Emprestado ao Coritiba até ao final de junho, Mattheus Oliveira recorda em entrevista ao Maisfutebol os primeiros dias em Portugal e o momento em que trocou o Estoril-Praia pelo Sporting. Tudo (quase tudo) por culpa de uma grande exibição no Estádio da Luz. 

O médio brasileiro - cidadão português - tem 26 anos, recupera de uma lesão muscular e explica também que o nascimento da filha Aya e a companhia da família foram determinantes para ter escolhido voltar ao Brasil nesta fase da sua carreira. 
   

PARTE I: «O Ruben Amorim deu-me esperanças, mas acabei por não jogar» 

PARTE II: «O Jorge Jesus disse-me que estava satisfeitíssimo comigo»

Maisfutebol – Como tem corrido o regresso ao futebol brasileiro?

Mattheus Oliveira – Estava a ser ótimo, até me lesionar. Fiz uma lesão muscular de grau 2 e estou na fase final da recuperação. Estava a sentir-me bem, estiquei muito a perna e senti uma fisgada. Quero voltar rapidamente, treinar com o grupo e fazer ainda mais dois meses e meio de bom nível. Nunca tive lesões. Em Portugal nunca fiquei mais de um jogo de fora por problemas físicos. Acredito que a mudança de campeonato, de hábitos e de clima acabaram por contribuir para a minha lesão.

MF – O campeonato acabou e continuaram a treinar, nem férias houve.

MO – Isso mesmo, os calendários foram todos alterados por causa da pandemia e muitos colegas têm sofrido lesões musculares também. A tendência é piorar porque ninguém aguenta fazer 50 ou 60 jogos sem descanso. Treinos, viagens, jogos, enfim, é muito complicado. Para o corpo humano é uma exigência violenta, mas é importante dizer que eu percebo todas estas alterações. Temos de respeitar e ter todos os cuidados que este vírus justifica.

MF – Esteve mais de um ano sem competir em Portugal. Foi isso que o fez voltar ao Brasil?

MO – Quando saí do Sporting disse que tinha de voltar para perto da família. Estava há seis anos longe de casa. É muita coisa. Juntei as duas coisas: a possibilidade de jogar e a proximidade com a família. Estamos agora a disputar a Taça do Brasil e o campeonato estadual.

MF – O seu empréstimo vai até 30 de junho. Conta voltar ainda ao Sporting?

MO – Falta algum tempo e quero ajudar o Coritiba. Depois tenho mais um ano de contrato com o Sporting. Se o Coritiba não exercer a opção de compra, creio que terei de me apresentar em Alcochete. Estou tranquilo, a aproveitar o presente e as coisas acontecerão naturalmente. O futuro não depende só de mim. Eu quero fazer jogos, golos e assistências. Fui muito feliz em Portugal, sou cidadão português, é a minha segunda casa e joguei em três grandes clubes: Estoril, Sporting e Vitória. Nunca vou descartar Portugal, sinto-me muito honrado por ter jogado aí e ficaria satisfeito se pudesse voltar. Jamais fecharei a porta a Portugal. Amo esse país, a minha esposa também, sentimo-nos em casa. Digo sempre aos meus colegas: ‘se puder ir para Portugal, não hesite e vá’.

MF – O Mattheus veio para Portugal em janeiro de 2015. Ainda se lembra do momento em que decidiu jogar cá?

MO – Tinha 19 anos, era muito jovem e estava há muitos anos no Flamengo. Podia ter ido antes para Itália, mas achei que era muito cedo. Em 2015, uma pessoa do Flamengo falou comigo, disse que o tinham procurado e aconselhou-me a aceitar. O Estoril tinha jogado a Liga Europa, era um clube bem organizado, a cidade era magnífica e, depois de falar com a minha família, aceitei. Eu queria ir para a Europa e desvincular-me do nome do meu pai [Bebeto], porque no Brasil as comparações não paravam. ‘Ah, se jogar dez por cento do pai já é bom’. Chateava-me um bocado. Agora já encaro isso bem, mas quando somos mais novos não é fácil. Ainda bem que fui, o casamento foi ótimo e guardo lembranças incríveis do ‘Mágico Estoril’. Seria uma ingratidão não falar bem do Estoril, o clube que me abriu as portas da Europa. Fui muito feliz lá e foi lá que consegui sair para o Sporting.

MF – Há uma exibição marcante do Mattheus Oliveira, no Estádio da Luz. O Benfica venceu por 2-1, mas o Estoril mostrou grande qualidade.

MO – Precisava de fazer um grande jogo num palco desses para subir um degrau na minha carreira. O treinador era o Pedro Emanuel, uma pessoa muito importante na minha passagem por Portugal. Ele mudou muito as minhas características. Esse Estoril jogava sempre da mesma forma, até contra os grandes. Posse de bola, qualidade, grandes jogadores do ponto de vista técnico. Abraçámos a ideia do Pedro Emanuel e fizemos muito bons. Aliás, na Taça de Portugal fomos eliminados pelo Benfica nas meias-finais e isso ainda me está engasgado. No primeiro jogo o golo marcado estava completamente em fora-de-jogo [Mitroglou] e na segunda-mão empatámos 3-3. Esse golo impediu-nos de ir à final. Eu até falei no final do jogo, um pouco nervoso, e até disse que o árbitro tinha de ter anulado esse golo (risos). E o jogo na Luz, para o campeonato, foi determinante para a minha ida para o Sporting.

MF – Foi contratado depois desse jogo?

MO – Nunca contei essa história, mas antes do jogo o Pedro Emanuel chamou-me para falar no hall do hotel e disse-me que o Sporting estava interessado em mim. ‘Hoje é um jogo perfeito para você mostrar que não é só um bom jogador e é um grande jogador para uma equipa grande’. Fiz uma grande exibição e no dia a seguir o meu empresário ligou-me. Disse-me que tinha uma proposta do Sporting e que eu tinha sido um pedido do Jorge Jesus. Por isso assinei contrato. Aliás, ele estava na primeira reunião que tive no clube. Esse jogo contra o Benfica foi um divisor de águas no meu percurso.