As 85 internacionalizações totalizadas dos sub-16 aos sub-21 fazem de Tomás Podstawski o jogador mais internacional da sua geração.

Aos 22 anos, depois de presenças em Europeus, num Mundial sub-20 nos Jogos Olímpicos de 2016 e de títulos conquistados ao serviço do FC Porto, clube onde fez quase toda a formação, o médio cortou a ligação umbilical aos azuis e brancos para assinar por três épocas pelo V. Setúbal.

Três meses depois de ter chegado aos sadinos, diz estar feliz pela decisão tomada para a carreira e garante não guardar mágoa por nunca ter chegado a estrear-se com a camisola principal do FC Porto, mesmo depois de ter sido apontado como um dos talentos mais promissores do Olival.

Podstawski falou com o Maisfutebol após um treino do Vitória no Vale da Rosa, nas imediações de Setúbal. Passou em revista os nove anos ao serviço dos dragões, a lesão grave sofrida na época passada, abordou o momento do emblema sadino no campeonato, a experiência acumulada nas seleções nacionais de Portugal e a ligação forte à Polónia.

«A entrevista vai durar muito tempo?», perguntou-nos no centro do relvado do local de treinos do V. Setúbal antes de ir de folga no fim de semana.»

«Também depende de si.»

Durou mais do que estava previsto.

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Três meses depois de ter chegado ao V. Setúbal e de ter-se estrado na Liga, sente agora que também foi importante cortar aquela espécie de cordão umbilical que o ligava ao FC Porto?

Sim, sim. Foi muito importante. Jogar na Liga não era algo que me assustava numa perspetiva de pressão ou de me sentir ou não confortável no jogo. Já estava habituado a isso do FC Porto e da Seleção. Era importante jogar na Liga e cortar esse tal cordão umbilical, mas não era algo que receasse.

Não houve aquele choque de entrar numa outra realidade competitiva?

Não. Já tinha essa experiência num clube grande e na Seleção. É mais exigente, certo. Mas se me perguntar se jogar contra clubes da Liga é mais exigente do que jogar contra uma seleção sub-21 da Alemanha… Estamos a falar de uma seleção que dava trabalho a algumas equipas da nossa Liga se a metêssemos cá [risos].

Falhou quase toda a época passada por causa de uma lesão num joelho. Esse período também serviu para refletir acerca do que queria para o futuro imediato?

Foi um momento de decisão! Estava no meu último ano de sub-21, ia fazer 22 anos. Era a altura de tomar decisões, de crescer. Tomei a decisão de vir para cá e estou muito contente por ter vindo para aqui, onde posso mostrar-me e ter visibilidade num patamar que a II Liga já não me proporcionava.

E a lesão? Sente-se a 100 por cento?

Foi uma lesão muito complicada, mas tive todo o apoio, recuperei muito bem e não sinto diferenças. Claro que tive de ser responsável durante a recuperação.

E porquê o Vitória? O facto de José Couceiro ser um treinador com um histórico comprovado de aposta em jovens também pesou na decisão de vir para cá?

Sem dúvida! Já tinha havido um interesse anterior da parte do mister José Couceiro. Fiquei feliz pelo facto de me contactar e de dizer que gostava das minhas capacidades. Estamos a falar de alguém que está atento ao futebol jovem e que passou inclusive pelas seleções nacionais. Quando sentimos esse apoio por parte dos treinadores e do clube é meio caminho andado para abraçarmos um desafio com motivação.

 Levar com empates e uma ou outra derrota não é algo que esteja no meu ADN»

Não hesitou quando foi convidado pelo Vitória?

Houve diversas propostas, mas esta foi sempre aquela em que mais me foquei. Foi a mais forte de todas e senti que era aquela em que poderia juntar tudo o que era mais importante para mim: jogar, evoluir e ter alguém que confie nas minhas qualidades.

E aqui também encontrou o Gonçalo Paciência, antigo colega na formação do FC Porto…

Ele é que me encontrou. Eu vim primeiro [risos].

Torna-se tudo mais fácil assim?

Sim. É muito bom estar com uma pessoa com quem já tive vivência na Seleção e no FC Porto. Estive nove anos a conviver com ele. É ótimo também porque ele traz grandes capacidades para a equipa e quer mostrar que é um jogador capaz. Eu também não fujo a esses objetivos. Estamos aqui com o intuito de melhorar, de querer mais e elevar o nome do Vitória.

Há muitos anos que carrega consigo esse rótulo de promessa do futebol português. Agora, aos 22 anos, estreou-se na Liga. Esperava que isso tivesse acontecido mais cedo?

Esses rótulos também são feitos pela imprensa. Claro que os jogadores de clubes grandes – Benfica, Sporting e FC Porto – são promessas. Chegar mais cedo não era algo que partisse da minha decisão. Não era em que decidia isso. Se me perguntasse se eu queria estar a jogar aos 18 anos na Liga, queria, mas será que estava preparado na altura? Era o melhor para mim? Isso é difícil de dizer e seria estar a entrar no mundo dos «ses». O caminho é o que é e foi um caminho bom.

