Sebastián Coates foi eleito o melhor jogador da última época pelo Maisfutebol.

O capitão do Sporting foi o atleta mais pontuado na combinação entre os pontos atribuídos pelos jornalistas do Maisfutebol com as estatísticas do Sofascore: somou um total de 465 pontos, ficando à frente do colega de equipa Pedro Gonçalves, que teve 459.

Na terceira posição ficou Léo Jardim, guarda-redes do Boavista, com 453 pontos, seguido do portista Taremi, com 449, e do bracarense Galeno, com 445.

Ora no dia em que recebeu o prémio, Coates concedeu uma entrevista exclusiva, que serviu para falar também de saúde mental. No ano em que o perdeu o grande amigo Santiago Garcia, vítima de uma depressão, o central do Sporting refletiu sobre a pressão desumana que atinge os atletas.

Este foi um ano difícil pelo que aconteceu ao Santiago Garcia. Vários atletas, de resto, vieram falar de problemas psicológicos, ainda agora tivemos a questão da Simone Biles. Na sua opinião, o desporto de alta competição está a colocar demasiada pressão nos atletas?

Sim, talvez seja uma das razões. Mas também o momento que vivemos, de muitas alterações na vida quotidiana, tendo que ficar em casa, não podendo ver a família ou os amigos, acho que isso nos mudou a todos. Em relação ao desporto, sim, sempre houve pressão, algumas pessoas lidam melhor, outras precisam de ajuda psicológica e há ainda outras que são mais fechadas e a quem custa muito procurar ajuda. Acho que esse deve ser o ponto em que temos todos de trabalhar mais: as pessoas que estão com depressão ou que estão a sofrer precisam de procurar ajuda. Têm de abrir-se e de falar com alguém com formação específica para isso. Por vezes no futebol somos mais fechados, mais reservados e temos mais dificuldade em pedir ajuda. Mas espero que as pessoas vejam as coisas que estão a acontecer e tentem procurar ajuda para seguir em frente.

Considera que os jornalistas, e o público em geral, têm por vezes pouca compreensão para o facto de os atletas serem também seres humanos?

Não são todos e não podemos colocar no mesmo saco toda a gente. O que sempre disse é que gosto de ser criticado pelo que faço dentro de campo, mas não o posso ser por falta de carácter, ou porque estava na noite, coisas que não têm nada a ver com o jogo. São coisas que não fazem parte dos noventa minutos e do que é um jogo. Esse critério de julgar pessoas está errado e faz muito mal aos jogadores ou aos treinadores. Se erro dentro de campo, que me critiquem, tudo bem. É justo que critiquem o jogador. Que critiquem a pessoa, sem sequer a conhecerem, é que é mau.

Também muita gente tem criticado, a propósito da Simone Biles, a necessidade doentia de ganhar. Acha que o desporto chegou a um ponto em que não há compreensão com a não vitória?

Sim, acho que sim. Se nós ficarmos em segundo ou terceiro lugar, muitos vão dizer que é um fracasso. Mas há dezoito equipas a competir. E todos têm que ganhar sim ou sim. Há atletas que conseguem lidar com isso e outros que não. Porque por vezes o caminho que fazes é perfeito, mas por um detalhe não ganhas e logo ficas definido como um fracassado. A linha que separa a vitória da não vitória muitas vezes é muito fina. Isso é muito duro psicologicamente para os atletas.

O que aconteceu ao Santiago Garcia mudou alguma coisa em si?

Obviamente, mudou. Antes de mais, porque crescemos juntos. Hoje talvez esteja mais junto das pessoas, mesmo à distância, quando há algum problema, estou sempre a falar com elas. Nos dias que correm é normal muitas vezes estarmos juntos e cada um estar fechado no seu telemóvel, nem se pergunta se está tudo bem. O que aconteceu veio fazer a diferença nisso.