*Enviado-especial ao Brasil

Jorge Campos, 47 anos, aquele que para a memória dos Mundiais será o guarda-redes das camisolas extravagantes, está no Brasil, como comentador da TV Azteca.

Esteve em três Mundiais (1994, 1998 e 2002, aí como suplente) e tal como agora, o México foi sempre eliminado nos oitavos.

Excelente com os pés, também podia atuar como jogador de campo. Baixo, magro e ágil, desmentiu a ideia de que os guarda-redes tinham de ser atléticos.

Falou em exclusivo ao
Maisfutebol depois de trocar um caloroso abraço com Roberto Carlos, outro comentador ilustre de TV no Brasil, o brasileiro para a Globo.

Na análise ao Mundial dos guarda-redes, escolhe um deles para melhor jogador do Campeonato do Mundo: o alemão Manuel Neuer. Lamenta que se tenha repetido o filme de sempre para o México, diz que o Brasil viu o verdadeiro Herrera, que teve «problemas de adaptação» no FC Porto, e fala do Alemanha-Brasil, «um daqueles jogos que vão ser falados muito depois de todos os que o viram terem desaparecido».

Que balanço faz deste Mundial?

Um Mundial excelente, diferente, muito especial e com muitas coisas inesperadas. Por ser onde é e pelo que foi acontecendo nos jogos, teve tudo aquilo que os adeptos querem: surpresas, emoções fortes e grandes espectáculos.

O México esteve quase a afastar a Holanda...

É sempre a mesma coisa, passamos a primeira fase e caímos logo a seguir. Começa a ser um hábito, e mais do que as queixas sobre alguns lances de jogo, acredito que nos falta algo. Estamos perto, a cada Mundial parece que ficamos ainda mais perto, mas o futebol tem muitas voltas e acaba sempre por furar-nos as contas.

Como viu o Mundial de Hector Herrera?

Para mim, Herrera fez um excelente Mundial, mostrou tudo aquilo que tem e que sabe fazer. Acima de tudo jogou com muita confiança e contribuiu muito para o bom desempenho da nossa equipa. Com a confiança que recebeu do técnico está muito mais solto, é um jogador que sabe guardar a bola, tem chegado à área e corre o tempo todo. Eu sei que teve alguns problemas de adaptação no Porto, mas este é o verdadeiro Herrera, aquele que nos habituámos a ver no México.

Temos visto guarda-redes brilhantes neste Mundial. Navas, Howard, Ochoa, Courtois, Neuer. Qual é o melhor?

Este é um Mundial de guarda-redes, sem dúvida. nas últimas edições estávamos habituados a que dois ou três dessem nas vistas e os outros fossem discretos. Mas neste, parece que todas as equipas têm guarda-redes capazes de brilhar, e acabam por fazê-lo, num jogo ou noutro. Por mim, acho que se devia dar o prémio de melhor jogador do Mundial a Neuer, por tudo o que já fez até aqui. É talvez o mais completo de todos, embora Navas também tenha feito um torneio fantástico, com defesas impressionantes. Mas sou da opinião de que, quanto mais se avança, mais exigentes são os jogos para os guarda-redes, e por isso fico com Neuer, que já garantiu a final.

Este prepara-se para ser o Mundial com mais golos de sempre. Mais erros defensivos ou por mérito?

É mérito, é espetáculo, são grandes jogadores, não vale a pena estar à procura de falhas defensivas. Mais vale ajeitarmos a cadeira e apreciarmos.

Consegue explicar os 7-1 da Alemanha ao Brasil?

Não sei como se pode explicar, e não estou sozinho. O mundo inteiro está em choque. Este é um resultado que muda tudo o que julgávamos possível no futebol. A Alemanha é uma grande equipa, sem dúvida, mas que tenha marcado sete acaba com todas as previsões e a lógica. Este é um daqueles jogos que vão ser falados muito depois de todos os que o viram terem desaparecido.

Que sente um guarda-redes ao ser goleado dessa maneira?

Nem mais nem menos do que um jogador de campo, todos os jogadores sentem o mesmo. Sempre achei que nós guarda-redes devíamos ser vistos como os outros. Todos eles devem sentir-se tristes, e acho lamentável o que aconteceu, nenhum profissional pode ficar bem consigo depois de uma coisa daquelas, mesmo que não tenha cometido qualquer erro direto.