Rafael Ramos chegou ao Orlando City em agosto de 2014, procedente do Benfica, depois de perceber que não teria lugar na equipa B em 2014/2015, na qual era suplente de Nelson Semedo.

Por isso, aos 19 anos [agora tem 20], o lateral direito português aceitou aventurar-se na MLS, uma liga muito atrativa para… final de carreira.

David Beckham, David Villa, Frank Lampard, Robbie Keane, Thierry Henry ou Kaká são alguns dos craques que decidiram rumar ao futebol do outro lado do Atlântico antes de arrumarem definitivamente as botas.

Rafael Ramos tem noção disso, mas à conversa com o Maisfutebol disse que não se sente «a começar pelo fim» até porque, entre outras coisas, joga ao lado de Kaká com quem tem aprendido muito e o desejo é regressar a Portugal ou a uma Liga europeia a médio-curto prazo.

«A Liga norte-americana está a surpreender-me muito. Pensei que o nível era mais baixo, mas ao longo do tempo tem melhorado e superado os níveis a que estava à espera. A experiência está a correr muito bem. O primeiro ano foi mais de adaptação, mas neste joguei vários minutos. O treinador acredita em mim e tem apostado em mim.»

«Vir para aqui foi uma excelente alternativa, estou muito satisfeito por ter optado pela MLS. Tomaria esta decisão de novo.»



As diferenças com a Liga portuguesa são muitas, mas experimentar outro futebol tem sido positivo: «Em Portugal o futebol é mais tático e nos EUA é mais físico, não privilegia tanto a tática, a técnica e a organização. As equipas têm jogadores muito rápidos e fortes e apostam nisso.»

«Essas diferenças têm-me ajudado a crescer», justificou, relembrando também a diversidade de nacionalidades na equipa na qual há, entre a maioria de norte-americanos, franceses, espanhóis, colombianos: «Isso é ótimo. Traz experiência de vários países e de diferentes maneiras de jogar.»

A falar a língua de Camões, há mais três jogadores: o português Estrela, também ex-Benfica, e os brasileiros Kaká e Pedro Ribeiro. «Esses são aqueles com quem passo mais tempo e que me ajudam mais.»

A surpresa, ou não, é que há que destacar Kaká. «Estou longe do meu país e ele sempre me ajudou em tudo. Damo-nos muito bem, não só dentro de campo, como fora. Tenho aprendido muito com ele. Já o seguia como jogador e admirava-o, agora adoro-o. Jogar ao lado dele é um sonho.»

Um sonho e uma mais-valia, ainda que ao início fosse estranho passar-lhe a bola. «Sentia muita responsabilidade, mas agora já estou habituado. É mais um de nós e as coisas fluem naturalmente», admitiu.

Nesse sentido, Rafael Ramos recordou o pior momento que viveu com a camisola do Orlando City: «Tinha acabado de ser expulso pela primeira vez, estava revoltado e ele foi o primeiro a vir ter comigo e a acalmar-me. Como sou jovem ainda não consigo controlar muito bem as minhas reações e não reagi bem. Ele chegou ao pé de mim, falou comigo e acalmou-me. Depois disse-me como devo reagir nestas situações.»

Kaká tem sempre o dom da palavra. Foi assim também no dia em que se conheceram, no dia em que a equipa fazia exames médicos e Rafael Ramos foi surpreendido pelo craque brasileiro.

«Fiquei a olhar para ele admirado, sem saber o que dizer. Fui fazer os exames e ele era a seguir a mim. Falou logo comigo e perguntou-me se eu era um dos jogadores que vinha do Benfica. Já sabia muito sobre mim, mas ainda não me conhecia pessoalmente. Claro que isso me surpreendeu e me deixou feliz.»



No entanto, apesar de estar a viver uma realidade nunca sonhada, o desejo de Rafael Ramos, formado no Sporting e no Benfica, é regressar ao Velho Continente e, de preferência, a Portugal.

«Não sei se volto, mas adorava voltar se fosse possível. Neste momento a minha vida é nos EUA. Estou a adorar e a dar o meu melhor e espero, quando acabar o contrato, ou antes, dar o salto para a Europa e para uma equipa boa. Gostava de jogar em Portugal pela proximidade com a minha família, mas também adorava jogar em Espanha ou Inglaterra pelas ligas em si.»

E em Portugal, Sporting ou Benfica?

«São casas a que adorava voltar, sim. Não guardo rancor ao Sporting. Saí do clube numa situação normal. Adorei fazer lá a formação e ter ao meu dispor tudo de melhor para evoluir. Mas o Benfica também é especial, foi o último clube onde estive e adorava presentá-lo na a equipa principal. Não sei para onde vou daqui a um, dois ou três anos, mas gostava de voltar.»

Enquanto isso não acontece, o jogador, que se identifica na maneira de jogar com Marcelo do Real Madrid, continua a espreitar a Seleção. Até ao momento conta com uma internacionalização nos sub-19 e duas nos sub-20, mantendo a esperança de que Rui Jorge o chame aos sub-21.

«Trabalho para dar o melhor no clube, mas claro que também para ser chamado à Seleção. Não me sinto prejudicado pela distância. Acredito que acompanhem o meu trabalho. Quando estava no Benfica fui sendo chamado e acredito que não tenham riscado o meu nome. Estar aqui e estar a crescer, também faz com que estejam atentos.»