Não é um caso comum. Lucas Piazón pode dizer que foi treinado por André Villas-Boas e, mais tarde, por José Mourinho no Chelsea. A sua longa ligação aos londrinos permitiu-lhe conviver com algumas das maiores figuras do futebol mundial, como confessa na entrevista ao Maisfutebol

Como o mundo da bola é pequeno, Lucas cruzou-se também com três homens que chegaram recentemente ao futebol nacional: Felipe Anderson (FC Porto), Luca Waldschmidt e Gilberto (Benfica). Aos 26 anos, Lucas Piazón é um dos protagonistas do excelente Rio Ave, agora de Mário Silva.

PARTE I: «O meu futebol cresce nos dias dos jogos grandes»

PARTE II: «Para o Chelsea passei a ser só mais um negócio»

Maisfutebol – O Lucas começou a jogar futebol muito cedo. Qual foi o seu primeiro clube no Brasil?
Lucas Piazón – Eu nasci em São Paulo, mas a minha mãe é de Coritiba e mudámo-nos para lá quando eu tinha cinco ou seis anos. Aliás, fomos para uma cidadezinha próxima de Coritiba, onde viviam os meus avós. Depois é que me mudei para Coritiba, já aos nove anos.

Tem algum antigo futebolista na família?
O irmão do meu avô foi profissional e o meu avô também jogou em muitos clubes, mas não como profissional. O meu pai diz que jogava muito, mas não teve apoio do meu avô. Foi obrigado a estudar até mais tarde. O meu avô foi uma das minhas grandes influências para entrar no mundo do futebol, curiosamente. Em frente à casa dele, do outro lado da rua, havia um campo enorme e ele levava-me para lá quando eu era muito pequenino ainda. No Brasil até é mais comum jogar em campos de futsal e eu tive a sorte de começar logo num campo grande (risos). Ele ensinou-me como bater na bola, tínhamos uma ligação muito forte.

E o futebol surge mais a sério em que fase da sua vida?
Bem, eu tinha 14 anos e saí de casa dos meus pais em Coritiba para ir jogar no São Paulo. Passei a viver no centro de treinos do clube com mais 100 crianças. Fazíamos tudo juntos. Pequeno-almoço, escola, cinema, era ótimo. Queríamos mais liberdade, mais idas ao shopping, mas adorei. Na altura não valorizávamos, agora sim.

Como é que a sua mãe reagiu ao ver o filho de 14 anos a sair para São Paulo?
Para ela não foi fácil. Eu era fanático do São Paulo e quando me chegou a proposta… lembro-me de ir com os meus pais conhecer o centro de treinos do São Paulo e das dúvidas que eles tinham. Hoje em dia já percebo muito melhor esses medos, pois também já sou pai. Por sorte, a minha outra avó morava a meia-hora de lá e foi um apoio importante. Os meus pais visitavam-me uma vez por mês para matar saudades e ver como eu estava.

Na sua cabeça já não havia dúvidas: o futebol era o caminho a seguir.
A partir do momento em que eu saí de casa, tinha que tentar tudo para ser profissional.

E aos 17 anos aparece o Chelsea na sua vida.
Foi completamente inesperado. Eu só ambicionava chegar à equipa principal do São Paulo. Cheguei a outro mundo. Nunca treinei com os profissionais do São Paulo e, de repente, já estava ali ao lado daqueles monstros. Treinei com o plantel principal logo no primeiro dia. John Terry, Lampard, Drogba… «O que estou eu a fazer aqui?» (risos) O treinador era o André Villas-Boas, português.

O André chegou a convocar o Lucas para alguns jogos?
Para três, pelo menos. Eu fiz 18 anos em janeiro e nessa fase havia alguns jogadores ausentes na CAN. O André Villas-Boas chamou-me para algumas partidas.

Gostou de trabalhar com o André Villas-Boas?
Infelizmente não tive o prazer de treinar muito tempo com ele, porque o André depois saiu do Chelsea. Lembro-me que ele fazia treinos completamente diferentes daquilo que eu conhecia no Brasil. Era quase sempre em espaços reduzidos e com grande intensidade. Até me adaptei bem à proposta de trabalho do André. No Brasil nem me passava pela cabeça treinar dessa forma.

Cruzou-se em algum momento com o José Mourinho?
Só em treinos de pré-temporada.

Havia diferenças grandes entre ele e o André?
Não, por acaso não, os treinos deles eram bastante semelhantes. Talvez por o André ter sido auxiliar do Mourinho alguns anos antes.

Lembra-se de jogar nos iniciados do Coritiba com o Felipe Anderson, novo reforço do FC Porto?
Ele jogou lá comigo? Nossa… confesso que não me lembro. [Felipe esteve no Coritiba nos últimos três meses de 2006 e nos primeiros três de 2007]. Por acaso conheço o Felipe porque a minha mãe fez amizade com a namorada dele em Londres. Mas não posso dizer que sou amigo dele. Tivemos um contato rápido. Ele começou muito bem no West Ham, mas com o David Moyes passou a ter poucas oportunidades e fez muito bem em aceitar o convite do FC Porto.

E do Luca Waldschmidt lembra-se melhor?
Desse sim (risos). Foi há menos tempo. Estivemos juntos no Eintracht e ele era muito novinho. Ele jogava mais pela equipa B, mas treinava sempre connosco. Percebi que tinha qualidade, ele era extremo nessa altura. Depois passou a jogar mais pelo centro. Acho que se estreou a titular no último jogo da Bundesliga e fez uma exibição muito boa.

Nas seleções do Brasil jogou com o Gilberto, agora no Benfica.
Em Toulon? Em 2014, sim. Ele estava no Botafogo e gostei muito de jogar com ele. É um lateral ofensivo e tenho a certeza que evoluirá muito com o Jorge Jesus.