O futebol é um mundo pequeno. Um mundo de casualidades e algumas coincidências. Como esta: o próximo adversário do Benfica na Liga Europa foi o responsável pela eliminação do Shakhtar de Paulo Fonseca na mesma competição. 

Na entrevista exclusiva ao Maisfutebol, o treinador português de 46 anos analisa os pontos mais fortes do Eintracht e aproveita para deixar elogios sinceros às ideias transportadas por Bruno Lage para este novo Benfica. 

Pelo caminho, Fonseca analisa ainda a explosão de Rafa Silva, com quem treinou em Braga, e aplaude as épocas de dois clubes que não lhe saem do coração: o Paços de Ferreira e, precisamente, o Sp. Braga.


Maisfutebol – O próximo adversário do Benfica é o Eintracht Frankfurt. Curiosamente, o seu Shakhtar foi eliminado por esta equipa na Liga Europa.
Paulo Fonseca –
É uma equipa muito difícil de defrontar. Intensa e muito reativa no momento da perda de bola. É difícil criar situações de golo contra o Eintracht. Jogam com três centrais, mas no processo defensivo têm claramente cinco defesas. É uma equipa perigosíssima na transição e tem três jogadores na frente que desequilibram, especialmente o Luka Jovic, que ainda pertence ao Benfica. O Jovic e o Rebic procuram muito a profundidade e o Haller joga mais em apoios. É uma equipa que sai rápida para o contra-ataque, fisicamente forte e com jogadores experientes.

MF – Parece-lhe uma equipa superior à do Benfica?
PF –
A eliminatória vai ser difícil, apertada, mas acredito que este Benfica pode passar. O Eintracht tem feito uma época extraordinária na Bundesliga e na Liga Europa, uma equipa experiente e pragmática, que se expõe pouco e não cria muitas situações para golo. Mas é terrivelmente eficaz.

MF – O Benfica mudou bastante nos últimos dois meses. O que tem achado do Benfica do Bruno Lage?
PF –
É um Benfica diferente, muito mais dominador, muito mais de posse e ataque planeado. Houve, com a chegada do Bruno Lage, uma transformação na forma de pensar o jogo e sentimos que os jogadores estão confortáveis. O futebol é muito agradável de ver, sou fã deste estilo.

Paulo Fonseca na final da Taça de 2016, ganha ao FC Porto

MF – Há um jogador que o Paulo treinou no Sp. Braga, o Rafa, que atravessa o melhor momento desde que chegou ao Benfica. Como se explica isso?
PF –
A diferença é a ideia de jogo do Bruno Lage. A forma de o Bruno Lage pensar o jogo encaixa perfeitamente na forma de jogar do Rafa e ele sente-se confortável. Os jogadores rendem em função daquilo que são as ideias de jogo e o Rafa beneficiou muito com a forma de pensar e executar o jogo deste novo Benfica. Mas não é só ele.

MF – Outros futebolistas melhoraram com a chegada do Bruno Lage?
PF –
Ainda ontem a minha equipa técnica estava sentada no nosso gabinete e estávamos a tentar perceber como funcionam algumas coisas neste Benfica. Há uma coisa evidente: nesta forma de jogar os jogadores transformaram-se. O Samaris e o Gabriel não são os mesmos jogadores. Têm uma participação muito mais ativa no jogo, jogam muito mais para a frente. A forma e o local onde recebem a bola é muito diferente e isto tudo tem enorme influência. Às vezes sentimos que um futebolista não rende o que pode e isso tem a ver sobretudo com as ideias da equipa. Voltando ao Rafa: está mais maduro e esta forma de jogar favorece-o. Faz mais golos, mais assistências e tem melhorado até nas últimas decisões, o momento do passe.

MF – Os seus dois amores em Portugal são o Sp. Braga e o Paços de Ferreira. Continua a seguir de perto a vida dos dois clubes?
PF –
Claro, claro. Fico muito feliz por ver o Paços e sentir que está muito perto de voltar à I Liga. É um clube que faz falta à principal divisão portuguesa. O Sp. Braga está a fazer um ano extraordinário, só está a cinco pontos de Benfica e FC Porto e, é bom lembrar, ainda recebe esses dois clubes. As últimas semanas vão ser espetaculares.

[artigo publicado originalmente às 23h57 do dia 21 de março]