Kelvin (e o seu momento) podiam ser o anjo na terra de Lucho González. Mas o argentino tem outro D10S e até está tatuado numa das pernas. Lucho fala de Maradona, de uma vitória histórica sobre o Benfica e do amigo Pablo Aimar, alma gémea nos relvados, apesar do conflito de interesses em Portugal. Tudo para ler nesta entrevista ao Maisfutebol. 

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Maisfutebol – Teve algum ídolo quando era criança em Buenos Aires?
Lucho González – D10S Maradona, sempre. Para a maioria dos argentinos é um génio. Depois há três médios que sempre me encantaram: Frank Lampard, Steven Gerrard e Juan Riquelme. Mais tarde fui treinado pelo Maradona na seleção e até tenho uma história engraçada com ele. Tenho uma tatuagem dele na perna e não queria que ele a visse. Por isso treinava sempre com as meias compridas, bem altas, para tapar a imagem.  

MF – O Lucho chegou em 2005 ao FC Porto. Que memórias guarda desses primeiros dias em Portugal?
LG – Lembro-me de sentir medo. Ia para um país estranho, um clube desconhecido para mim, mas jogar na Europa era um sonho para mim desde sempre. Nunca pensei ter anos tão bons no FC Porto. Os primeiros quatro anos foram sensacionais e no segundo ciclo, de dois anos e meio, também tudo me correu bem. Jamais pensei viver coisas tão bonitas com um clube e uma cidade.

MF – Essa ligação faz com que tenha o objetivo de voltar a viver no Porto?
LG – Sim, claramente. Tenho casa no Porto até hoje e mantenho contactos com várias pessoas no clube. Não podemos adivinhar o futuro, é uma incógnita, mas interessa-me viver no Porto e ficar ligado ao FC Porto de alguma forma. Não tenho dúvidas: quando deixar de jogar quero viver aí. Sempre fui muito bem tratado por todos. Os adeptos tinham um enorme carinho por mim e mesmo nos momentos em que o rendimento não era o melhor essas pessoas não me deixaram cair. Assim é fácil gostar do sítio onde estamos.

MF – Como era a sua vida fora dos relvados aqui no Porto?
LG – Normal, muito tranquila, com muitos passeios nos parques. Andava à vontade nos supermercados, as pessoas sempre foram muito educadas comigo, nunca tive nenhum problema. Sempre fui muito bem tratado nos espaços públicos.

MF – O FC Porto é um dos clubes que leva no coração para sempre?
LG – Sim, completamente. Comecei no Huracán, joguei no River, fui mais feliz do que nunca no FC Porto e tenho um grande carinho pelo Athletico Paranaense. Sou muito bem tratado e sinto-me identificado com o clube. Curitiba faz-me lembrar o Porto, estou aqui há mais de três anos. Diria que esses são os quatro clubes da minha vida.

MF – O Pablo Aimar dizia que nunca olhara para o Lucho como um rival, principalmente pela correção que colocava em campo.
LG – A educação que recebi dos meus pais obriga-me a ser assim. Tento ser correto em tudo o que faço, mas às vezes a jogar o coração bate muito depressa e não é difícil perder a cabeça (risos). Sempre olhei para o Aimar com admiração. Por ser um grande jogador e uma pessoa exemplar. Quando deixar de jogar espero que as pessoas se lembrem de mim dessa forma.  

MF – Apesar dessas palavras do Aimar, os jogos contra o Benfica eram sempre quentes.
LG – Eram os mais quentinhos (risos). Eu adorava jogar contra o Benfica, principalmente na Luz. Aquela atmosfera adversa deixava-me espicaçado. Nunca fiz as contas, mas acho que ganhei mais vezes do que perdi. Era um clássico muito bonito de jogar.

MF – O Lucho viveu contra o Benfica um dos grandes momentos da carreira.
LG – O momento-Kelvin?

MF – Isso mesmo.
LG – Ele entrou para o meu lugar. Foi a melhor substituição do mister Vítor Pereira. Nunca ouvi um golo a ser tão gritado num estádio e nunca houve um golo tão escutado fora do estádio. É um momento que está na história do futebol português.

MF – Disse alguma coisa ao Kelvin quando ele entrou?
LG – Sinceramente, não me lembro. Só me lembro de atravessar o campo atrás dele depois do golo. Sentimos que o título já não fugia. A sorte não nos abandonou aí e em Paços de Ferreira não podíamos perder.