A dois dias do dérbi Marítimo-Nacional, o Maisfutebol entrevista um dos melhores médios na história do futebol madeirense. Bruno Fernandes, agora com 44 anos, tem uma longa ligação aos maritimistas, mas também vestiu a camisola nacionalista.

Bruno tinha tanto futebol que no verão de 2002 foi contratado pelo FC Porto. E já tinha 29 anos. O antigo médio chegou a começar a época ainda ao serviço do Marítimo, mas o Porto demonstrou interesse pelo jogador. Não era fácil dizer ‘não’ a José Mourinho.

«Trabalhar com o Mourinho, aprender com o Mourinho… acho que é uma coisa fantástica e, para qualquer jogador que quer evoluir na sua carreira, apanhar treinadores com a capacidade do Mourinho, fora do normal, com um controlo de grupo, uma capacidade para gerir emoções e cabeças, muito acima da média, eu, como qualquer jogador na minha situação, com um convite desses, não é fácil dizer 'não'. Portanto, aceitei», explicou.

Poder partilhar o balneário com jogadores como Deco, Vítor Baía, Derlei, Jorge Costa, entre outros que compunham a elite portista naquela altura, é algo que Bruno nunca irá esquecer. Jogadores esses a quem o antigo médio diz estar eternamente grato.

«Estive rodeado de pessoas fantásticas. Hoje em dia são os melhores do mundo nas suas áreas e isso para mim foi uma aprendizagem muito grande e se consigo trabalhar em vários aspetos do futebol, é por culpa da bagagem que eu apanhei dessas pessoas», confessou o antigo médio.  

E recorda ainda Paulinho Santos, o futebolista que Bruno diz que «pintavam mais daquilo do que ele era», na medida em que, segundo o próprio, «os jogadores para vencerem na vida têm de ter um pouco dessa agressividade». «Ele, como ninguém, defendia o seu clube com unhas e dentes e isso não é de criticar, mas antes de elogiar».

Sobre se sofreu algum tipo de praxe na sua chegada ao plantel, Bruno confirmou que sim, mas preferiu não revelar. Ainda assim, fala em momentos inesquecíveis vividos num «grupo à Porto».

«Existe praxe sempre, mas eles eram uma família de grandes líderes e eram o que chamo de ‘um grupo à Porto’. E um líder como o Jorge Costa sabia gerir as coisas de uma maneira fantástica, bem como o presidente e o mister», recordou o madeirense.

«Podia ter sido mais paciente no FC Porto? Podia»

O ex-jogador conta também que ainda hoje em dia se sente muito grato a Pinto da Costa, a Mourinho, ao FC Porto no geral, bem como à cidade. Pudera, foi campeão nacional, campeão europeu e ainda venceu a Taça de Portugal. Isto tudo com apenas… três jogos. Um em cada competição. E isso chegou para ter o seu nome escrito na história dos três troféus.

Apesar dos três títulos, realizar apenas três partidas se calhar não seria o que Bruno teria em mente quando ingressou nos dragões, mas terá existido, então, algum motivo adicional para a pouca utilização do jogador? Alguma coisa a ver com a idade, podem pensar vocês. Não foi o caso, mas quem melhor do que o próprio jogador para explicar?

«Foi porque os meus companheiros foram melhores do que eu. Pura e simplesmente por isso. A equipa estava bem e é assim mesmo. Se podia ter sido mais paciente? Podia. Se tive culpa nalguma coisa? Tive. Portanto, não tenho razões de queixa do treinador, nem de nenhum colega, só tenho a dizer bem deles todos», rematou o madeirense.

Ainda assim, o jogador afirma que se tivesse a oportunidade de voltar atrás para mudar alguma coisa, não o faria, uma vez que não é «uma pessoa de arrependimentos».

Questionado sobre se ainda mantém algum tipo de contacto com José Mourinho, Bruno responde que não, porém a sua vontade seria outra.

«Eu gostava, mas às vezes as coisas não se permitem, mas gostava de ter. É uma pessoa a quem devo muito e que me ensinou muito e por quem eu torço sempre. Acho que o Mourinho ainda vai dar muito ao futebol mundial e ainda vamos assistir a grandes conquistas desse grande senhor», afirmou.

Apesar da curta passagem pelo Porto, Bruno leva os dragões no coração e tem um desejo especial para a equipa neste final de época, sem esquecer o, em tempos, rival Benfica:

«Espero que este ano sejam campeões europeus. Era mais uma alegria que o Porto poderia dar-me, tal como o Benfica na Liga Europa», concluiu.