Rúben Vinagre comprovou no último Europeu de sub-17 que é um dos jovens laterais esquerdos mais promissores do continente. Foi campeão da Europa por Portugal, em maio passado, no Azerbaijão e quando regressou foi convidado pelo Monaco a assinar o seu primeiro contrato profissional com a duração de três anos.

Está no Principado desde 2015 e o Monaco, onde joga mais acima no terreno, a extremo esquerdo, já sabe com o que pode contar. Foi buscá-lo ao Sporting no verão passado com apenas 16 anos e pô-lo logo a jogar nos sub-19, terminando a época na equipa B e a treinar ao lado da equipa principal orientada pelo português Leonardo Jardim.

Rúben Vinagre estava numa das melhores escolas de futebol da Europa - a Academia Sporting - tendo passado ainda pelo Barreirense e pelo Belenenses, mas decidiu sair para o Monaco, após analisar algumas propostas de outros emblemas europeus.

Em entrevista ao Maisfutebol, o jogador de 17 anos justificou a escolha com o projeto que lhe apresentaram e com aquilo que o Monaco lhe pode dar (e tem de facto dado) relativamente ao que espera da sua carreira: chegar mais rápido a uma equipa A para um dia chegar ao topo.

Com um campeonato distrital sub-16 com a camisola do Sporting e uma Gambardella - Taça de França de sub-19 - pelo Monaco, Rúben Vinagre quer mais. Mas para já o objetivo é só um: ter a oportunidade de ser treinado por Leonardo Jardim, que é como quem diz chegar à equipa A monegasca.

Rúben Vinagre equipa à Monaco, a caminho e um jogo
(Fonte: Facebok Rúben Vinagre)
 
Juvenis do Sporting, sub-19 e bês do Monaco e a conquista do Europeu de sub-17. Este último ano desportivo foi fantástico e terminou com a assinatura do seu primeiro contrato profissional. O que significa tudo isto para si?
Foi de facto fantástico e trabalhei muito para tudo isto me acontecer. Tornar-me já profissional significa mais um passo em frente ao objetivo mais imediato que quero alcançar e mais uma motivação para continuar a desenvolver um bom trabalho.
 
Que objetivo é esse?
É o de chegar já este ano à equipa principal do Monaco.
 
Mas tem apenas 17 anos, feitos em abril, acredita mesmo que isso pode acontecer tão cedo?
Acredito que sim. Agora estou mais perto da equipa principal do que nunca, já estou na B e sou um jogador profissional.
 
Ou seja, está mais perto de ser orientado por Leonardo Jardim. Costuma falar com o treinador português?
De vez em quanto. Por vezes cruzamo-nos, mas nunca falámos nada de especial.
 
Também já se sabe que Leonardo Jardim vai continuar no Monaco. Isso é importante para o clube e também para o Rúben Vinagre?
Claro que sim. É uma mais-valia para o Monaco continuar a contar com um treinador que tem dado muito ao clube, que já tem rotinas com a equipa e que é um ótimo técnico. Para mim, se conseguir trabalhar com ele, também vai ser bom porque lhe reconheço muitas qualidades.
 
Rúben Vinagre com Ricardo Carvalho no Mónaco
(Fonte: Facebook Rúben Vinagre)
 
A equipa principal do Monaco está recheada de portugueses. Costuma estar com eles?
Sim, de vez em quando estamos juntos. Como no final da época estava a trabalhar com a equipa B do Monaco, e treinava perto da equipa principal, estava mais vezes. Fora do clube, estivemos uma ou duas vezes juntos.
 
Como é a sua vida no Monaco? É uma cidade-estado cara, onde se fala francês…
É simples. Basicamente é treino-casa, casa-treino. Treino todos os dias e de vez em quando estou com alguns amigos, mas nada demais. Quanto a ser cara, é por zonas. Ao início a língua foi difícil, mas consegui adaptar-me rápido. Tive aulas e agora até falo bem e compreendo tudo.
 
Nunca lhe aconteceu nada caricato devido à língua ou nunca foi gozado no balneário?
Gozado? Sim fui. Muito, ao início. Como eu não sabia quase nada eles diziam-me para repetir algumas coisas: eu repetia e depois riam-se com a minha pronúncia. Diziam que eu não sabia falar. Agora isso já é diferente, já sei falar e isso não acontece. Fora do clube nunca tive nenhum «problema».
 
Portanto, está plenamente satisfeito no Monaco?
Sim. Sinto-me bem no clube.
 
