longe, dos melhores treinadores portugueses a ler o jogo. O Bruno Travassos é a melhor pessoa do mundo do ponto de vista do treino, do scouting, da fisiologia… Esse, então, é nas áreas todas. Já para não falar do Jorge Silvério, que dispensa apresentações; do meu analista; do team manager que é do melhor que existe. Tenho uma equipa médica fantástica, com passado no futsal… Todo este staff é gente de uma enorme competência. Tenho a melhor equipa técnica possível.

MF: É um trabalho coletivo, como em todas as equipas…

Jorge Braz: Eu tive o [Pedro] Palas, o Emídio, o Pedro Matias e o Bruno Travassos a deitarem-se todos os dias às quatro ou cinco da manhã para prepararem o scouting todo. Todo os dias! E antes de jogar a meia-final já eles estavam a preparar a Rússia. Da Ucrânia tínhamos muito material porque já tínhamos jogado com eles. Quando passámos a fase de grupos, foi um ‘trinta e um’ porque não sabíamos que ia passar no grupo B.

MF: Que consequências houve dessa situação?

Jorge Braz: Ainda não tinha comentado isto com ninguém, mas passa sempre ao lado o trabalho desta malta. No grupo B, era tal a confusão, que ninguém sabia se passava o Cazaquistão, a Itália, a Eslovénia, ou a Finlândia. E nós gostamos de preparar as coisas com antecedência por isso disse-lhes: ‘Santa paciência: ides preparar as seleções todas!’ E só se consegue este sucesso quando se tem equipas de elevado desempenho como nós temos. E a minha equipa é brutal. Não sou eu, é a minha equipa que faz isso tudo. Eu percebo que depois ‘é o Braz, é o Braz, é o Braz’. Não, não é o Braz. O Braz é um sortudo por ter esta gente a trabalhar com ele. Eu sou só o rosto.

MF: Mas a cada discurso, e sem que lhes perguntassem por isso, todos os jogadores enalteceram o papel do líder. E o líder é o Jorge. Essa é uma medalha tão importante como as de Campeão da Europa ou do Mundo?

Jorge Braz: [hesita, sorridente] Lembraram-se todos [risos]. Eu digo sempre, quase como um chefe de família: ver a felicidade deles, vê-los a sentirem-se bem no dia a dia, isso é que é a maior satisfação que podemos ter. Ver a alegria da nossa família. E se calhar eles também estão a tentar… a tentar, não… São assim: genuínos, honestos e disseram o que sentiam. É um sentimento mútuo entre todos. Entre eles, de mim para eles e para o staff, deles e do staff para comigo. Esta relação é muito honesta e genuína. Eles mencionaram-me e isso deixa-me extremamente feliz, mas melhor ainda é ver isso no dia a dia. Nas relações, na confiança, nos momentos maus – quando lhes dou na cabeça. Esse nível de relação é que me deixa muito feliz.

MF: Depois do título em 2018 disse que o período pós-Ricardinho ia ser difícil. Esta conquista já acontece sem ele.

Jorge Braz: Nós percebemos que o importante eram estes 14. Ou quinze, que o Bebé também esteve lá connosco. Agora, o Ricardo faz parte desta família. Faz parte ele, como fazem o Tunha, o Mário [Freitas], o Nislon, o Victor Hugo. Gente que esteve connosco na qualificação e que agora ficou de fora. Isto é fantástico. O Ricardo, sendo quem é, fez questão de estar connosco nos momentos importantes. Mas a seleção nacional tem de continuar. Ele é marcante e estará sempre na história, mas isto não pode ser geracional, não pode depender de ninguém.

MF: Sente que este título já mostra que esta evolução não é geracional?

Jorge Braz: Sim, sim. Acho que já demonstra isso. É evidente que as pessoas só acreditam quando ganhamos. Mas se quiserem ir ver as minhas declarações de há alguns anos, eu sempre disse que não me preocupava o futuro. Que vinham aí miúdos qualificados, enquadrados nas seleções jovens, que era malta muito, muito interessante. Mas claro que as pessoas acreditam mais quando vencemos. Pensam sempre: ‘está bem, não ganhes, não…’. Mas nós olhamos para o processo e quando acreditamos no que fazemos, estas coisas podem acontecer.

MF: Não é só nos títulos que Portugal está melhor, portanto?

Jorge Braz: Ah, não. No processo acho que estamos na frente há muito tempo. A visão estratégica e o nível de exigência do presidente Fernando Gomes, do Pedro Dias e do Humberto [Coelho] colocaram o futsal português à frente de toda a gente há muito tempo.

MF: Até há bem pouco tempo, olhava-se para Espanha e Brasil e parecia impossível derrotar aqueles colossos. Portugal já é o alvo a abater?

Jorge Braz: Sim. Já o eramos, claramente, neste Europeu. Mas conseguíamos olhar para isso de uma forma muito consciente. E cada vez vai ser mais, mas ainda bem que é assim. Agora, depende de nós continuar a ser o alvo a abater e mantermo-nos neste patamar.

MF: O que é preciso fazer para isso?

Jorge Braz: É voltar a colocar os pés no chão. Já. Já em abril, na próxima concentração. Temos de ter um enorme orgulho do que conseguimos, mas há que perceber que começa tudo outra vez já em abril. Manter a humildade e voltar a perceber o que é ser Portugal.

MF: Orlando Duarte deixou a seleção por sentir vontade de treinar todos os dias. O Jorge já ganhou todos os títulos com a seleção. Não sente essa vontade também?

Jorge Braz: Na altura, só tínhamos a seleção A. Até eu sentia vontade de ter mais treinos. Mas atualmente, todas as semanas eu estou em estágio. Todas! Na maioria das semanas, estão duas seleções a trabalhar em simultâneo. Na próxima semana, vão ser quatro treinos por dia! Nenhum clube faz quatro treinos por dia. Portanto, eu não sinto tanto essa necessidade, porque todas as semanas estou em estágio. E dá-me um gozo enorme estar com os sub-16 e os sub-15 e perceber todo o processo. Eu lembro-me do Zicky vir à seleção sub-15, do Afonso… Sinto-me feliz e preenchido, mesmo tendo semanas e meses que são de loucos.