Das escolinhas em Fafe à estreia, aos 17 anos, pelo Vitória SC, da queda ao sucesso. Tomané, avançado que se transferiu este ano do Tondela para o Estrela Vermelha, da Sérvia, falou em exclusivo ao Maisfutebol.

Tomané estreou-se, nesta temporada, na Liga dos Campeões, depois de quase ter descido de divisão com o seu Tondela na época passada. Da paixão pela Alemanha aos ordenados em atraso na Grécia, da má experiência no Arouca ao agradecimento profundo ao Tondela. O avançado português, a quem já disseram que era mais fácil se fosse Tomanevic, detalha as experiências da sua carreira profissional e não esconde o desejo de representar Portugal.

Da mágoa da descida à felicidade da manutenção, com Otamendi, um osso duro de roer, pelo caminho. Nesta Parte III, olhamos ao futuro de Tomané, que, em Portugal, só é desejável que passe pela Seleção.

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Maisfutebol - Equaciona o regresso a Portugal num futuro próximo?

Tomané - O objetivo é não voltar a Portugal tão cedo, é a minha ambição, mas pode acontecer e no próximo ano já estar em Portugal. Isso depende de tudo, mas o meu objetivo é estar quatro, cinco anos fora, porque financeiramente não compensa estar em Portugal, infelizmente não pagam o que pagam aqui fora, e não conto voltar a Portugal tão cedo. No futebol é o momento, eu já aprendi no passado, não devemos pensar no futuro, tenho contrato de três anos, mas penso a curto prazo, o futebol é assim. A minha ambição é ficar fora do país durante uns anos, mas vamos ver o que acontece.

MF - Fernando Santos afirmou, há algum tempo, que não havia números nove em Portugal. É difícil ser ponta de lança em Portugal?

T - É preciso ser dada a oportunidade. Criou-se essa coisa de falta de pontas de lança na seleção. Se calhar, se derem a oportunidade a jogadores que se estejam a destacar noutros clubes… Eu vou acompanhando Portugal e temos avançados em Portugal que estão a fazer golos, e outros que não estão. Vejo jogadores com muita qualidade, como o Paulinho, no Sp. Braga, que está muito bem, outros jogadores que têm muita qualidade, não é só os que jogam nos três grandes. É quem esteja melhor, tenha 30, 18 ou 38 anos. Não concordo com a falta de números nove, mas respeito e apoio sempre Portugal, e espero que Portugal, no Europeu, possa ganhar. Mas acho que temos muitos avançados e há que dar a oportunidade e depois ver, realmente, se o jogador não aproveitar a oportunidade, e avaliar.

MF - Quanto à sua alcunha, Tomané, nunca ninguém brincou consigo a dizer que tinha mais pinta se se chamasse Tomanevic ou algo do género?

T - Já me disseram que, se me chamasse isso, já estava num grande há algum tempo, e eu vejo isso em alguns jogadores, que, ao serem portugueses, é mais difícil que outros. Há aquela situação do «ah se fosses de outro país» e vejo jogadores que quase foram mandados embora de outros clubes a jogar no Wolverhampton: o Rúben Neves, o Pedro Neto, o Podence, jogadores que têm muita qualidade e em Portugal não tiveram grandes oportunidades. Em relação ao Tomanevic, não há grandes brincadeiras porque não dou azo a isso.

MF - Se tivesse de nomear o melhor momento que já viveu em campo, qual seria?

T - O melhor momento, o ano passado, o último jogo, quando o árbitro apitou. Não sei se foi o melhor momento, mas foi quando saiu de mim um peso enorme. Nessa despedida ao Tondela parecia que estava a jogar com uma corda no pescoço e estavam a puxar e, a qualquer momento, ia morrer. Foi um momento de felicidade e de descompressão, completamente, de me sentir realizado e um sentido de objetivo cumprido. Liga dos Campeões é Liga dos Campeões, mas aquele momento, muita coisa podia acontecer, não era se calhar comigo, mas uma descida de divisão que envolva um clube, uma cidade, as pessoas que trabalham lá, é difícil. No Tondela, o ano passado foi muito difícil, e no final do jogo foi o momento mais relaxante que usufruí e gostei, e a festa enorme e a alegria das pessoas e dos funcionários e jogadores tocou-me muito, é esse momento por tudo o que envolve.

MF - E o pior?

T – A descida de divisão no Arouca foi o pior momento da minha carreira, um momento triste e que ninguém esperava. Não dá para explicar, faz parte da vida, há momentos bons e maus em todo o lado.

MF - Qual foi o defesa mais complicado que já enfrentou?

T - Já defrontei alguns defesas difíceis, mas, para mim, o Otamendi, na altura no FC Porto. Não era muito alto, mas era fortíssimo, muito rápido, muito bom, e foi um jogador muito difícil, e defrontei muitos bons defesas.