Na primeira entrevista depois da eliminação da Seleção Nacional do Campeonato do Mundo, Paulo Bento aceitou explicar o que correu mal no Brasil e aceitou falar do futuro imediato, que começa já em setembro com o início da fase de apuramento para o Europeu de 2016. Raramente admitiu erros, disse que a principal falha foi mesmo com a Alemanha e não teve problemas em falar de renovação da equipa, ainda que sem afastar automaticamente jogadores meramente pelo critério da idade.

Perante Joaquim Sousa Martins e Cláudia Lopes, na TVI24, o selecionador nacional não precisou de esperar 48 horas desde que aterrou em Portugal para passar a explicar o que levou à eliminação da Copa. Falou da lesão de Ronaldo, do fisioterapeuta do Real Madrid, de Quaresma, de William Carvalho, do clima e até da caça ao bufo.

Para Paulo Bento o grande problema esteve no jogo com a Alemanha, pela volume da derrota, pela forma como a equipa não conseguiu recuperar de um duro revés a tempo de vencer os Estados Unidos. A expulsão de Pepe (um jogador-chave na estratégia do treinador, pela rapidez e saída a jogar), as lesões, os golos madrugadores, o penalti não marcado sobre Éder, os 4-0 que tornavam o apuramento mais difícil.

«O jogo com a Alemanha deixou uma marca negativa que não nos permitiu uma reação consentânea que nos permitisse chegar ao objetivo. Não foi só a questão da derrota, dos números, mas o porquê da derrota, e isso teve consequência no jogo com os Estados Unidos», referiu, acrescentando: «Quem tinha de curar essa derrota era eu.»

E não conseguiu. Obrigado a mexer na equipa contra os Estados Unidos, perante as lesões de Rui Patrício, Fábio Coentrão e Hugo Almeida, às quais juntou a expulsão de Pepe, optou por manter o meio-campo, mesmo que Raul Meireles e Miguel Veloso estivesse em plano negativo. Com muitas mexidas na defesa, optou sempre pelo conservadorismo das escolhas, embora a realidade dos factos o forçassem a mudar também durante o jogo com os americanos, primeiro pela lesão de Hélder Postiga (entrou Éder) e depois de André Almeida (entrou William Carvalho e Miguel Veloso foi para o lado esquerdo da defesa).

A Seleção não conseguiu mais do que um empate, mas para Paulo Bento isso não aconteceu por causa da temperatura ou da humidade. A defesa da escolha de Campinas como local de estágio, assim como a passagem pelos Estados Unidos, continuou até ao fim. O selecionador acha que fez as escolhas certas: «Não acho que Portugal tenha perdido com a Alemanha ou empatado com os Estados Unidos pelo clima. Não me parece que possamos relacionar tudo o que tenha a ver com resultados com uma situação que tem a ver com temperatura e humidade. Há outros erros tecnico-táticos. Não deixámos de cometer erros nos golos dos Estados Unidos e isso não tem a ver com o clima. Não conseguimos ser competentes o suficiente».

Ronaldo e mais Ronaldo

Antes da renovação ainda alguns aspetos que suscitaram polémica durante o Mundial. Desde logo as lesões e o tal conceito introduzido pelo médico Henrique Jones: «índice de suspeição lesional».

Paulo Bento esclareceu que os jogadores que tinha maior risco eram Éder, Postiga, Vieirinha e Ronaldo, mas como se encontravam aptos o selecionador acabou por levá-los. Postiga terá sido o mais polémico, dado que poucos jogos fez na época e no Mundial acabou por apresentar queixas nos primeiros minutos do jogo com o Gana.

Quanto a Vieirinha, o selecionador acrescentou um pormenor picante, explicando que o extremo integrou os 23 porque fez parte da fase de apuramento e também porque defendia melhor do que Quaresma. Como a Seleção já tem um extremo que não defende (Ronaldo), a opção foi não ter outro jogador com as mesmas características, optando-se por quem dava mais garantias em todas as fases.

E a renovação…

Sem grandes opções para vários setores, até pela idade de certos jogadores, Paulo Bento esclarece que nunca admitiu colocar Cristiano Ronaldo sozinho na frente de ataque. «Não me passa pela cabeça colocar Ronaldo como único ponta-de-lança desde o início. Não acho que seja o melhor para o rendimento dele ou da Seleção. Não me parece que se sinta confortável nessa posição, mas nem foi preciso dizer-me isso», frisou. 

O selecionador vai continuar a contar com o melhor jogador do mundo, mas sabe que é preciso recrutar novos nomes. Não o vai fazer, porém, a expensas dos mais velhos, e assegura mesmo que o critério nunca será a idade. «Vamos perspetivar jogadores novos, mas não significa que venha a negar a possibilidade aos que estiveram no Mundial e que vão continuar a lutar por um lugar na seleção. Se tiver de deixar de fora alguém que esteve no Brasil em busca de outras soluções será porque outros estão melhor», assegurou, piscando já um olho à geração que está a sair dos sub-21. 

«A renovação vai ser progressiva», avisa, nunca se esquecendo da dedicação dos que tudo deram pela Seleção Nacional.

Ciente do trabalho que tem pela frente, Paulo Bento não atira a toalha ao chão e por isso não colocou o lugar à disposição do presidente Fernando Gomes. «Eu não me demito. É o sentimento que tenho comigo e que tenho definido com a FPF e o seu presidente. Sinto capacidades para fazer a transição e estarmos no Euro 2016», vincou.

Sem medo do futuro e com respeito pelo passado, o selecionador diz ter tempo para pensar, observar, perceber as falhas e começar a delinear a estratégia para atacar o apuramento para o Campeonato da Europa de 2016. O primeiro jogo é a 7 de setembro, com a Albânia, e muito irá acontecer até à próxima convocatória.

Pode ver a entrevista na íntegra online aqui.