5 de junho de 2000. Na verdade, já era quase dia 6 quando o Maisfutebol finalmente nasceu. Começava uma grande aventura e no princípio estava Rui Costa. O então jogador da Fiorentina e da seleção nacional, de partida para jogar o Euro 2000, fazia manchete nesse primeiro dia, com uma entrevista que já então foi feita também em vídeo. 20 anos mais tarde, Rui Costa volta a associar-se a este momento especial, ele que foi protagonista e espectador privilegiado destas duas décadas, como jogador e como dirigente. Uma grande entrevista, aqui a recordar a ligação eterna a Florença, o primeiro clube de Rui Costa naquele que era então o melhor campeonato do mundo.
- Um dos primeiros grandes exclusivos do Maisfutebol foi o da transferência de Nuno Gomes para a Fiorentina nesse Verão. Foi a tua última época em Florença, numa altura em que já havia problemas sérios no clube. A história de amor estava a chegar ao fim?
- Em 2000 vem o primeiro sinal de problemas, que é a saída do Batistuta, para que a equipa tivesse condições de continuar na Série A. No ano a seguir saio eu e o Toldo, para a Fiorentina aguentar mais um ano. E depois acaba por ser o descalabro. A história de amor não acabou e nunca acabará, foram sete anos de algo que ainda hoje não consigo explicar em termos sentimentais. O que aquela cidade me deu, a forma como fui recebido e apadrinhado, é realmente uma história de amor, por parte de um clube que representa uma cidade apaixonadíssima por futebol, por bons jogadores, e que nesses sete anos me deu tudo. É verdade que depois o Milan, enquanto clube, me deu exatamente as mesmas coisas que a Fiorentina. Mas Florença tem a particularidade de ter sido o meu primeiro destino, fora de Portugal, ainda um garoto à procura de um sonho, sem saber o que aquilo daria.
- Naquele que era então, sem dúvidas, o melhor campeonato do Mundo…
- Na minha ida em 1994, apesar de toda a minha ambição e confiança, eu tinha o receio de não conseguir impor-me num campeonato que tinha uma panóplia impressionante dos melhores jogadores do Mundo. Era rara a Bola de Ouro que não caía em Itália nesses tempos. Por isso havia esse receio, mas a caminhada foi de sonho. E aquilo que Florença me deu – eu falo muito da Fiorentina, mas gosto ainda mais de falar da cidade – acabou de fazer de mim um jogador e um homem.
- Mas quem via de fora tinha a sensação de que faltaram títulos a essa história de amor. A saída para o Milan é em 2001, mas muitos diziam que devias ter saído antes.
- Faltaram mais títulos (N.R.: duas Taças e uma Supertaça), é verdade. E não posso esconder que ambicionava jogar num clube onde pudesse lutar pela Liga dos Campeões, como aconteceu em Milão. Mas estou convencido de que se a Fiorentina não tivesse caído na desgraça em que acabou por cair, eu se calhar tinha feito o resto da carreira toda lá. Em 2000, quando o Bati sai, há o alerta sobre os problemas financeiros, temos ali um par de meses em que não recebemos, o mercado já é diferente dos anos anteriores e salvou-me o facto de o Nuno ter ido para o lugar do Batistuta. Para mim, em termos pessoais foi mais um estímulo. Era a primeira vez que em Itália tinha um colega de equipa português, um rapaz que estava a iniciar uma carreira fantástica e com o qual criei também uma ligação fantásticas. Foi o que trouxe de melhor esse último ano em Florença, no qual acabámos por ganhar a Taça.