João Matos dispensa apresentações, mas há coisas sobre o futsalista do Sporting que pouca gente sabe. Podia ter dado em mesatenista ou até trabalhar na área da barbearia e das tatuagens... e percebe-se porquê, não é?

Em entrevista ao Maisfutebol o capitão do Sporting falou da carreira, do futsal em Portugal e da Liga dos Campeões da modalidade (antes conhecida como UEFA Futsal Cup).

O Benfica, adversário em Portugal e pela primeira vez na Europa, também foi tema, tal Ricardinho que não reúne consenso entre os sportinguistas.

«Se ganhar a Champions deixo a minha barba ao critério dos adeptos»

‘Mais uma’. Sexta presença do Sporting na final-four da UEFA Futsal Cup (agora Liga dos Campeões), a terceira consecutiva. Como é que foi possível?

Foi possível com a nossa identidade, dedicação e empenho diário que nos leva a ter este sucesso que tem sido contínuo. Não se vê só em três anos seguidos na final-four, mas também no que fazemos nas provas internas - o tricampeonato. A forma como trabalhamos dá-nos uma intensidade de jogo que nos tem levado a obter grandes resultados.

Ainda assim, o Sporting nunca venceu este ambicionado título. Será que é desta?

Não sei. É um dos nossos objetivos, todos nós o ambicionamos muito e estamos quase obcecados por termos estado perto em três ocasiões. Mas, está mais do que provado, não podemos pensar já nisso. Agora temos de nos voltar a focar no campeonato, depois na meia-final e depois disso, sim, se lá chegarmos, na final e em conquistar a prova.

Barcelona, Kairat e Inter Movistar são as outras equipas que garantiram a presença na final-four da prova, e as três já levantaram o troféu. Há uma maior pressão por isso? O Sporting é quase um ‘outsider’…

Não há pressão extra porque não temos obrigação de nada e também não acho que sejamos outsiders porque ultimamente temos estado sempre entre as melhores equipas da Europa. Não tenho a menor dúvida de que são quatro excelentes equipas. Acredito que vá ser uma das final-four mais equilibradas dos últimos anos e que será muito interessante de se ver. Se for em Portugal mais ainda… e isso também pode ser importante para nós. Sei como é o Sporting a organizar e pelo que vimos ainda agora na Ronda de Elite, todo o jogo de luzes, os adeptos, a envolvência do jogo é fenomenal… para mim, e não me interpretem mal, atualmente o futsal consegue estar ao nível de uma NBA.

Mas o que é que tem faltado? O Sporting também já jogou a final-four em casa…

Sim, não podemos ir por aí. Inter e Kairat também já a perderam em casa. Ajuda, até porque temos adeptos que nos acompanham para todo o lado ao contrário do Inter ou do Kairat que não têm claques, mas acredito que neste momento o fator casa ajudará ao Sporting. Não tem a ver com qualidade e táticas, mas com a mentalidade de acreditar… eu acho que isso faz falta. Isso e pormenores. É uma junção de fatores que ao longo dos anos temos tentado preencher e que esperamos que este ano estejam preenchidas.  

E como foi o primeiro dérbi internacional? Foi igual aos outros?

Não, não foi igual. O Nuno Dias disse, numa das últimas entrevistas, que era o jogo das nossas vidas. E eu próprio falei com a equipa, já depois do empate com a Quinta dos Lombos, e disse que tínhamos a responsabilidade de alegrar os milhares de adeptos que temos. O sentimento era idêntico ao que há no futebol, sabíamos que íamos ter o pavilhão cheio. Eu sinto-me responsável por um sportinguista responder bem ou mal a um filho depois de um jogo ou por eu e os meus colegas chegarmos a casa e brincarmos com os nossos filhos; temos essa responsabilidade. E este jogo tinha essa responsabilidade acrescida por ser internacional.

Deu empate…

Sim, mas o que fica é que o Sporting levou a melhor e que seguiu para a final-four da Liga dos Campeões. Foi um dérbi inédito e que pode nunca mais voltar a acontecer. Eu vivi esse momento e foi único.

Mas, pelo que se viu, não acha que ambas as equipas mereciam passar?

Sim, claro que sim. O Sporting e o Benfica têm planteis para bater adversários europeus e vencer provas europeias. Tenho noção do valor deles e do nosso, mas este ano só o Sporting é que pode continuar a lutar por isso. As equipas apresentaram-se a um grande nível. Foi um jogo muito intenso, equilibrado e muito bem disputado. O Sporting tinha dois de três resultados a seu favor e jogou com isso também. Pode não ser normal para o adepto sportinguista ver o Sporting a defender tanto como na segunda parte, mas o resultado estava a nosso favor e o certo é que quem passou fomos nós.

Ser eliminado pelo maior rival em casa teria sido duro, não é?

Sim, se não tivéssemos passado e tivéssemos perdido o último jogo… teria sido desolador. A desilusão foi falada e ponderada. Mas felizmente acabámos a sorrir. A responsabilidade de jogar pelo Sporting é enorme e mesmo sendo profissional, e tentando abstrair-nos, não dá… mas isso também acaba por puxar mais por nós.