5 de junho de 2000. Na verdade, já era quase dia 6 quando o Maisfutebol finalmente nasceu. Começava uma grande aventura e no princípio estava Rui Costa. O então jogador da Fiorentina e da seleção nacional, de partida para jogar o Euro 2000, fazia manchete nesse primeiro dia, com uma entrevista que já então foi feita também em vídeo. 20 anos mais tarde, Rui Costa volta a associar-se a este momento especial, ele que foi protagonista e espectador privilegiado destas duas décadas, como jogador e como dirigente. Na reta final da entrevista, os nomes e o grande feito que marca estas décadas. Da felicidade especial pela Bola de Ouro de Figo ao «monstro» Cristiano Ronaldo, passando por Mourinho e, claro, pelo Euro 2016.

- Nestes 20 anos de Maisfutebol, há três nomes portugueses que marcam simultaneamente o nosso trajeto e o do futebol internacional de forma mais destacada: Figo, José Mourinho e Cristiano Ronaldo. Concordas?

- Sim. São o expoente máximo da qualidade do jogador e do treinador português. Do Mourinho pouco ou nada há a dizer mais. Sair de Portugal com aqueles títulos, chegar ao Chelsea, fazer o trabalho que fez, ganhar o que ganhou em Itália e Espanha e ser hoje considerado como é no futebol, deixa quase tudo dito. Tornou-se, efetivamente, uma das pessoas mais importantes do futebol mundial, mesmo nunca tendo jogado a um nível alto.

- A tua relação com Luís Figo é bem mais antiga…

- O Luís é da minha geração, crescemos juntos e também por essa ligação tê-lo visto chegar ao top foi muito especial. Tive a felicidade de jogar com o Figo que era Bola de Ouro, com o Shevchenko que era Bola de Ouro, com o Kaká, que viria a sê-lo. Mas é evidente que quando o Luís ganha, a sensação é diferente. Lembro-me que no Europeu de 2000 ele estava mesmo na calha para o conseguir. Não te digo que o ajudámos a ganhar, quem a ganhou foi ele, mas nós, à volta dele, quase sentimos ali uma pedrinha daquele troféu. “Tu és nosso!”. E para além da amizade enorme e do companheirismo, de tudo o que vivemos juntos no futebol, muitos de nós tivemos essa sensação, de ter um dos nossos a ganhar o maior troféu individual do futebol, que na altura parecia quase impossível de ganhar por um português. No dia em que ele ganhou, lembro-me perfeitamente de muitos de nós telefonarmos uns para os outros: “ele ganhou, ele ganhou, ele ganhou!”, como se fosse uma vitória nossa.

- O Euro 2004 é o teu elo de ligação com Cristiano Ronaldo.

- Já não o apanho com estatuto de Bola de Ouro, mas sabíamos perfeitamente, até a treinar com ele, que ele iria chegar lá ao topo. Torcíamos por isso e não nos surpreendeu. Agora, honestamente, se pensávamos que ele iria tornar-se o monstro em que se tornou, era difícil de prever, pese embora toda a ambição que já nessa altura ele nos demonstrava diariamente nos treinos. Mas também tenho algum orgulho em dizer que ele começou na Seleção connosco, quando nós já éramos os carcaças (sorriso)…

- O grande acontecimento desportivo destes 20 anos acaba por ser a conquista do Euro 2016. Como é que o viveste?

- Fiz os comentários da final e tudo. E como não sei fazer comentários e ainda tenho aquela parte de jogador e de adepto, quando foi o golo esqueci-me que estava a fazer comentários e saltei e gritei (risos). Era mais do que merecido que Portugal tivesse esse troféu. Pelo 2000, pelo 2004, e também pelo 2006 e pelo que veio depois. Pouco importa se dizem que não foi o melhor Europeu, importa que a Taça está deste lado e que se derrubou aquele muro onde tantas vezes batemos com a cabeça. Enquanto português, enquanto jogador de futebol – uma vez jogador, jogador para toda a vida – senti um orgulho imenso.

- Sentiste que era um bocadinho tua, também?

- Não, senti que era daqueles jogadores que lá estavam. Foram eles que nos deram essa alegria, deles para nós. A única coisa que sinto em relação a isso é que 1996 traz a Portugal a certeza de que podemos estar constantemente nestas andanças. E aí percebe-se que Portugal já não é um outsider para as competições internacionais, passa a ser uma presença assídua e forte. Aí sim, tenho o orgulho de pertencer à famosa geração que vocês, media, apelidaram de geração de ouro, que modifica um pouco a mentalidade do futebol português em termos de Seleção. Isso abriu a porta para que este caminho fosse percorrido. Agora, a conquista de 2016 não é mais minha do que tua, ou de qualquer adepto português. Foram os jogadores que lá estiveram, mais o treinador e todo o staff da Federação que nos ofereceram esse presente.

- Em jeito de balanço, face aos desempenhos e conquistas da Seleção, aos títulos internacionais do FC Porto, às finais europeias de Benfica, Sporting, e Sp. Braga, às inúmeras consagrações individuais, sentes que foste protagonista e testemunha das duas melhores décadas da história do futebol português?

- Acho que fiz parte de uma geração de jogadores que marcou o futebol português, sinto muito orgulho nisso. Mas não somos os únicos: toda a vida estivemos recheados de grandes equipas e jogadores, mas muitos não apanharam a fase mediática do futebol, de que os vossos 20 anos são o exemplo, ou a possibilidade de se afirmarem no estrangeiro, como nós tivemos. Mas o nosso historial é enorme, e vai para além destes 20 anos. Sinto que os nossos clubes e Seleções têm feito coisas extraordinárias, dentro das possibilidades que têm.