* Enviado-especial do Maisfutebol ao Brasil

«Alô Brasil» é o Diário de Bordo de João Tiago Figueiredo, enviado especial do Maisfutebol ao Mundial 2014, no Brasil


Dia 10: uma mercadoria para dar e vender

Cenário 1: Portugal

-Bom dia. Desculpe.
-Bom dia.
-Pode dar-me uma informação, por favor?
-Sim, claro, diga.
-Onde fica o shopping?
[inserir resposta]


Cenário 2: Brasil

-Fala aí, onde fica o shopping?
-Aí velho/cara/negão (riscar o que não interessa) [inserir resposta]


No Brasil, há a fama de que tudo corre devagar. O pessoal é tranquilo, não stressa. Não vive: aproveita. Desfruta. O por favor é implícito e as desculpas evitam-se.

O povo brasileiro é também bem mais prático. Simples. As carências existem. São evidentes em vários passeios pelas cidades que até agora conheci. Mais notórias em Salvador, onde a separação de classes me pareceu menos evidente. Mas em Belo Horizonte também as encontrámos.

E são essas carências que fazem tão bela a forma como os brasileiros encaram a vida. Como um dom. A alegria é mesmo a mercadoria mais valiosa por estes lados.

Nota-se na forma como falam uns com os outros, como atiram um «Bem-vindo!» de sorriso rasgado sempre que ouvem a palavra Portugal. Na forma como pedem informações, como apoiam no futebol. Até como rezam.

Este sábado, no caminho para o Argentina-Irão, passei por várias organizações religiosas que faziam a festa na rua. E festa era mesmo festa. Com música, dança, coreografias organizadas. Sorrisos, muitos.

Uma das presentes agarrou-me e gritou: «Jesus te ama!». Fiquei meio sem jeito.

Lembrei-me depois da forma como se professa a religião em Portugal. Das Igrejas frias onde o riso é proibido. Da atenção extrema ao que chamam faltas de respeito.

Pode ser, também, a imagem de um povo. No Brasil tudo é motivo para uma festa. E se o país tem fama de lento e burocrático, as pessoas são bem simples e diretas. E vendem alegria.

Exportem um pouco para o nosso cantinho na Europa, por favor.