Uma casa de família. Maxi Pereira abre a porta ao Maisfutebol e mostra-nos o seu mundo. A simpatia da esposa, as gargalhadas dos filhos, a companhia do cão Fofo. O que se segue é uma conversa que se prolonga duas horas e atravessa os 12 anos - «quase 13», corrige Maxi - dos Pereira em Portugal.  

Os últimos seis meses sem futebol, os planos para a carreira aos 35 anos, as memórias da troca da Luz para o Dragão em 2015, a opinião sobre Sérgio Conceição e Jorge Jesus, o adeus ao universo azul e branco no final da época passada e as reflexões sobre o futebol moderno. Treinador profissional? Não contem com ele.  

Simpatia desarmante, abertura total, todas as explicações sobre as opções tomadas e por tomar. Com um café bem português à mesa e uma paixão confessa pela Cidade Invicta. «Nunca tive esta qualidade de vida noutro sítio e já viajei por todo o mundo.»

Esta é a primeira entrevista dada por Maxi Pereira após a saída do FC Porto. No Maisfutebol

PARTE I: «A minha carreira não acabou, estou louco para jogar»

PARTE II: «Com o Jesus a minha cabeça parecia explodir»

PARTE III: «Vejo o FC Porto e sinto que ainda teria lugar»

PARTE V: «Não sabia o que era tirar uma senha e ficar na fila de espera»


MF – Já está em Portugal desde 2007. Esperava ficar tanto tempo em Portugal?
MP – Sofri muito no meu primeiro ano no Benfica [36 jogos/3 golos]. Foi uma mudança brutal na minha vida. Eu já tinha 23 anos, mas o Benfica necessitava desesperadamente de bons resultados e a exigência era altíssima. O treinador era o José António Camacho. Tive de trabalhar muito e acho que evoluí bastante logo no primeiro ano. Quando mudei para o FC Porto, oito anos depois, já foi completamente diferente. Era um jogador maduro e preparado para tudo.

MF – Como é que o balneário do FC Porto recebeu um jogador que vinha de oito anos no Benfica?
MP – No início receberam-me com alguma distância. Talvez até com respeito a mais. Não me conheciam, eu vinha de um rival, era guerreiro dentro do campo e queria ganhar-lhes. Tinham uma imagem diferente de mim. Era tudo feito com algum distanciamento, mas isso durou poucas semanas. O Herrera tornou-se muito próximo de mim, os brasileiros brincavam bastante e no primeiro jogo do campeonato, lembro-me bem, já era um irmão deles.

MF – O Cristián Rodríguez disse-nos que trocar o Benfica pelo FC Porto foi um ato de coragem. E o que diz o Maxi?MP – Sempre dei o máximo em campo, ninguém me pode apontar o dedo. E o próximo clube a contratar-me pode contar com o mesmo: o máximo do Maxi Pereira. Temos de pensar na família, não é a mesma coisa que ser solteiro e ter a carreira toda pela frente. Eu já tinha 31 anos. Estou agradecido ao Benfica por tudo o que me proporcionou, mas se o FC Porto me aborda da forma que abordou só posso aceitar. Não traí ninguém. O Benfica quis renovar à sua maneira, não quis negociar com o meu empresário. O presidente nunca falou comigo diretamente. Acabei o contrato com o Benfica e fui para a Copa América de 2015 sem saber o que me ia acontecer.

MF – Quando recebeu o convite do FC Porto?
MP – Durante a Copa América. O Antero Henrique [ex-diretor geral da SAD do FC Porto] foi ter comigo e fez-me sentir importante, deu-me um valor que a direção do Benfica já não me dava. Nunca me senti tão importante [no Benfica] como me senti nesse momento, quando o FC Porto me foi buscar. Economicamente foi uma oferta ótima e assinei por três anos. O Benfica só me oferecia dois. Ninguém me pode acusar de nada, em nenhum dos clubes. Podem dizer que joguei mal naquele jogo, ou que se calhar já estava mais lento na última época do Porto, mas o pouco que tiver vou sempre dar. Até ao fim. 

MF - E ainda marcou pelo FC Porto na Luz. O que se sente num momento desses?
MP - Tudo, tudo. O peito parece que salta cá para fora. Marquei, o estádio assobiou e eu só quis celebrar com os meus companheiros.