Aos 37 anos, José Fonte é capitão do Lille, a equipa mais portuguesa da Liga francesa, prova que lidera à entrada para a 29.ª jornada. Presença habitual nas escolhas de Fernando Santos, o central também aguarda a convocatória para a jornada tripla de apuramento para o Mundial2022, na antecâmara do Campeonato da Europa.

À entrada para a fase final da temporada, o central dá uma entrevista ao Maisfutebol, na qual aborda a campanha de sucesso do Lille na Ligue 1, os próximos desafios da Seleção Nacional, e ainda as contas da Liga portuguesa.

Neste excerto o defesa fala dos objetivos do Lille na Liga francesa, dos dois golos apontados recentemente, em jornadas consecutivas, e ainda da saída de Luís Campos do emblema francês.

Maisfutebol: Temos de começar em jeito de brincadeira: duas jornadas seguidas a marcar… o que se passa?

José Fonte: Agora tenho lentes de contacto, já consigo ver melhor (risos). Apareceu ali na minha área de ação e tive a destreza de meter lá para dentro. Vou fazer o possível para tentar marcar mais ou dois golos, este ano. Acho que era importante, para ajudar a equipa, dar força ofensiva nas bolas paradas. Vou continuar a tentar ser agressivo e atacar as zonas.

É algo em que tem trabalhado muito, ou não particularmente?

Trabalho, sim. Quando os avançados fazem finalização, gosto de participar, sobretudo se for jogo aéreo. Mas o que realmente me interessa é “clean sheets”, não sofrer golos, mas se puder ajudar ofensivamente, com o meu jogo aéreo… Não é algo que eu trabalhe três ou quatro vezes por semana, mas gosto de participar. Mas tem a ver um bocado com a fase, como te sentes, como antecipas onde a bola vai cair. Mas também o estado de espírito. Às vezes queres tanto fazer um golo e a bola não aparece, e outras não estás à espera e aparece.

O Lille lidera a Liga francesa, prova que já ganhou três vezes, mas uma apenas nos últimos 70 anos, sensivelmente. A candidatura ao título é claramente assumida, ou é um pouco como diz o Ruben Amorim no Sporting, e vai ser apenas quando faltar um jogo?

O nosso presidente diz que é a cinco jornadas do fim. Temos de ser realistas: o PSG tem forçosamente de ser o favorito, pelo dinheiro que gasta, pelos jogadores que tem, por tudo. Faltam dez jogos, o Lyon também está na luta, e só tem o campeonato e a Taça de França. Tem um bom plantel também, está a fazer uma grande época, e mesmo o Mónaco não está fora da luta, está a fazer uma época espetacular. O Lille é candidato? É favorito? Não. Vai jogo a jogo. Acreditamos em nós, na nossa qualidade, temos confiança no que podemos fazer. Se a cinco jornadas estivermos na luta, aí mudamos o discurso. Para já pensamos jogo a jogo.

Tem três troféus na carreira, desde logo o título europeu com a Seleção, mas nunca foi campeão nacional. Essa possibilidade já está a mexer muito consigo?

Faltam dez jogos, estamos numa boa posição, e se fosse este ano seria um feito enorme. Ganhar o título perante o PSG, ou mesmo o Lyon, seria um feito incrível. Há que ser realista e assumir que o PSG é claramente o favorito por todo o investimento e, claro, pela qualidade. Trabalho muito todos os dias e tento influenciar positivamente os meus colegas para terem uma mentalidade forte de trabalho e de competição. No fim o importante é ficar com a certeza de tudo ter feito, se vamos ser campeões ou não, veremos daqui a dois meses. O importante é controlar aquilo que podemos controlar: o nosso trabalho, a nossa exigência, a nossa atitude e mentalidade. No fim faremos as contas.

Como viu a entrada no PSG do Mauricio Pochettino, um treinador com o qual trabalhou no Southampton?

Fiquei um pouco surpreendido com a saída do Tuchel. Mas assim que o Tuchel saiu, e com o Mauricio disponível, foi uma escolha natural, até pelo passado que tem no clube, como jogador. Até chegar ao PSG ainda não tinha vencido troféus, mas fez um excelente trabalho no Tottenham. Estivemos dois anos juntos no Southampton, conheço-o bem, acredito que tem potencial para ganhar mais títulos. É um trabalhador, um treinador muito atento ao detalhe, mas é um adversário direto agora, e prefiro ser eu a ganhar.

Está a completar a terceira época no Lille, e já falta pouco para ser aquela com mais jogos realizados. O Lille foi a escolha certa no momento certo, não só no plano desportivo, mas até pela forma como dá para conciliar o lado familiar (ndr. a esposa e os filhos estão em Londres, mas o jogador costuma ir visitá-los regularmente, de comboio, já que a viagem demora apenas uma hora e meia)?

Sem dúvida. Acabou por ser a melhor escolha que podia ter feito. Agradeço ao mister Luís Campos pela oportunidade, pelo voto de confiança. Têm sido dois anos e meio fantásticos. Só tenho coisas positivas a dizer da minha passagem pelo Lille, até agora. Temos tido sucesso, as coisas têm corrido bem, as pessoas gostam do meu trabalho, os adeptos apreciam as minhas qualidades e aquilo que tenho dado ao clube. Espero dar mais alegrias e dar mais ao clube. Vou fazer tudo por tudo para continuar a corresponder.

Está em final de contrato. A três meses do final da época, qual a perspetiva: é mais provável a renovação de contrato ou a saída?

Estou muito concentrado no meu trabalho, na minha performance em campo. Se for competente tudo será mais fácil. Mas como disse, neste momento estou totalmente focado em fazer um grande final de época e ajudar a equipa a ter sucesso. Depois tudo se resolverá.

Mas têm existido conversas com o Lille?

Houve uma abordagem, sim, mas ainda não há nada de concreto.

Já falou de Luís Campos, e do papel que teve na sua transferência para o Lille. Como encarou a saída dele, no final de 2020, e na sequência da mudança de proprietários do clube?

Toda a gente sabe a importância que o Luís Campos teve no Lille, a sua qualidade como diretor desportivo e como pessoa também. Com a mudança de donos do clube o mister saiu, e o mundo tem de continuar a girar. É isso que temos feito. O agradecimento estará sempre presente, pelo que fez, por mim e pelo Lille. Foi difícil, mas há que continuar a trabalhar.

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