Rui Almeida chegou ao comando técnico do Red Star no verão passado, parra assumir o comando técnica da equipa recém-chegada à II Liga francesa, com o objectivo de a tentar levar à Ligue 1 em duas épocas.

O projeto agradou ao treinador português, que assumiu pela primeira vez a experiência como treinador principal num clube, depois de ter liderado a seleção de sub-23 da Síria e de ter sido treinador-adjunto de Jesualdo Ferreira no Panathinaikos, Sporting, Sp. Braga e Zamalek.

Atualmente o Red Star - que tem no seu historial cinco Taças de França - é terceiro classificado na Ligue 2, com mais quatro pontos do que o quarto classificado, estando a sete do primeiro lugar e a três do segundo.

Por isso, a subida à Ligue 1, à 28.ª jornada de 38, parece ser possível, mas Rui Almeida admitiu em entrevista ao Maisfutebol que prefere manter os pés bem assentes na terra e, para já, na Ligue 2.

No entanto, aconteça o que acontecer, já mostrou que é mais um emigrante português em França com capacidades de triunfar. Até agora venceu treze jogos, perdeu cinco e empatou em dez ocasiões e está tanto por chegar.

Ainda faltam algumas jornadas, mas o Red Star está bem lançado para chegar à Ligue 1 na próxima temporada depois de ter subido à II Liga apenas este ano. Acredita que assim seja?

Pela classificação toda a gente pergunta se acredito que vamos subir, mas ainda faltam muitos jogos. Vamos ver o que acontece. Estou satisfeito por estarmos neste lugar, mas nada está decidido. Para já o primeiro objetivo, que era estabilizar a equipa na Ligue 2, está acalçado. Quanto à possibilidade de subirmos, só pensaremos nela quando faltarem três jornadas. Agora é ir jogo a jogo com esta postura.

No entanto, aconteça o que acontecer foi quase «chegar, ver e vencer»…

Ninguém esperava que estivéssemos no topo da tabela nesta altura do campeonato, claro, mas tenho muita confiança no meu trabalho. O início do campeonato foi difícil porque começámos com 11 /12 jogadores e nos tivemos de adaptar a um campeonato profissional. Fizemos muito com pouco. Temos o terceiro orçamento mais baixo do campeonato, em orçamentos que vão desde os seis aos 21 milhões de euros. Fomos fazendo o que conseguimos e agora estabilizámos. Colocámos objetivos e passo a passo construímos um grupo capaz de os conseguir. Agora é ir o mais longe possível.

Tem dois portugueses no plantel, Rui Sampaio e Vítor Bastos. Gostava de contar com mais?

É uma questão de oportunidade. O orçamento do Red Star é baixo. Trouxe o Vítor primeiro, depois o Rui. O Rui está a sair-se muito bem, o Vítor tem muita concorrência. Trazer mais portugueses será sempre uma mais-valia, mas é preciso ver se o perfil se adapta. A Ligue 2 é uma liga com muitos jogadores afro-franceses, o que lhe dá outra competitividade, por isso é preciso ter cuidado com quem se traz.

Porque se decidiu então por estes dois jogadores?

Porque ambos são jogadores que estão dentro do orçamento que tinha e porque se enquadram na forma de jogar desta liga, que trabalha muito sobre transições, e dentro daquilo que é a minha ideia de jogo.

Esta é a sua primeira experiência como treinador principal num clube, depois de 15 anos como adjunto. O que o levou a aceitar este desafio?

Achei que era o momento ideal. Depois de várias experiências como adjunto, ao lado de Jesualdo Ferreira e de Vítor Oliveira, que me marcaram muito. O convite surgiu e achei natural aceitá-lo. Além disso, o projeto entusiasmou-me e o Red Star é um clube histórico que passou por momentos difíceis e que voltou agora às ligas profissionais.

Na mesma medida, mas em ligas diferentes, está a ter sucesso semelhante ao de Leonardo Jardim na Ligue 1 no comando técnico do Monaco. É fácil ser-se emigrante português e ter sucesso em França?

(risos) Mais ou menos. Felizmente o Leonardo está a fazer uma carreira brilhante e eu a fazer bem o meu percurso. Quanto ao sucesso dos portugueses em França, e noutros países, acho que tudo se deve à nossa enorme capacidade de adaptação e à muita competência que temos. No futebol e nas demais áreas. Somos um povo capaz de lidar com povos diferentes, que se adapta a culturas distintas e que facilmente fala a língua deles.

Por falar em idiomas, o Rui Almeida fala quatro - português, espanhol, francês e inglês - e ainda se entende e consegue expressar em italiano e árabe. Alguma razão em especial? Dizem que a linguagem do futebol é universal…

Vejo isso como mais uma exigência da minha profissão e fruto das experiências que vivi. Acho que falar várias línguas é uma mais-valia. Assim não preciso de tradutor e é mais fácil comunicar com a equipa. A comunicação é muito importante e é uma das bases da minha profissão. O domínio das questões técnicas e táticas são muito importantes, mas a comunicação e a liderança também. É importante que os jogadores entendam o que queremos. Não é um fator decisivo no sucesso de um treinador, pois há quem tenha sucesso sem falar outras línguas, mas fica muito mais fácil trabalhar assim.

Voltando a França, o que é que este país exige aos treinadores estrangeiros?

Muito, tanto no futebol como na sociedade em si. França é um país exigente e no futebol há pouco espaço para os treinadores estrangeiros. Há muita competitividade nesse aspeto, o que também acaba por acontecer em Portugal neste momento. Na Ligue 1 há quatro estrangeiros em 20, na Ligue 2 somos seis em 18.

E depois desta experiência no Red Star, tem alguma outra nos planos?

Para já estou aqui, tenho mais um ano de contrato. A ambição que tenho é atingir os objetivos com o Red Star e depois logo se vê. No futebol não vale a pena fazer projetos a longo prazo. Tudo muda com muita facilidade e sem sermos nós a dar o primeiro passo.

Mas gostava de treinar em Portugal? Esteve no Sporting e no Sp. Braga como adjunto e orientou também equipas de formação no Benfica…

Naturalmente que gostava, mas depende do clube e do momento. Adaptei-me muito bem à realidade do futebol francês e estou a gostar muito da experiência. Voltar para Portugal depende do que aparecer e até pode nem aparecer nada. O Pauleta depois de vir para França não voltou para fazer carreira em Portugal. Há sempre esse risco.