Deyverson é uma das grandes figura nas primeiras dez jornadas da Liga. Com sete golos destaca-se como segundo melhor marcador, ao lado de Jackson e a apenas um golo de Talisca, e tem sido preponderante na sensacional temporada do Belenenses que, depois de se ter evitado a despromoção in extremis na temporada passada, ocupa agora um inesperado quarto lugar no campeonato, à frente do Sporting e a apenas cinco pontos do líder Benfica.

As origens: um avançado que nasceu numa família de guarda-redes

Fomos à procura das raízes de um «garoto humilde» com os «pés no chão» que ainda há dois anos jogava no Grémio Magaratibense, no terceiro escalão do futebol brasileiro. Acompanhámos, pelas suas palavras, o salto para a II liga, com a camisola do Benfica B, o difícil ingresso no Belenenses que esteve quase para cedê-lo ao Farense antes da explosão nas mãos de Lito Vidigal.

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Um salto impressionante numa curta carreira, embora o avançado garanta que continua com os pés no chão à espera de levantar voo. «Isto ainda é só o começo», ameaça.

Sete golos em dez jornadas, sente que já é uma das figuras da Liga?
- De maneira nenhuma, não me sinto figura, acho que todo o grupo trabalha para isso, para chegar a essa meta. O mérito é dos meus companheiros de trabalho, eles é que me permitem fazer golos, eu só estou bem posicionado, mas são eles que fazem o passe. Tudo isto que está a acontecer na minha carreira devo aos meus companheiros que me dão oportunidades e conselhos para poder estar nesta fase. Os sete golos são do grupo todo, divido o mérito com todo o grupo, estão todos de parabéns.

A verdade é que já igualou Jackson, que foi o melhor marcador da temporada passada, e está a apenas um golo de Talisca, que é o líder dos marcadores na atual liga. O Deyverson no Belenenses tem capacidade para continuar entre estes jogadores dos grandes?
- Acho que sim, se continuar a fazer o trabalho que estou a fazer, se continuar com os pés no chão, a gente chega lá. Vou continuar a trabalhar em todos os jogos para poder subir de patamar.

Os primeiros tempos no Belenenses não foram fáceis. Ainda teve algumas oportunidades com Van der Gaag, mas depois deixou de jogar com Marco Paulo. Foi um período difícil?
- É verdade que não joguei muito, mas foram grandes treinadores, aprendi muitas coisas com eles. Estou muito grato ao Van der Gaag e ao Marco por tudo o que fizeram por mim. Mesmo que não me tenham colocado a jogar, senti-me sempre feliz porque aprendi muitas coisas com eles.

É verdade que esteve para ser emprestado ao Farense em janeiro?
- É verdade, mas depois houve uns problemas. Já tinha jogado pelo Benfica [Taça de Honra de Lisboa] e pelo Belenenses e não podia jogar noutro clube.



Depois chegou Lito Vidigal e mudou tudo. Ainda nas últimas quatro jornadas da última época marcou três golos.
- Continuei sempre a trabalhar, agarrei a oportunidade e continuei até hoje. O Lito reparou que eu estava a trabalhar bem. Tive sempre os pés no chão, nunca passei por cima de ninguém. Tive uma oportunidade para mostrar o meu valor e agarrei essa oportunidade com muita vontade. Estou até hoje com essa vontade. Não vou baixar a cabeça, não vou baixar os braços, porque acho que isto ainda é só o começo. Tenho muito para trabalhar e muito para almejar.

Nesse período, no final da última época, acabou por ser decisivo na continuidade do Belenenses no primeiro escalão ao marcar o golo da vitória sobre o Arouca a três minutos do final da 30ª e última jornada.

- Não esqueço esse golo até hoje. Lá em casa passo a vida a rever esse vídeo quase todos os dias até a minha esposa me dar uma bronca. Foi uma grande jogada de dois companheiros que já não estão aqui. Foi o Geraldes [Sporting] e o João Pedro [Moreirense]. Foi uma jogada linda que deu golo. Eu, como já disse, só estava bem posicionado e só tive de empurrar para dentro. O autor desse golo foi a equipa toda.

Na próxima jornada vai voltar a defrontar o Arouca.
- Vai ser um jogo muito especial, na minha imaginação vamos jogar como se estivéssemos a lutar pela manutenção na Liga, vai ser mais um jogo para vencer. O grupo está focado nesse jogo, vamos lutar para vencer.

Pode-se dizer que o seu sucesso está relacionado com Lito Vidigal? Foi com ele que começou a marcar golos na Liga.
- O Lito deu-me uma grande oportunidade, estou-lhe muito grato. Entrei, mostrei o meu trabalho, agarrei e não vou soltar nunca mais. Sempre com humildade, porque o Belenenses tem grandes jogadores para a minha posição. Também tem o Tiago Caeiro, o Maló, o Camará, são grandes jogadores. No Belenenses não é importante quem faz o golo, o importante é ganhar. Tanto faz se for o Deyverson, o Miguel Rosa, o Dantas, o Caeiro ou o Camará. O importante é o Belenenses ganhar, independentemente de quem jogar.

Como é a relação com o Lito Vidigal? Nas conferências de imprensa tem sempre um ar sério, no balneário também é assim?
- Não, é muito aberto, tranquilo, brinca sempre connosco, mas quando é hora de trabalhar é sério, muito sério, dá os gritos dele, embirra, mas todos os treinadores são assim. Tem o tempo de brincar e o tempo de ser sério. É uma pessoa muito humilde, muito trabalhador, é um grande mister.

Já falou num grupo unido, mas tem alguma relação mais especial com algum companheiro no Belenenses?
- Tenho uma boa relação com todos, mas tem uns que se destacam como o Rodrigo Dantas, o Miguel Rosa e o Tiago Silva. É com eles que passo mais tempo. Saímos juntos, conversamos e eu, o Tiago e o Miguel Rosa passámos férias juntos.




Há poucos meses, no final da última época, o Belenenses estava a lutar para não descer. Agora está no topo da classificação, à frente do Sporting, a dois pontos do FC Porto e a cinco do Benfica. O que mudou entretanto?
- O mérito é do desempenho dos jogadores do Belenenses. Estamos muito focados, não queremos cometer os mesmos erros da época passada. Queremos continuar a trabalhar, com os pés no chão, ainda não somos ninguém. Temos muito para aprender, o grupo é jovem. Com a chegada do Nélson e do Carlos Martins a equipa cresceu, são jogadores muito experientes. A equipa está muito focada, está mais inteligente, mais unida e isso é um grande apoio. O grupo está unido e de parabéns e gora é continuar o trabalho que está dando certo.

Carlos Martins só pode jogar a partir de janeiro. Tem treinado com ele, o que é que ele pode acrescentar à equipa?
- É um jogador experiente, é um jogador de seleção, um jogador rodado, acho que vai trazer muito para o Belenenses.

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