Combinámos uma entrevista de 20 minutos e acabámos por falar quase uma hora. De futebol, mas também de valores mentais e emocionais, e de grandes nomes que marcaram a carreira do jogador do Wolverhampton. De Jorge Jesus, às «comparações com Javier Saviola», à «competição com Cristiano Ronaldo», passando pelo «pai Pedro Martins», o treinador que o fez renascer, por terras gregas, logo após a tão badalada rescisão de contrato com o Sporting.

Depois das «dores, ameaças e desilusões», Podence é, de novo, o tal rapaz de personalidade forte que se sente com capacidade de «chegar ao topo do futebol mundial». O internacional está em exclusivo no Maisfutebol.

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MF - Qual foi o jogador, com quem partilhou o balneário, que mais o impressionou?
DP - O Cristiano Ronaldo, claro, e o William Carvalho. Não falo tanto pelos jogos, que todos veem, mas pelo treino, que é o trabalho diário, uma fase em que consegues ver tudo mais ao pormenor. O Cristiano é o que é, o melhor de todos os tempos, em treino e em jogo. Já em relação ao William, é muito raro encontrar um jogador com aquela qualidade.

MF - Conte-nos algumas das palestras que mais o marcaram.
DP - Há uma inesquecível do presidente do Moreirense. Ele veio falar connosco uma hora antes de irmos para a final da Taça da Liga [2017] e nós pensávamos que ia dizer que nos ia dar um grande prémio, se vencêssemos, mas não foi isso. Disse só: ‘Bem, pessoal é para dizer que este jogo não importa nada, mas, para a semana, temos o grande jogo com o Feirense, pois a manutenção é o principal objetivo.´ Ficou tudo a rir, estávamos a preparar uma final da Taça da Liga, um jogo inédito, e, em janeiro, ele já estava a falar de jogos decisivos para a manutenção. O prémio pela conquista da Taça foi mil euros, mas depois, em abril, e equipa ganhou um jogo importante para a manutenção e o presidente deu um prémio de três mil euros (risos). Eu não recebi porque já estava no Sporting…

MF - E histórias de Jorge Jesus?
DP – Há várias, nem vale e pena estar a referir, bastava ele dar umas calinadas no português, já começávamos a rir entre nós. Ele transmitia muita autoridade e não chegava ao ponto de criar um ambiente de muita graça. Mas há uma de que me lembro do mister Rui Jorge. Antes de um jogo com Liechtenstein, que era uma equipa fraquinha, o mister mostrou um vídeo de um jogo deles e, entre nós, ninguém disse nada. A dada altura, ele diz: ‘Bem, malta, não vos vou esconder nada, é isso que vocês viram, as vossas mães faziam melhor do que estes gajos’ (risos). E era verdade, ganhámos 7 ou 8-0…

MF - Acha que Rui Jorge pode chegar a selecionador A de Portugal?
DP - Tem todas condições para chegar lá, tem grandes ideias, uma personalidade forte, percebe o que é o jogo, percebe da parte humana, porque foi jogador a grande nível durante muito tempo. Ele está no momento ideal para aprender, sabe o percurso que quer.

MF - Só falta falar de Nuno Espírito Santo, o seu atual treinador no Wolves.
DP - É uma pessoa muito calma, respeitadora, também sabe o que é ser jogador. Eu não sabia que ele tinha ideias tão boas e tão vincadas sobre a própria ideia de jogo, ou seja, não consegues encontrar ninguém no mundo com as ideias e forma de jogar dele. Ele é único na forma como monta a equipa e a faz jogar.

MF - Depois do que se passou, das críticas que recebeu de adeptos do Sporting, de ex-presidentes e dirigentes, via-se a voltar ao Estádio José Alvalade, em breve, nem que seja para ver um jogo?
DP – Para ver um jogo em Alvalade é impossível, obviamente não seria bem recebido, nem sei se me deixariam entrar, mas gostava de lá voltar. É o meu clube, é uma casa que vai ser sempre minha, faça o que fizer, ou façam-me o que fizerem, o passado ninguém pode apagar, gostava de voltar a jogar em Alvalade. A decisão de rescindir foi minha e há muitas pessoas que não a entendem, mas uma coisa é não entender e respeitar, outra é não entender e assobiar ou chamar nomes e ameaçar. Isso já passa uma barreira, é isso que não compreendo e que nunca compreendi, e é algo que me tem magoado. Uma coisa são os 50 adeptos que invadiram a Academia, é uma minoria, mas se um adepto do Sporting, que não foi à Academia naquele dia, depois ameaça o Podence porque ele rescindiu, já faz parte dessa minoria. Eram 50, agora já são 5 ou 10 mil que não gostam do Podence. Isso revolta-me, mas é uma decisão minha, que tomei a pensar em mim, no meu futuro e que acho legítima.