Entrou aos seis pelo pelado da Constituição, saiu aos 19 já nos relvados do Olival. Fábio Martins jogou 13 anos no FC Porto e assume que o final da relação o deixou «magoado», principalmente por tudo o que, diz, teve de aguentar na última época. 

Em entrevista ao Maisfutebol, no seu estilo determinado e sem zonas cinzentas, Fábio aceita falar sobre os dias de dragão ao peito e elege os treinadores mais marcantes, os melhores colegas com quem jogou, os maiores talentos que se perderam. Uma entrevista cheia de boas memórias.  

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Maisfutebol – O pai do Fábio é o Niromar, que também jogou no FC Porto. Que tipo de futebolista era?
Fábio Martins – Só posso dizer aquilo que outras pessoas me dizem. Infelizmente nunca o vi a jogar. Nunca consegui sequer ver um vídeo dele, nunca consegui arranjar. Tenho pena, gostava mesmo de o ver jogar. Pelo que me dizem, o meu pai jogava nas três posições da frente, mas era mais um extremo. Era muito rápido. Dizem que eu sou mais técnico e que ele era mais vertical, jogava mais no espaço. As pessoas com quem me cruzo na rua e que nos conhecem dizem muito bem dele, como jogador e como pessoa. Concordo, claro (risos).

O senhor Niromar esteve três anos ligados ao FC Porto, é isso?
Sim, ele destacou-se no Beira-Mar e foi contratado pelo FC Porto em 1980. Chegou a esse patamar e se calhar antigamente era mais difícil. Não havia scouts, era tudo diferente. Acho que o meu pai até se transferiu para o FC Porto com o António Sousa [foi um ano depois].

Os primeiros passos do Fábio no futebol federado foram dados com o seu pai?
Ele nunca me pressionou para ser jogador, mas eu tinha esse gostinho e aos seis anos ele levou-me às captações no pelado da Constituição. Ao segundo ou terceiro treino disseram-me logo para ficar. Começou tudo aí e fiquei dos seis aos 19 no FC Porto. Orgulho-me de tudo, o clube ajudou-me muito.

O que se sente ao terminar uma ligação tão longa com um clube?
Joguei lá 13 anos, confesso que fiquei um bocado magoado por sair. Custou-me, mas se calhar estava a precisar de sair dessa redoma que é o Olival. Precisava de sentir as dificuldades que o futebol de verdade tem, as dificuldades que os jogadores sofrem. Menos condições, não ter um relvado bom… essa saída do Porto acabou por ser boa, fiz uma boa época no Aves na II Liga e o Sp. Braga contratou-me.

Saiu do FC Porto por vontade do clube?
Eu acho que ainda tinha mais um ano de contrato, mas falámos e decidimos interromper a ligação. No meu primeiro ano de sénior na equipa B tive algumas oportunidades e fiz dois golos. Mas treinei muitas vezes a semana toda com a equipa titular e no dia do jogo desciam o Kelvin e o Iturbe, até o Sebá, e as coisas ficavam difíceis. Sentia-me mal, precisava de jogar e depois era dada prioridade a quem descia da equipa A. Foi difícil de gerir e por não querer passar mais um ano assim decidi sair.

Há algum treinador que o tenha marcado no FC Porto?
Sim, posso destacar três. O mister João Brandão, que está agora na equipa técnica do Shakhtar Donetsk, marcou-me muito e gostei de trabalhar com ele; o Pedro Emanuel nos sub17, e tive um ano muito bom com ele, excelente pessoa; e o Pepijn Linders, agora adjunto do Klopp no Liverpool. Não foi meu treinador principal, era o técnico que fazia treino específico de posição, trabalho mais individual. Saía dos treinos dele a pensar ‘nunca mais chega o próximo treino’. Adorava esses treinos, eram muito bons.

E qual foi o maior talento que viu a ser desperdiçado no FC Porto e no futebol?
Escolho dois antigos colegas. Um, infelizmente já falecido, foi o Alex. Estava no Tourizense e creio que sofreu um acidente de automóvel [teve um ataque cardíaco e morreu em campo, em novembro de 2013]. Era extremo esquerdo e tinha muita qualidade. Foi uma tragédia. O outro era o Ricardo Catarino [joga atualmente no Cesarense]. Era da zona de Santa Maria da Feira e nunca conseguiu dar o salto, fazia a diferença na formação. O futebol tem este lado, é curioso. Alguns explodem mais cedo e depois param.

Se o Fábio já fosse treinador, quem queria levar para a sua equipa?
O Tozé, que está agora no Dubai [Al Nasr]. Chegou a jogar na equipa principal do FC Porto, Vitória, Estoril, adorava jogar com ele. O Ricardo Alves também. Médio, esquerdino, sei que estava na Rússia no ano passado [FK Orenburg]. O central Tiago Ferreira, foi internacional sub20, agora está na Hungria [MTK]. Da minha geração no FC Porto seriam estes os meus escolhidos.

Qual foi o defesa/lateral mais chato que apanhou pela frente?
O ano passado passei mal no Dragão [risos]. O mister Sérgio colocou o Mbemba a lateral direito e tive problemas. E tenho de mencionar o Maxi Pereira. Era sempre pegadinho com ele o jogo. Outros… Nélson Semedo, Ricardo Pereira, também pela forma como atacavam. Criavam sempre problemas.