Corunha, Galiza, casa nova para um menino português. Ricardo Benjamim, 17 anos, 190 centímetros e 82 quilos, um guarda-redes português a agarrar as balizas do Deportivo.

«O meu ídolo é o Manuel Neuer, mas muitos treinadores dizem-me que tenho muito de Iker Casillas. Sou forte num para um e no jogo com os pés».

A entrevista ao Maisfutebol começa assim. Curiosidade normal do jornalista, respostas convictas de um adolescente atrás de um sonho no futebol espanhol. Horas depois do primeiro treino com a equipa B dos galegos.

«É a primeira vez que estou fora de casa. Tenho sido titular nos juniores do Deportivo. Empatámos 2-2 em casa do Lugo e vencemos 4-1 no passado fim de semana», conta Ricardo Benjamim.

E como se passa da Sanjoanense ao Deportivo da Corunha? Um verão de doidos, está bom de ver, para este jovem nascido em Santa Maria da Feira e já com muito para contar numa carreira ainda curta.

«Fiz uma grande exibição contra o FC Porto, clube que me dispensara anos antes, e só perdemos 1-0. Nos dias seguintes recebi vários elogios e um convite através do meu empresário Ricardo Costa para vir treinar ao Depor».

Depois, tudo foi decidido pelas luvas e a convicção de Benjamim. «Treinei, voltei a Portugal e três dias mais tarde telefonaram-me a convocar para o Mundialito de Sub17. Fui logo titular contra o Atlético Madrid e pelos vistos gostaram de mim. Cá estou, cheio de vontade».

Ricardo Benjamim na baliza do Deportivo

«Dizem-me que vou ser como o Nuno Espírito Santo»

Na Corunha, Ricardo Benjamim treina todos os dias e frequenta o Nível I do Curso de Treinador. A escola secundária, por agora, está em stand-by.

O colega Martelo, ex-jogador do Benfica, é companhia inseparável e apoio fundamental. Na Galiza, também eles já interiorizaram o que significa a expressão Super Depor.

«A cidade vive muito o clube. Vamos sempre ao Riazor ver os jogos. Já sabia que o Deportivo tinha sido uma vez campeão de Espanha, um feito parecido com o do Leicester, mas só agora percebei que é mesmo muito grande», continua Ricardo Benjamim.

E, quase sem se aperceber, o guarda-redes já faz história. «Sim, por um lado sim. Um dos treinadores lembrou-me que sou só o segundo português a ser guarda-redes no clube. O outro foi o Nuno Espírito Santo. E a brincar já me dizem que vou ser um treinador de sucesso como ele (risos)».

Ricardo (4º a contar da esq. em cima) nos tempos do FC Porto

«No FC Porto informaram-me que não correspondia ao que pretendiam»

Criado nas escolinhas do Lusitânia de Lourosa, Ricardo Benjamim deixou a frente de ataque para ser guarda-redes quase por acaso. O colega da baliza desistiu e o treinador lá o convenceu a calçar as luvas e a olhar para o golo através de um ângulo distinto.

«Passado um ano fui para o FC Porto. Tinha 11 anos. O treinador era o Tiago Pereira, mas no final da época disseram-me que não correspondia ao que pretendiam para um guarda-redes».

Um passo atrás, quatro anos no Feirense e a mudança abençoada para a Sanjoanense. É importante lembrar o trabalho excelente que este clube está a fazer na formação. Basta lembrar só mais dois casos: Paulinho (agora no Liverpool) e Gil Dias (jogador da moda no Rio Ave).

«Estou decidido a apostar no futebol. Tenho condições e vou dar tudo de mim. O que me falta? Bem, gostava de ter o pontapé do Ederson (risos). Para mim é o melhor guarda-redes a jogar em Portugal».

Ricardo Benjamim, 17 anos, dono e senhor da baliza dos juniores do Deportivo da Corunha. À atenção da Seleção Nacional de Sub18.