Do Sporting para a II divisão B de Espanha, o percurso de Vítor Silva foi, no mínimo, estranho. Na época 2012/13 era o patrão do meio campo do Paços de Ferreira, no ano em que os castores conseguiram o 3.º lugar na I Liga e disputaram o play-off da Liga dos Campeões com o Zenit.
 
Tinha feito duas grandes épocas com a camisola pacense, as primeiras na I Liga portuguesa, que lhe valeram a transferência para o Sporting. Um ano depois deixou os leões, com quem ainda tinha contrato, e rumou à II divisão B de Espanha, para jogar no Reus, onde está agora pela segunda temporada.
 
Em entrevista ao Maisfutebol, o médio de 31 anos fala dos momentos bons, dos momentos maus, das decisões difíceis, e de um futuro que gostaria que passasse por Portugal.

 


Como está a ser a experiência?
Está a ser boa. A divisão é competitiva e a cidade é um sítio bom para viver. Já estou aqui há um ano e estou a gostar bastante. Tenho a minha mulher e a minha filha, que estão sempre comigo e gostam também de estar aqui. Quando posso vou a Portugal, ou a família vem visitar-me. É perto. De avião não chega a duas horas.
 
Já conhecia a cidade?
Não conhecia absolutamente nada antes de vir para cá. Foi uma boa surpresa. Se não tivesse família e amigos em Portugal, ainda ficava aqui a viver.
 
E o clube?
Pensei que fosse um nível mais baixo em termos competitivos, por ser uma II divisão B, mas tem excelentes jogadores, boas equipas, que gostam de disputar o jogo. Pensei que fosse pior, mas não...
 
Como foi sair do Sporting para a II divisão B espanhola?
Foi muito complicado. A adaptação aqui custou-me um pouco. Vinha do Sporting, de uma realidade completamente diferente. Apesar de, a nível individual, a experiência no Sporting não ter sido o que eu estava à espera, gostei muito de lá estar. Vir depois para a II divisão B de Espanha custou-me...
 
Tinha outras propostas?
Tinha clubes da I Liga em Portugal interessados, mas na altura senti que era o melhor para mim e para a minha família. Não tomei a decisão de ânimo leve. Pensei bastante tempo, mas não me arrependo de ter tomado essa decisão.
 
Como foi a experiência no Sporting? Jogou só cerca de 400 minutos, mas ainda marcou dois golos...
Em relação aos meus objetivos individuais, estava à espera de uma coisa completamente diferente. Esperava fazer muito mais minutos, ter uma preponderância muito maior dentro da equipa, mas não foi isso que aconteceu.

Não posso olhar para isso como um ponto mau. É mais uma experiência e estou bastante agradecido e contente por ter jogado no Sporting. Jogar num grande foi o concretizar de um sonho de criança e o Sporting é um clube especial, tem uma massa associativa fantástica. Não é igual a jogar num clube que normalmente joga para meio da tabela, manutenção, ou num clube que joga para ganhar títulos.
 


O que é que correu mal?

Não sei. Temos de repartir as culpas. Se calhar não estive no nível em que esperava estar, mas talvez também não tivesse tido as oportunidades que poderia ter tido. É um conjunto de fatores... (suspiro) já passou...
 
Saiu triste?
Não. Nem triste com ninguém. Enquanto lá estive trataram-me bem. Foram extremamente profissionais comigo, por isso só tenho a dizer bem do clube.
 
Como foi a relação com o treinador?
Fiz um ano com Leonardo Jardim, e ainda fiz um mês de pré-época com o Marco Silva. A relação com ambos foi profissional, não tenho nada a apontar.
 
Fez amizades no Sporting? Mantém contatos com alguém?
Fiz algumas amizades, dava-me muito bem com as pessoas, tanto com os portugueses, como com os estrangeiros. Falo com o Marcelo [Boeck] de vez em quando, com o Cedric também. Quando acontece algo, falamos para saber se está tudo bem.
 
Entrar em campo pela primeira vez com a camisola do Sporting foi o momento mais especial da carreira?
Não. O momento mais especial da minha carreira foi ter jogado o play-off da Liga dos Campeões pelo Paços de Ferreira e o terceiro lugar no campeonato. É o momento mais marcante e o meu maior orgulho.
 
Arrepende-se de ter saído do P. Ferreira?
De maneira nenhuma. Não sei se estaria melhor, ou não, se tivesse tomado outra decisão. Mas não tenho por que me arrepender.

Sobre a época 2012/13 no P. Ferreira...
Não é fácil explicar o que se passou nessa época. Normalmente sonhamos com uma coisa e, se chegarmos perto, já nos sentimos satisfeitos. Nesse ano, excedemos os nossos próprios sonhos. Conseguir o terceiro lugar num clube como o Paços, é de arrepiar.
 


Qual foi o segredo?
Éramos um grupo fantástico. Não só os jogadores, toda a gente, mesmo. Esse ano foi mesmo um mar de rosas. Juntaram-se as peças todas. Quase todos os jogadores saíram depois para melhor. O treinador também. E a direção continua a fazer um excelente trabalho.

Havia uma grande camaradagem e notava-se dentro de campo, fora, onde quer que estivéssemos... As pessoas eram mesmo muito ligadas, mesmo os que não jogavam com tanta regularidade, estavam 100 por cento com os colegas. E só assim foi possível alcançar o que conseguimos. Sabíamos que era um momento especial.
 
Tem continuado a acompanhar o clube?
Tento saber sempre o que se passa. Enquanto jogador de futebol, marcou-me muito o Paços. Estou muito agradecido. Tem pessoas fantásticas. Aí fiz muitas, muitas, grandes amizades.
 
Como foi jogar o play-off da Liga dos Campeões na Rússia, em casa do Zenit?
A oportunidade de jogar num estádio como aquele, na Liga dos Campeões, foi realmente muito bom. O resultado é que não acompanhou o prazer que estávamos a viver. Era mesmo um sonho e nessa noite não passou disso. Nos pormenores é que se vê quem são os bons jogadores, e eles aí fizeram a diferença. Não há nada a dizer. Eram melhores do que nós e mostraram isso dentro do campo. Mas foi muito bom.
 
Tem 31 anos, está na II divisão B espanhola, teme que em Portugal se esqueçam de si?
Não me preocupa isso, mas acredito que as pessoas se vão esquecendo. Isso é normal e acontece com a generalidade dos jogadores que saem. Ao sair, sabia que corria esse risco.
 
Os planos para o futuro passam por Portugal?
Gostava muito de voltar a Portugal. Só fiz três anos na I Liga, mas foram muito bons. Além do Sporting, os dois anos em que estive no Paços, o clube que me abriu as portas... Adorei lá estar. Acho que estive pouco tempo na I Liga. Pelo que desfrutei, gostava de voltar, mas também sei que é complicado para isso acontecer.