18 de setembro de 2012. O FC Porto entra em campo e leva Lucho Gonzalez na frente, braçadeira de capitão amarela sobre a camisola branco. Os dragões vencem em Zagreb por 2-0, Lucho marca um golo e olha para o céu. O argentino soubera, horas antes, que o pai falecera, Esta e outras revelações sobre os tempos no Dragão em entrevista ao Maisfutebol.

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Maisfutebol – Nos seis anos e meio no FC Porto foi campeão nacional seis vezes. Como explica esse domínio tão explícito e natural?
Lucho Gonzalez – Os jogadores faziam isso acontecer, a qualidade dos jogadores. Tivemos sempre plantéis muito completos no FC Porto. E não era só a qualidade, era a estabilidade que havia no grupo. Havia sempre cinco ou seis jogadores com vários anos de casa, jogadores que proibiam o relaxamento aos novos. Fomos bicampeões, tricampeões e queríamos sempre mais.

MF – O Lucho saiu no início de 2014 e o FC Porto só voltou a ser uma vez campeão. Coincidência?
LG – É estranho ver o FC Porto a ganhar menos vezes, acima de tudo isso. Tenho um carinho enorme pelo clube e quero ver o FC Porto campeão todos os anos. Parece-me que os outros clubes estão mais fortes. O Benfica, o Sp. Braga, o Rio Ave e o Vitória de Guimarães cresceram e melhoraram, estão mais organizados. O Sporting, infelizmente, nem tanto. A liga portuguesa está mais difícil, mas é verdade que é estranho não ver o FC Porto a dominá-la.

MF – Algum dos títulos do FC Porto foi mais especial para si?
LG – Não é fácil escolher, mas o «tri» com o Jesualdo Ferreira foi muito bonito [em 2008]. E, claro, o título já com o Vítor Pereira, quando recuperámos cinco pontos ao Benfica.

MF – O Lucho marcou 61 golos pelo FC Porto. Consegue destacar algum?
LG – Infelizmente, sim. O golo que marquei na Liga dos Campeões ao Dínamo Zagreb em 2012. Foi nesse dia que fiquei a saber que o meu pai tinha falecido. Esse será sempre o golo mais importante de toda a carreira. Foi, é e será. Entrei em campo sabendo que o meu pai tinha acabado de morrer. Marque um golo sabendo isso. É muito forte.

MF – Tem saudades de jogar com alguns dos seus colegas no FC Porto?
LG – Sim, adorei ser colega de equipa do Fernando [agora no Sevilha] e do Hulk [Shanghai], um tipo que fazia a diferença. E há mais, claro. O Lisandro Lopez, o Quaresma, tínhamos grandes jogadores. Tive muita sorte.

MF – Fala-se muito da «estrutura», do apoio ou da falta dele. No seu tempo sentia que essa «estrutura» era sólida?
LG – Uma das virtudes da SAD do FC Porto é que fazia sentir ao atleta, pelo menos a mim, que só seria vendido se chegasse uma oferta capaz de cobrir a cláusula de rescisão. Isso tranquiliza, tanto o atleta como o treinador. O grupo sabia que os jogadores importantes só sairiam dessa forma.

MF – O presidente do FC Porto era próximo do grupo?
LG – Muito, somos amigos até hoje, apesar da minha saída para o Marselha ter sido um processo delicado. Na altura senti que tinha dado tudo ao FC Porto e queria provar o meu valor noutra liga. O presidente sempre foi compreensivo comigo, tanto nessa venda ao Marselha, como no meu regresso e depois na minha saída para o Qatar. Tenho respeito, admiração e carinho pelo senhor Pinto da Costa. E sei que é mútuo.  

MF – Saiu do FC Porto em 2009 e voltou em 2012. Lembra-se de todo o processo?
LG – Essa possibilidade nasceu a partir de mim. Eu não estava a ter a continuidade de jogo que pretendia e o clube queria reduzir a minha folha salarial. Eu tinha um dos salários mais altos do clube e a saída começou a ser uma possibilidade forte. Entretanto, lembro-me que apareceu a Lazio, que me pagava o mesmo que o Marselha, mas a partir do momento em que o FC Porto se intrometeu… não pensei duas vezes, nem quis saber quanto iria ganhar no Dragão. Foi tudo resolvido de forma rápida.    

MF – Fez o último jogo pelo FC Porto a 19 de janeiro de 2014. Quando entrou em campo já sabia que seria a sua despedida?
LG – Não, não sabia de nada. A proposta do clube do Qatar surgiu de um dia para o outro e nem de despedi de ninguém. Tive de viajar quase de urgência para tratar de documentação e não consegui dizer adeus a muita gente.