Em dez anos de ligação contratual ao Chelsea, Lucas Piazón só fez três jogos na primeira equipa dos blues. Chegou com 17 anos ao clube e, antes de chegar ao Rio Ave e ser uma das figuras da equipa, passou por diversos empréstimos: Málaga, Vitesse, Eintracht Frankfurt, Reading, Fulham e Chievo foram apeadeiros de uma carreira que podia ser ainda melhor.

Em entrevista ao Maisfutebol, Lucas admite que a partir de dada altura começou a sentir que o Chelsea se desinteressou do seu valor desportivo, apesar de manter uma ligação constante e positiva com Paulo Ferreira, o português que ainda trabalha com os londrinos e faz o acompanhamento dos jogadores emprestados.

PARTE I: «O meu futebol cresce nos dias dos jogos grandes»

PARTE III: «Os treinos do Villas-Boas e do Mourinho eram semelhantes»

Maisfutebol – Esta é a décima temporada de ligação contratual do Lucas ao Chelsea.
Lucas Piazón – Creio que é isso, sim. Cheguei lá em 2011… é verdade, décima época.

Quais são as vantagens e desvantagens de ter uma ligação destas a um clube como o Chelsea, sabendo-se que tem sido sempre emprestado?
Bem, a partir de dada altura a ligação deixou de ser benéfica para ambas as partes. No início senti-me muito bem. Passei pelos sub23, cheguei à equipa A e mesmo nos primeiros empréstimos eu senti que o Chelsea tinha expetativas e interesse por mim. Eu acreditava que podia voltar e ter oportunidades a qualquer momento. Mais tarde, com o passar das épocas, passei a ser só mais um negócio para eles. Emprestavam-me com a expetativa de me vender e fazer algum dinheiro comigo. Acho que é mais ou menos isso que eles pensam. Tenho de aceitar, porque também aceitei renovar o meu contrato com eles. Disseram-me que só me emprestavam se eu renovasse e eu aceitei. Foi uma relação complicada. Muitas vezes eles não gostavam do que eu dizia nas entrevistas, mas queria deixar bem claro que fui muito feliz nos meus primeiros anos no Chelsea.

O Chelsea escolhe os seus clubes ou o Lucas tem liberdade para fazer essas opções?
Nos primeiros anos era o Chelsea que me sugeria este ou aquele clube e explicava-me as razões. A partir dos meus 22/23 anos deixou de ser assim, porque o maior interesse passou a ser emprestar-me para eu ser vendido.

Tem recebido algum feedback do Chelsea sobre o seu bom rendimento no Rio Ave?
Sim, sobretudo por parte do Paulo Ferreira. O Paulo vinha a Vila do Conde ver muitos jogos, principalmente antes da pandemia. Conheço-o há muitos anos, fomos colegas no Chelsea e ele tem um carinho enorme pela minha família. O Paulinho envia-me muitas mensagens, é uma pessoa espetacular. É ele o responsável pelos atletas emprestados pelo Chelsea.

Em dez anos de ligação ao Chelsea fez um jogo na Premier League.
A 23 de dezembro de 2012. Sofri um penálti e falhei o penálti logo a seguir (risos). Ganhámos 8-0 ao Aston Villa e ainda fiz uma assistência para golo. As coisas correram-me bem. Eu fiz dois jogos para a Taça da Liga, fiz uma assistência logo na minha estreia, e tive essa oportunidade na Premier League, com o Rafa Benítez. Mas três semanas depois eu fui cedido ao Málaga e não tive continuidade.

Tem só 26 anos, mas já viveu muito no futebol.
É verdade. Nunca tive experiências horríveis, nunca joguei num clube mau e já vivi muita coisa. Estive em locais bons, aprendi bastante e será sempre assim. Estou a fazer o segundo ano no Rio Ave e se tiver de sair de Portugal sairei sem problemas, porque já estou acostumado.

Foi importante assinar dois anos pelo Rio Ave e não apenas um?
Sim, sim, eu prefiro sempre assim. Prefiro ter estabilidade e passar mais tempo num sítio, por vários motivos. Por exemplo, quando eu saí da Holanda para a Alemanha tive grandes dificuldades.

Porquê?
O treinador do Vitesse era o Peter Bosz, que está agora no Leverkusen. A ideia dele era sempre ter bola, posse de bola, e quando cheguei ao Eintracht… não tocava na bola (risos). O estilo era radicalmente distinto e tive dificuldades em percebê-lo. Mudei demasiadas vezes. Fiquei dois anos no Fulham e foi muito melhor, rendi bastante bem. No Fulham e no Vitesse sinto que tive épocas muito boas.

E no Málaga ainda jogou na Liga dos Campeões.
Contra o FC Porto, por exemplo. Eliminámos o Porto [em março de 2013]. Tinha 19 anos nessa altura e a equipa era muito forte. Só caímos da Champions contra o Dortmund. Foi uma experiência curta, mas boa.

Sentia em cima de si o peso de ser «o novo Kaká» e o «fenómeno Piazón», como escrevia a imprensa brasileira?
No Málaga nem tanto, porque a equipa era muito experiente e tinha atletas com nome. Na Holanda, talvez sim, todos falavam de mim e esperavam muito de mim. Tive ali alguns jogos menos bons e a pressão aumentou, na Alemanha foi a mesma coisa. Eu era muito novo e não era fácil lidar com essa obrigação. Esperavam que eu fizesse mais do que todos os outros.  

E essa comparação com o Kaká agradava ao Lucas?
Isso surgiu por eu também ser da formação do São Paulo. No Santos eram os novos Robinho ou Neymar. Para mim são comparações que não fazem muito sentido, até porque o Kaká jogava numa posição diferente da minha. Por coincidência tive a possibilidade de jogar contra ele num Málaga-Real Madrid. Falámos e ele deu-me a camisola do Real, foi ótimo.