60 jogos no Benfica, mais 98 pelo Sporting. Bruno César faz parte da restrita lista de atletas capazes de abrir o currículo e ler os nomes dos dois grandes de Lisboa. Qual a diferença entre águias e leões? Qual dos dois lhe deu mais prazer representar? O internacional brasileiro de 32 anos, reforço-surpresa do Penafiel para 2020/21, responde a tudo nesta grande entrevista ao Maisfutebol

Bruno fala ainda sobre o dia da invasão à Academia de Alcochete em 2018, da frustração pela não conquista de um único campeonato nacional e recorda os mediáticos golos ao Real Madrid, à Juventus e ao Borussia Dortmund, todos ao serviço do Sporting Clube de Portugal. 


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Maisfutebol – Faz parte do grupo de jogadores que esteve no Benfica e no Sporting. Quais as maiores diferenças entre os dois clubes?
Bruno César – A grandeza dos clubes não pode ser colocada em causa, são dois grandes clubes de Portugal e da Europa. O que faz hoje a diferença é a quantidade de títulos. Se o Sporting tivesse ganho quatro ou cinco títulos nos últimos 18 anos, isso mudaria esse cenário. O Sporting tem uma grandeza enorme por tudo o que já conquistou, mas o Benfica tem ganho mais vezes. Quando não ganhava o Benfica, ganhava o FC Porto. Se o Sporting se tivesse intrometido nesta luta, tudo seria diferente. A grandeza de ambos não está em causa. O que está em causa é a falta de títulos no Sporting.

O Bruno não foi campeão nem na Luz nem em Alvalade. Qual foi o título que mais lhe custou perder?
Só ganhei taças, sim. O que mais me custou perder foi o do Sporting em 2016. Eu cheguei em janeiro e tínhamos um bom avanço. Não ganhámos ao Benfica em casa, eles passaram para a frente e esse ano deixou-me muito frustrado. Pela forma como foi, porque chegámos a ter sete pontos de avanço. Ficámos nove jornadas seguidas sem perder pontos e mesmo assim não deu. Fizemos grandes exibições, fomos ganhar ao Dragão, ganhámos ao Sp. Braga por 4-0 na última jornada. Marcou-me muito a receção em Alvalade, no fim da época. Fiquei marcado e chateado. Ver aqueles adeptos todos a bater palmas, mesmo com a perda do título. Foi frustrante, ficámos a dois pontos deles no fim. O Jorge Jesus disse-nos que nenhuma equipa seria vice-campeã com 86 pontos, isso é pontuação de equipa campeã. É o futebol, é assim.

Foi mais feliz a jogar pelo Sporting ou pelo Benfica?
Identifiquei-me mais com o Sporting. Tive três anos e mais algum tempo de uma ligação forte. Custou-me bastante ter saído do Sporting. Eu não queria sair, mas precisava de sair. Não estava a jogar, voltei de uma lesão, estava parado há muito tempo e precisava de jogar. Precisava de fazer uma pré-temporada, recuperar a condição física e naquela altura a única solução seria voltar para o Brasil. Tive prazer ao representar todas as equipas, mas identifiquei-me mais com o Sporting, com certeza.

Viveu a invasão a Alcochete por dentro. Uma coisa quase impossível de ver em Portugal.
Em Portugal e no resto do mundo. No Brasil vemos algumas coisas, mas chegar à agressão… vai além do aceitável. Já passei por receções no aeroporto, pancada no autocarro, mas daquela forma não. Apanhou-nos a todos de surpresa. Nunca vimos nada assim, não gosto de falar sobre isso. Até hoje sou um dos únicos que não prestou depoimento às autoridades sobre o incidente. Vou levar esse dia para toda a vida, foi traumatizante. Tudo o que eu fiz pelo clube e que o clube fez por mim não pode ser manchado por isso. Evito falar sobre o tema devido a isso, não gosto muito.

Marcou golos ao Real Madrid, à Juventus, ao Dortmund, ao FC Porto no Dragão. Os seus colegas do Penafiel têm conhecimento disso?
Alguns têm, sim. Perguntam-me como é marcar no Santiago Bernabéu, como é marcar ao Casillas e ao Buffon. São episódios que marcaram a minha passagem pelo Sporting, esses golos aos tubarões. A adrenalina dos jogos é sempre igual. Na hora os jogos parecem iguais, mas a proporção que ganha nos momentos a seguir é incomparável. Fiz bons jogos contra grandes equipas no Sporting e isso enche-me de saudade. Quando posso, tento rever esses lances. Estão marcados na minha história.

Algum desses golos foi mais especial do que os outros?
O golo contra a Juventus [31 de outubro de 2017]. Foi mais especial porque nessa semana aconteceram muitas coisas. Eu não estava a ter tantos minutos como tinha anteriormente e naquele momento esse golo foi especial para mim.

Está no Penafiel e tem contrato até junho. O que espera de 2021?
A nível pessoal estou bem, feliz, não posso desejar mais nada. Tenho um filho de dois anos, uma esposa maravilhosa que está grávida e só posso pedir saúde. Que a pandemia que está a amedrontar o mundo possa desaparecer. Vamos guardar este ano na nossa cabeça durante toda a vida. Estamos a deixar de fazer muitas coisas, por nossa responsabilidade. No futebol quero fazer uma grande época com o Penafiel. Temos objetivos claros, queremos alcançá-los. Quando o meu empréstimo acabar, tenho de ver se volto ao Penafiel ou se vou para outro clube. Tem é de ser em Portugal (risos).