«Se tiver que haver greve que haja e se querem suspender a competição irão de férias mais tarde, mas não vamos submeter-nos à chantagem da Federação»
Javier Tebas, presidente da liga espanhola


«Decidimos parar conscientes de que temos razão. Sentimo-nos fortes»
Luis Rubiales, presidente da associação de jogadores


O presidente da liga espanhola aponta baterias à federação. O ponto de situação é feito de forma concreta pelos jogadores. Confuso? Não é assim tanto. Já ficará explicado por que está o futebol espanhol neste estado, num estado de guerra aberta entre instituições, como mostram estas declarações desta quinta-feira veiculadas pelo jornal «Marca».

A arma que está a ser empunhada é a da greve. Comece-se por aí. Quais são as consequências imediatas? A realização das duas últimas jornadas da liga espanhola e a final da Taça do Rei de Espanha (pelo menos nas datas previstas) estão postas em causa. A greve foi anunciada na quarta-feira pela Real Federação Espanhol de Futebol (RFEF).

A Associação de Futebolistas Espanhóis (AFE) tinha pré-convocado a greve para os dias 16 e 17 de maio «e de forma indefinida», como informou a federação espanhola comunicando também que «manifestaram a intenção de não participar nas competições» elementos da arbitragem, treinadores e federações autonómicas.

A RFEF anunciou então em comunicado que decidiu em reunião de direção «suspender todas as competições de todas as categorias a partir do dia 16 de maio com caráter indefinido». Um dia depois, os jogadores juntaram-se em conferência da imprensa para confirmar, pela sua parte, a paralisação.



A Liga de Futebol Profissional (LFP) de Espanha manifestou-se em dois momentos. Na quarta-feira, em comunicado, o organismo apontou uma nulidade formal e legal da decisão da federação. Já nesta quinta-feira – dia em que os jogadores se mostraram –, o presidente da LFP, Javier Tebas, apareceu pessoalmente para criticar o seu homólogo na RFEF, Angél María Villar.

Tebas classificou como «loucura, ousadia e irresponsabilidade» a decisão da «instituição de Ángel María Villar, que não sabe o rumo que devem tomar o futebol profissional e amador». E o presidente da liga espanhola ultrapassou o plano da divergência institucional para referir que a decisão da federação «só responde a um interesse pessoal».

O que reivindica então a RFEF? Primeiro do que tudo, a federação quer que o governo espanhol altere o decreto-lei que regulamenta a divisão das receitas televisivas antes de este documento ser ratificado pelo congresso – o que está previsto acontecer nos próximos 10 dias.

Mas além disso, a federação também contesta a perda das receitas das apostas, as inspeções das Finanças, as ingerências do Conselho Superior do Desporto (CSD) espanhol. A RFEF considera que o futebol espanhol foi «desprezado pelo Governo», que utiliza «dinheiro privado do futebol para políticas desportivas através do CSD para outras atividades alheias ao futebol».

Estrelas mostram-se, mas também são alvo de críticas

Nem o governo espanhol nem o CSD responderam ainda aos reptos feitos. Já Tebas, sim: «Peço ao Governo que mantenha e não toque nem numa vírgula do Decreto.» «Se o Governo se submete a esta chantagem irresponsável daremos um passo atrás na regeneração do futebol espanhol», defendeu o presidente da liga.

Tebas nunca se referiu aos jogadores e, pelo que já foi relatado, a guerra pelo controlo do dinheiro do futebol espanhol está a ser feita ao mais alto nível institucional. Mas os futebolistas também decidiram entrar oficialmente na batalha. O facto de não terem sido chamados à discussão é precisamente um dos argumentos apontados para a sua posição.

«Estamos a pedir que a AFE seja reconhecida», afirmou nesta quinta-feira o presidente dos jogadores, Luis Rubiales, marcando posição: «Somos atores importantes porque ajudamos a gerar receitas.» A associação de futebolistas queixa-se de nem sequer lhe «terem dado a possibilidade de sentar à mesa», eles que são «oito mil membros», para discutir uma nova lei do desporto «muito grave porque permite à Liga decidir como quer no futebol».

As fações estão formadas nesta questão. Os jogadores não deixam também de frisar que uma das suas reivindicações é uma divisão mais repartida das receitas televisivas entre os escalões profissionais.
 


A AFE fez também questão de frisar que as revindicações que respeitam a dinheiros têm como principal motivo a melhoria das condições dos futebolistas que ganham pouco e que precisam de se preocupar com a fonte de rendimento depois de deixarem o futebol. «O dinheiro que pedimos é para os mais humildes, para a segunda [divisão] B. Para que os humildes tenham dinheiro quando se retirarem», afirmou Rubiales.

Atrás do presidente da associação de futebolistas estavam jogadores dos principais clubes espanhóis, como Casillas e Sergio Ramos (Real Madrid), ou Iniesta, Piqué e Xavi (Barcelona), ou Juanfran (At. Madrid), ou Parejo (Valencia). A presença de algumas das maiores e mais internacionais estrelas do futebol espanhol quis mostrar a força dos futebolistas nesta questão; ampliando esta manifestação nas redes sociais.
 


 


 


Mas o facto de serem jogadores dos mais bem pagos do mundo a darem a cara por estas questões gerou também reações contrárias de condenação das exigências – uma mais institucionais; outras mais irónicas…
 

 

 


O que é outro facto é que, sob a hashtag #RealDecretoConAFE, a batalha está feroz.