Como surgiu a oportunidade?
De forma natural. Viram-me na seleção, contataram-me e apresentaram o projeto deles. Gostei e chegámos a acordo. Tinha outros clubes interessados, mas decidi escolher o Monaco.
 
Ter Leonardo Jardim como treinador foi importante na sua decisão?
Toda a estrutura do Monaco foi importante, mas claro que ter um grande treinador português e vários jogadores portugueses no clube ajudou. Ainda assim, foi sobretudo o projeto que teve importância.
 
Rúben Vinagre nos juvenis do Sporting
(Fonte: Facebook Sporting)
 
Não se arrepende de ter deixado o Sporting?
Não, não me arrependo.
 
Porque decidiu dar este rumo à sua carreira, quando estava numa das melhores escolas de futebol da Europa?
Saí porque procurava um projeto diferente. Tencionava chegar mais cedo a uma equipa A e sabia que no Sporting isso seria mais complicado, porque o Sporting não gosta de saltar etapas. Gosta de fazer uma formação controlada. No estrangeiro isso não acontece. Quando veem que um jogador já está preparado, lançam-no. Não dão grande importância à idade, só ao facto de se estar preparado ou não.
 
Não acha que isso de «saltar etapas» pode ser prejudicial na carreira?
Não. No meu caso, até a momento não me sinto penalizado por isso. Nos clubes nunca joguei no escalão de sub-17, saltei dos sub-16 do Sporting logo para os sub-19 do Monaco e ainda fui para a equipa B, acho que isso me fez evoluir muito mais como jogador. Aprendi outras coisas e lidei com novas dificuldades. Isso puxou por mim e fez com que me sinta cada vez melhor.
 
Mas fisicamente não se sente inferior aos seus companheiros de equipa e aos adversários? Tem 1,74 m e pesa 68kg…
Não. Claro que o físico é muito importante, mas os pés são mais. Não sinto dificuldades a jogar na equipa B por causa deste aspeto, mas também me preocupo em desenvolver o físico: faço muitas horas a mais, não só no ginásio, mas no campo também.
 
Saiu recentemente de Portugal, mas não tenciona voltar em breve?
Para jogar não. Não se deve dizer nunca que não, mas o que idealizo para a minha carreira é continuar fora de Portugal e chegar ao topo.
 
E voltar ao Sporting? Deixou o clube muito cedo, nem representou a equipa principal…
Isso gostava que um dia acontecesse. Gostava porque é o clube do meu coração.
 
Que outros clubes gostava de representar?
Para já não penso muito nisso, mas o clube com o qual sempre sonhei foi o Manchester United. Talvez por causa do Cristiano Ronaldo. E, além disso, porque gosto muito do clube em si e da sua mística.
 
Rúben Vinagre (5) a festejar com o resto da equipa de sub-17 um golo à Holanda nas meias-finais do Europeu (Fonte FPF)
 
Os sub-17 venceram recentemente mais um título para a formação portuguesa. O último tinha sido há 13 anos e foi também a seleção de sub-17. Como foi possível?
Com trabalho e muita união. Para mim a união foi essencial. Sabíamos que o companheiro do lado dava a vida por nós e cada um de nós também sabia que o outro dava a vida por ele. Além disso, já nos conhecíamos de outros escalões e alguns jogavam nos mesmos clubes. Estamos juntos na seleção há três anos e isso também ajudou a que conseguimos alcançar o título.
 
Foi um título muito festejado, não era para menos. Que significado teve para si?
Foi o realizar de um sonho. É um sentimento inexplicável. Lutámos por isto durante três anos. Foi um momento único. Ainda nem consigo descrever tudo o que vivemos e a alegria que senti ao ser campeão por Portugal.
 
Estamos perante uma nova ‘Geração de Ouro’?
Acredito que sim, porque acredito que a nossa geração pode conquistar tudo aquilo que quiser se continuar a acreditar como acreditámos que podíamos conquistar este Europeu. Acho que podemos ser uma nova Geração de Ouro se nos mantivermos assim e se trabalharmos como até aqui.
 
Portugal volta agora a entrar em campo num Europeu, mas com a equipa principal. Poderão os «grandes» repetir o feito dos mais novos?
Espero que sim, que consigam esse objetivo também. Espero que sejam unidos, deem a vida uns pelos outros e nos deem alegrias a nós. Eles também merecem realizar o sonho deles e o de todos os portugueses. Tudo é possível. Se acreditarem e lutarem por isso, com a qualidade que têm, acho que podem ser campeões em França.