Apelido bem português, nome próprio de outras raízes. Os pais são de Mondim de Basto, mas Dany Mota nasceu no Luxemburgo e foi lá que cresceu para o futebol, antes de vingar em Itália. No último verão, mudou-se para Juventus…Sub23, mas, pelo meio, foi contactado pelo Sporting. Foi já em Turim, aos 21 anos (!), que a Federação Portuguesa de Futebol descobriu este avançado de golo (e de sorriso) fácil. Chegou a tempo de brilhar nos Sub21– três golos em dois jogos. É o que dá treinar ao lado do ídolo…Cristiano Ronaldo.
MaisFutebol- Olá, Dany. Está habituado a dar entrevistas ou nem por isso?
DM - Ui, ultimamente sim. Em Itália não me largam. Televisões, jornais...
MF - Insistem nas comparações com Cristiano Ronaldo? São portugueses, avançados, jogam no mesmo clube, têm marcado golos…
DM - Sim, claro, eu entendo. É tranquilo…
MF- Ok, vamos à conversa então… Quem é o Dany Mota?
DM - É um atacante que gosta de marcar e de ajudar a equipa. É isso que as pessoas devem saber de mim e com o tempo vão conhecer-me melhor.
MF - Nasceu no Luxemburgo, os teus são de Mondim de Basto. Que ligação tem às suas raízes?
DM - Sim, quando posso vou lá a Mondim, porque é muito importante para mim. Este ano ainda não fui, não consegui, mas costumo ir todos os anos. Sinto-me acarinhado pelos meus familiares, e agora, pelo percurso que estou a fazer, sentem-se orgulhosos de mim.
MF - Os seus pais colocaram-lhe algum tipo de pressão para ser futebolista?
DM - Sempre me ajudaram, sempre viram que era eu e a bola (risos). Não havia volta a dar à minha cabeça, mas sempre trabalhei, muitas vezes sozinho, e os meus pais deram-me aquela força a mais.
MF - Cresceu para o futebol num país com poucas tradições desportivas. Isso desmotivou-o em relação ao sonho de chegar à Seleção portuguesa?
DM - Sempre meti na cabeça que podia chegar aqui [sub-21]. Tive oportunidades de jogar na seleção de Luxemburgo, mais isso nunca me interessou. Sabia das qualidades que tinha e isso deu-me tranquilidade para esperar pela primeira convocatória, que acabou por chegar há um mês.
MF - Quando é que a Federação Portuguesa da Futebol descobriu o Dany Mota? Foi apenas no momento em que chegou à Juventus?
DM - Foi de um momento para o outro. Anteriormente, nunca me tinham chamado, nem contatado, por isso acho que foi desde que cheguei à Juventus, uma mudança que acabou por ter mais impacto.
MF - Isso valoriza ainda mais o facto de ser convocado pela primeira vez só para os sub-21, ao contrário dos seus colegas que passaram por outros escalões de formação?
DM - Isso não tem importância, cada um faz o seu percurso, não é porque um começou no Sporting, Benfica ou FC Porto, e eu não, que vejo grandes diferenças. Somos todos um.
MF - Como recebeu a notícia de que tinha sido convocado para os sub-21?
DM - Foi uma notícia bombástica, não estava nada à espera. Tinha esperança, tinha sonhado com isto, mas não estava à espera. Foi o dia mais feliz da minha vida. Penso que todos os portugueses que jogam à bola têm esse sonho de representar a Seleção.
MF - Realisticamente, sempre acreditou? Só foi chamado pela primeira vez aos 21 anos. Não aos 16, nem 17…
DM - Sou forte mentalmente, é uma das minhas principais características. Penso sempre positivo, acho sempre que as coisas podem acontecer de um momento para o outro, com trabalho, sacrifício e calma.
MF - Como é que foi recebido nos sub-21? Houve praxe, alcunha nova?
DM - Não, não, fui muito bem-recebido por todo o staff, pelo Rui Jorge, por todos os jogadores. Sinto-me muito acarinhado.
MF - Agora segue-se a seleção A?
DM - Uf, claro…é o top. Agora é dar continuidade ao trabalho nos sub-21 e depois logo se vê.
MF -Diz-se que tem faltado, nos últimos anos, uma referência ofensiva à Seleção principal. Um “9 puro”. Pode preencher esse espaço no futuro?
DM - A Seleção tem jogadores de categoria, do mais alto nível, por isso não penso que tenha essa necessidade. Eu faço o meu trabalho, o meu percurso, e se tiver oportunidade de chegar mais longe por que não?
MF - Quais são as suas referências no futebol mundial?
DM - Não gosto de me comparar com ninguém. Sou eu e eu. Gosto de fazer o meu percurso, não gosto de imitar alguém ou de querer fazer como alguém. Sou eu, o Dany Mota, e mais nada.
MF - Mas calculo que tenha um ídolo…
DM - Sim, sim, claro. É o Cristiano Ronaldo.
MF -E qual é, para si, o avançado ideal?
DM - O pé esquerdo do Messi, o pé direito do Cristiano e a cabeça do Dany Mota (risos)…
MF - Começou no Luxemburgo e seguiu para Itália. Conte-nos lá melhor o seu percurso…
DM - Sempre joguei no Luxemburgo, no Pétange, até aos 16 anos. Aos 17, fui fazer um teste a Itália, no Virtus Entella, que decidiu comprar-me. Estive lá três anos e meio, consegui destacar-me mais no último ano e chegou a proposta da Juventus…
MF - E como recebeu essa notícia?
DM - Foi o diretor da equipa principal que me ligou e a coisa fez-se… Eu nem acreditava, até liguei para o meu empresário a perguntar se era mesmo para ir para a Juventus, que todos conhecem.
MF - E chega a um clube com dois portugueses: Cristiano Ronaldo e João Cancelo. Foram como pais para si?
DM - Fui contratado para os sub-23, mas comecei logo a treinar com a equipa principal e falei com eles. Deram-me conselhos para aplicar dentro e fora de campo. São pessoas profissionais, ídolos, com quem se aprende muito. O Cristiano, sobretudo, deu-me muita tranquilidade, disse-me para mostrar os meus valores e para desfrutar do momento.
MF - Chegou a formar dupla de ataque com o Cristiano no treino?
DM - Sim, num jogo só de atacantes no treino e correu muito bem.
MF - Quem marcou mais golos?
DM - (risos) Não sei, não sei…
MF - As pernas tremeram?
DM - Um bocadinho, é normal, são os primeiros momentos com o melhor jogador do mundo.
MF - E o que lhe disse Maurizio Sarri [treinador da Juventus]?
DM - Deu-me dois ou três conselhos sobre o meu jogo.
MF - Pode desvendar?
DM - Não, não, são coisas nossas. Mas ainda tenho muito a aprender, ao nível dos movimentos, de dar mais jogo à equipa, pode-se sempre melhorar a todos os níveis.
MF - Como tem sido trabalhar com o Rui Jorge nos sub-21?
DM - Muito bom, ainda não conhecia o estilo de jogo da equipa, mas acho que me adaptei muito rapidamente e agora é aprender com os melhores.
MF - Chegou-se a falar do interesse do Sporting na sua contratação. Pode adiantar mais pormenores?
DM - Houve o interesse, sim, mas nada de concreto.
MF - Mas gostava de jogar em Portugal um dia?
DM - Agora estou concentrado na Juventus e na seleção. A minha cabeça está aqui.
MF – Está feito…
DM – Sim, agora é hora de treinar. Um abraço.