Dez anos de ligação ao FC Porto, um palmarés riquíssimo e só 20 anos de idade. Diogo Queirós é um jovem defesa central carregado de maturidade, habituado a ganhar e a liderar. Campeão da Europa de Sub17 e Sub19 por Portugal, vencedor da UEFA Youth League pelo FC Porto, óbvio candidato a pilar da defesa azul e branca «num futuro próximo». 

O Maisfutebol apanha-o em Mouscron, depois de mais um treino e já instalado na casa nova. Na primeira divisão belga, emprestado pelo FC Porto, Diogo leva já quatro jogos oficiais e um golo. O empréstimo não contempla qualquer opção de compra e o regresso ao Dragão está marcado para o final da época. 

«O Sérgio Conceição disse-me que nos voltaríamos a encontrar». 

Diogo com Simão Coutinho, empresário e amigo, no Mouscron

Maisfutebol - Porquê o Mouscron para esta fase da sua carreira?

Diogo Queirós – Tinha algumas propostas, mas o Mouscron foi o clube que me deu mais garantias. Ou seja, percebi que tinha fortes possibilidades de jogar regularmente aqui e nesta altura o que mais quero é minutos de competição.

MF – Onde coloca o Mouscron dentro da hierarquia do futebol belga?

DQ – Pertence aos seis melhores. Vamos tentar estar no play-off seguinte, aquele que dará acesso ao título nacional e à qualificação para as provas europeias.

MF – O estádio tem capacidade para dez mil espetadores. A atmosfera é bom?

DQ – Atrás de uma das balizas está a claque e há grande entusiasmo. Costuma estar muita gente nos jogos, isso agrada-me bastante. Claro que o FC Porto tem outra dimensão, maior, mas estou contente com esta opção. A cidade podia ser um bocadinho melhor, ah ah ah, mas por acaso a minha casa até fica numa cidade ao lado de Mouscron, Kortrijk. É mais moderna e interessante. O que mais me surpreendeu foi o nível do campeonato. É muito intenso e competitivo. Temos de correr e batalhar muito, é um bocado o estilo da II Liga portuguesa, mas com muito mais qualidade. Exige concentração, há muitos duelos aéreos, está a puxar por mim.

MF – Depois de duas épocas na II Liga, a liga belga acaba por ser uma opção adequada?

DQ – Senti que tinha de jogar, ganhar experiência, ter intensidade de jogo. E estou a ter isso aqui. Em Portugal há quatroc/cinco clubes de muito bom nível, mas aqui a liga é mais equilibrada. Ainda há pouco tempo jogámos contra o último, o Beveren, e tivemos de lutar muito para empatar num estádio cheio. Em Portugal, um Paços-Moreirense nunca enche. Nesse aspeto, a liga belga é melhor.

MF – Aí no plantel está o Hocko, ex-Famalicão. Têm falado sobre o líder surpresa da liga portuguesa?

DQ – Sim, sim. Ele vira-se para mim e diz ‘Já viste o Famalicão? Está mesmo bem’. Ainda lhe disse que podia ser a sorte dos primeiros jogos, mas depois da vitória em Alvalade… vamos ver até onde chegam.

MF – O seu treinador disse que o Diogo teve resultados históricos nos testes físicos. Sabia que estava tão bem fisicamente?

DQ –
Bem, primeiro tenho de dizer que foram os testes médicos mais longos da minha vida. Seis horas no hospital. Durantes os testes eles só me diziam ‘perfect, perfect, continue, continue’. Percebi que os resultados eram bons, ah ah ah. Eu sentia-me muito bem porque fiz a pré-época toda no FC Porto e foi muito exigente. Custou muito, mas deu frutos e sinto que estou em grande forma.

Diogo com o troféu de campeão da Europa de Sub19

MF – É a primeira vez que está no estrangeiro. Como é a sua vida aí em Mouscron?

