Cria gado, produz milho, monta a cavalo… Quando está na Bolívia, Erwin Sánchez dedica-se sobretudo à vida no campo, na fazenda de que é proprietário nos arredores da sua cidade-natal de Santa Cruz de la Sierra.

No Porto, a vida é diferente, mas mantém-se o convívio com a família e os amigos, bem como a religiosidade, que está sempre presente na vida do treinador bolíviano.

 

Terminou a época e agora está de regresso à Bolívia. Vai dedicar-se nas férias à sua fazenda?

Sim, criar animais é um gosto de miúdo. Desde jovem tinha a ideia de montar a cavalo e de um dia ter gado…

Quantas cabeças de gado tem?

Algumas (risos). A fazenda fica a uns 20 quilómetros da minha cidade, Santa Cruz de la Sierra. Criamos gado bovino e semeamos milho. Tudo para abastecer o mercado interno. No futebol também há que semear para colher. Vamos esperar que a semente seja melhor ainda no próximo ano.

A vida é diferente no Porto.

Estou mais por casa, com a família, a conviver com os meus dois filhos. Vou para a beira-rio, tento desligar-me completamente do dia-a-dia no futebol e estar com os amigos. Por exemplo, ainda recentemente fui a Cascais e liguei ao Fernando Santos [selecionador nacional] para tomarmos um café. Foi meu treinador no Estoril, tínhamos uma boa relação e não estava com ele há anos.

É também conhecido o seu lado religioso. Como correu a sua recente peregrinação a Fátima juntamente com a equipa técnica?

Terminou na segunda-feira da semana passada, após o jogo com o FC Porto da última jornada. Fizemos o itinerário por etapas à medida que podíamos. Treinávamos de manhã, almoçávamos e arrancávamos a seguir para cumprir uma parte do trajeto. Fomos sobretudo agradecer o objetivo cumprido no final da época e principalmente agradecer o facto de estarmos no futebol e termos saúde para fazer aquilo que tanto gostaS

Sánchez e o preparador físico Juan Bertaini a caminho de Fátima

Costuma de fazer promessas?

Por vezes, sim. Até posso contar um episódio curioso. Sou devoto da Virgem de Cotoca, que fica a uns 20 quilómetros de Santa Cruz. Estava em peregrinação ao santuário, quando a uns quatro ou cinco quarteirões da chegada o meu telemóvel tocou. Estava com o Juan, preparador físico da minha equipa técnica, mostrei-lhe o telefone e disse: «Olha, é o Álvaro Braga (presidente da SAD do Boavista)… De Portugal.» Ele dizia-me para atender e eu respondi: «Primeiro, vamos cumprir a nossa promessa e chegar ao santuário… Só depois ligo de volta.» Quando devolvi a chamada, recebi o convite para vir treinar o Boavista.

Também estava a cumprir uma promessa relacionada com o futebol dessa vez?

Era uma coisa mais pessoal, mas no fundo está tudo relacionado. Acredito muito que é possível concretizar qualquer coisa desde que queiramos muito do fundo do coração.

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