(…)

O que sei é que nessa altura estava num clube que me dava tudo, que me ajudou a crescer e a quem devo a minha formação. Guardo grandes memórias e grande respeito da cidade do Porto e sou portista. Continuo a gostar do FC Porto, mas agora sou vitoriano. Gosto de estar aqui e quero ganhar jogos, até porque estou habituado a ganhar.

Hábitos diferentes.

A esse nível tem sido um bocado diferente. Levar com empates e uma ou outra derrota não é algo que esteja no meu ADN. Tenho de habituar-me a esta realidade, mas quero ajudar a incutir no Vitória uma veia ganhadora e de ambição. Vou fazer aquilo que me compete. Sinto-me estável e dentro dessa estabilidade quero criar uma… instabilidade [risos].

A nível de concorrência interna…

A nível de concorrência interna e não só. Também fora, que é sempre importante.

Recuando ao rótulo de promessa. Sempre conviveu bem com essa colagem, ou a partir de uma determinada fase isso acaba por tornar-se um peso?

Nunca senti nenhum peso. As coisas aconteceram sempre com naturalidade. Sempre estive contente com o meu jogo, a minha vida, a escola e as condições que tinha. Sonhava e continuo a sonhar alto para poder atingir um patamar superior. Quem se acomoda acaba por [pausa].

Resignar-se.

Exatamente. Acaba por não conseguir chegar a um nível elevado. Sonhar alto, sim, mas dentro da realidade. E aqui isso é possível. Tenho um equilíbrio que me permite crescer.

A classificação deixa-nos frustrados porque temos capacidade para estar muito mais em cima

Foi titular em seis das oito primeiras jornadas do campeonato. Que balanço faz destes primeiros meses de época a nível pessoal?

Estou contente e quero continuar a crescer e a melhorar nos aspetos em que tenho de melhorar.

Sente que pode dar mais?

Claro que sim. Sinto e as pessoas que estão à minha volta também sentem isso. Não é de um dia para o outro que vou fazer cinco golos e duas assistências… A evolução é gradual, mas quero explodir, dar o meu melhor e atingir o máximo das minhas capacidades. Mas o que importa é melhorarmos todos, atingirmos o nosso objetivo coletivo e ganhar os jogos que queremos ganhar para podermos ser vistos da melhor forma.

E o Vitória ainda pode dar mais? Está apenas um ponto acima da zona de despromoção.

Sim. A classificação deixa-nos frustrados porque temos capacidade para estar muito mais em cima. Acreditamos que podemos chegar lá, mas o nosso primeiro objetivo agora é estabilizar e obter vitórias. Primeiro no próximo jogo da Taça de Portugal e depois no campeonato. Mas sentimos que podemos fazer mais e que podemos crescer na classificação.

Em três dos quatro empates na Liga, o Vitória esteve a vencer até relativamente perto do fim e duas das três derrotas aconteceram também nos minutos finais. Já identificaram o que é que pode justificar este padrão? Ansiedade? Alguma inexperiência?

Acho que acaba por ser um pouco de tudo. Não acredito no azar e na sorte. Acredito na competência. Nos minutos finais temos pecado. Temos falhado em pequenos detalhes que podemos resolver de uma forma mais simples e que no final acabam por vir ao de cima. Podemos melhorar a nossa competência dentro de campo e acho que vamos consegui-lo. Podemos ter mais bola, criar mais oportunidades, ser melhores no um contra um, em momentos de cobertura, de entreajudas, a perceber que um metro faz a diferença ou que uma falta que não devia ser feita e até um lançamento mal feito também podem fazer a diferença…

Gosto de entrar em campo e sentir o que estou a representar. Sou uma pessoa que se interessa por história e gosto de estar informado

A ideia é garantir a manutenção o mais cedo possível para afastar a pressão?

Sim. É um dos nossos objetivos! Os pontos não são mais importantes a partir de março, que é quando estamos mais perto do final do campeonato. É importante somar pontos numa fase inicial para podermos atingir uma classificação estável, jogar de uma forma mais serena e possivelmente redefinirmos depois os nossos objetivos. Depois, a nível de taças o Vitória tem um historial imponente: somos o quarto clube com mais finais da Taça de Portugal.

Vejo que tem consciência do currículo que o Vitória tem. É importante beber a história de um clube a que se acaba de chegar?

Gosto de entrar em campo e sentir o que estou a representar. Sou uma pessoa que se interessa por história e gosto de estar informado. Estar mais dentro da história do próprio clube, perceber a situação dos colegas e o enquadramento de toda a estrutura é importante para melhorar. União de grupo não é só dar uma palmadinha nas costas e rir. Conhecermo-nos todos bem também é muito importante.

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