DQ –
Já tenho casa há uma semana, mas antes estava num hotel em Mouscron. Não se passava grande coisa. Estou naquela fase de transição, a tratar da papelada toda, dias atarefados. Já tenho um lugar para estar tranquilo e isso é o mais importante. Os meus pais e a minha namorada vêm ter comigo aos fins-de-semana, porque trabalham em Portugal. Tenho de me safar na cozinha e safo-me bem. Cozinho bem.

MF – Falou aí da sua família. Como foram os primeiros anos da sua vida?

DQ –
Nasci no Hospital Pedro Hispano, na Senhora da Hora, e vivi sempre em Matosinhos. A minha mãe é professora de Educação Física e o meu pai trabalha numa agência de viagens. Tenho um irmão de dez anos que joga no Salgueiros e uma irmã. Comecei a ir com o meu avô jogar à bola para um parque aqui perto de casa e o gosto pelo futebol nasceu assim. Depois, aos seis anos, fui jogar para as escolinhas do Leixões. Os meus pais viram que eu gostava e apoiaram sempre.

MF – Tinha o sonho de ser futebolista ou isso surge muito mais tarde?

DQ –
Não, não, sinceramente nem via muita qualidade em mim e achava que muito dificilmente sairia alguma coisa de jeito, ah ah ah. Não via nada de especial no meu jogo.

MF – Mas os responsáveis do FC Porto discordaram de si. E contrataram-no.

DQ –
Mas só à terceira é que consegui lá entrar, ah ah ah. Fui duas vezes às captações e nunca fiquei. Curiosamente, no terceiro ano foi o FC Porto que abordou o meu pai. Era muita gente nos treinos e senti que era quase impossível conseguir entrar no clube através das captações. Correu bem.  

MF – Sempre conseguiu conciliar a escola com as obrigações desportivas?

DQ –
Até aos 18 anos, sim. Completei o secundário, entrei na faculdade e depois as coisas complicaram-se. Interrompi os estudos, mas no futuro quero concluir a licenciatura e ter esse plano B. A minha primeira opção era fisioterapia. Sempre gostei muito de compreender e estudar o corpo humano, mas senti que para ser médico tinha de estudar demasiado, eh eh eh. Enfermeiro? A mesma coisa. Por isso achei que a fisioterapia me podia fascinar. Infelizmente, havia disciplinas que tinha obrigatoriamente de frequentar e acabei por mudar para osteopatia.
 

No Leixões: Diogo Leite (segundo a contar da esquerda) e Diogo Queirós (o quarto) na fila de cima

MF –  Voltemos ao futebol. Tem 20 anos, várias internacionalizações nas seleções jovens, dez épocas de ligação ao FC Porto. Tem dado os passos certos?

DQ –
Tenho dado passos pensados, sempre. As pessoas têm acreditado em mim e felizmente já atingi algumas coisas bonitas.

MF – O empréstimo sem opção de compra é mais um exemplo dessa crença?

DQ –
Acho que sim. É bom saber que o FC Porto não me quer deixar sair. Infelizmente não fiquei no plantel, mas quero fazer uma grande temporada e voltar. Não sou o presente, mas sou um futuro muito próximo. No próximo ano tudo farei para ficar e jogar no FC Porto.

MF – Sentia-se preparado para ficar já este ano no FC Porto?

DQ –
O meu desejo era esse. Ficar e jogar. Mas queria ter minutos e percebi que não seria possível no FC Porto. Tenho jogado bastante no Mouscron e foi uma boa opção. Sei que os responsáveis do FC Porto estão atentos e seguem o que faço.

MF – Na hora de saída, o Sérgio Conceição fez-lhe algum pedido?

DQ –
Ele disse-me que eu precisava de jogar e que acreditava em mim. Disse-me que eu era uma aposta para um futuro muito próximo, desejou-me boa sorte e que nos encontraríamos outra vez.

MF – Que ensinamentos retirou da pré-temporada com o FC Porto?

