* Enviado-especial do Maisfutebol aos Jogos Olímpicos
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Misteriosos são os caminhos que nos levam aos Jogos Olímpicos. Linhas retas, perpendiculares, paralelas, atletas, treinadores, jornalistas, árbitros, delegados técnicos. Há muitas formas de cá chegar.

José Ricardo Lupi encaixa nesta última categoria. Português, 42 anos, está no centro de Deodoro e é um dos responsáveis máximos pelas provas do concurso completo de equitação: obstáculos, ensino (dressage) e cross country.

O Maisfutebol entrevista este lisboeta, com raízes que se estendem até Alcochete, num momento ainda de «forte emoção». José é engenheiro de produção animal – trabalha numa empresa de melhoramento genético de suínos – e não se esquece do que passou para responder afirmativamente ao convite do COI.

«Em dezembro soube que era um dos escolhidos. Liguei a todos os conhecidos, nem queria acreditar. Caíram-me lágrimas, desliguei e liguei o computador para confirmar (risos). Depois tive um problema de saúde, meningite vírica, e passei dez dias num hospital. Vi as coisas mal paradas», desabafa, naturalmente aliviado.

«Sou delegado técnico internacional há nove anos. O único português», conta José Lupi, triste por não ter mais compatriotas nas provas equestres dos Jogos. «Só temos a Luciana Diniz, uma cavaleira curiosamente nascida no Brasil e que representa Portugal».

Luciana Diniz é a única cavaleira portuguesa nos Jogos

«O cavalo é um animal impressionante»

José Lupi é um bom conversador, detalha as respostas, percebe a curiosidade do entrevistador por uma área pouco mediática em Portugal. Daí a pergunta seguinte: como é que se chega a delegado técnico internacional de equitação?

«A minha família está ligada à tauromaquia. Criamos cavalos lusitanos e touros bravos. Monto a cavalo desde os cinco anos e fiz competição até aos 23. O mundo dos cavalos corre-me nas veias», conta José Ricardo Lupi, um português nos Jogos Olímpicos.

«Há cerca de 12/13 anos passei a estar na organização de competições de concurso completo. Na quinta do meu pai. Primeiro como assistente do delegado técnico e posteriormente, após um desafio lançado pela minha irmã, já como delegado».

A evolução no circuito internacional ocorreu «normalmente», dentro dos parâmetros esperados para alguém com uma ligação ao mundo dos cavalos. «São animais impressionantes, radicalmente distintos entre eles, e é um privilégio poder olhá-los todos os dias».

Por estes dias, José Lupi só lamenta a distância da família – esposa e três filhos – e o quadro atual da equitação no nosso país.

«Não há sponsors e o panorama é difícil. Num patamar de exigência tão alta, como é o do concurso completo, tudo se torna ainda mais complicado».

José Lupi, um português orgulhoso nas provas de hipismo olímpico.