DQ –
Foi um mês muito, muito duro. Mas criámos uma enorme união de grupo. Nesse mês estamos mais tempo com os colegas do que com a nossa família. Foi a minha estreia na equipa A e sinto que estou ainda mais preparado.

MF – O Diogo Leite já o acompanha desde os tempos do Leixões. É o seu melhor amigo no FC Porto?

DQ –
É, é um velho amigo. Curiosamente, ele no Leixões jogava noutra posição, não fazia dupla de centrais comigo.

MF – Então?

DQ –
O Diogo Leite era avançado. Há uma cumplicidade grande entre nós, são muitos anos. Damo-nos muito bem, a ligação é ótima. Somos diferentes em muitas coisas e por isso fazemos uma grande dupla. Completamo-nos e temos tido excelentes resultados. Antes de cada jogo dizemos sempre um ao outro: ‘zero golos, zero golos’. Os outros não podem marcar.

MF – Mandou-lhe alguma mensagem depois do golo dele ao Santa Clara?

DQ –
Sim, sim, tinha de ser. Por acaso não vi o jogo, porque o Mouscron jogou à mesma hora, mas vi o resumo. O Diogo sempre foi forte no ar, fiquei feliz por ele.

Diogo Leite e Diogo Queirós, irmãos de armas

MF – Além do Diogo Leite, ainda há o Diogo Costa, o Romário Baró e o Fábio Silva, todos seus colegas da formação.

DQ –
Com o Diogo Costa já tenho uma velha parceria. Entrámos no FC Porto exatamente no mesmo ano. Tem muito potencial e um grande futuro. Joga numa posição ingrata, vai ter de esperar. Mas quando tiver uma oportunidade, acho que vai agarrá-la. O Romário e o Fábio apanhei-os mais recentemente e estão a fazer um bom início de época. Estou com eles.

MF – Temos de falar do Pepe e do Marcano.

DQ –
Falei muito com o Pepe, ouvi muitas histórias dele e aprendi com os dois. Histórias? Isso não posso contar, ah ah ah.

MF – O João Félix também foi seu colega na formação.

DQ –
Foi, tinha muita qualidade. Era dotado tecnicamente e tínhamos treinos específicos para os jogadores que o clube achava que tinham mais qualidade. O João estava lá sempre. Depois, o FC Porto achou que o João não tinha capacidades físicas, de altura e força, para estar melhor. Mas ele melhorou e está diferente.

MF – Além do Sérgio Conceição, o Diogo já foi treinado por muita gente com forte ligação ao FC Porto: Rui Barros, Folha, Mário Silva, Bino. Quem foi o seu melhor treinador?

DQ –
Gostei de trabalhar com todos, mas gostava de salientar o Hélio Sousa, foi ele o que mais me marcou. Foram muitos anos, muitas conquistas, adorei ter sido treinado por ele nas seleções. Ele pegou na nossa geração nos Sub16 e acompanhou-nos até ao ano passado. Marcaram-me os ensinamentos passados, as histórias, as propostas que fazia nos treinos e que colocávamos depois em campo.

MF – O FC Porto começou mal a época, com derrotas em Barcelos e contra o Krasnodar. O Diogo ainda estava no plantel nessa altura.

DQ –
Há jogos em que sentimos que não devíamos ter saído de casa e foi isso que sentimos na primeira parte contra o Krasnodar. Todos disseram que o Porto jogou mal, mas na segunda parte sufocámos o adversário. Se houvesse mais cinco minutos, se calhar, até passávamos.

MF – Como estava o ambiente no balneário no dia a seguir?

DQ –
Quando se perde no FC Porto, o ambiente nunca é bom. Nunca. Estamos habituados a ganhar. Mas, enfim, depois tudo passa e metemos a cabeça no próximo jogo. O mister Conceição representa bem os pilares que sustentam o clube e não deixa ninguém adormecer.