O Maisfutebol aproveitou a presença na Conferência de Marketing Desportivo para falar com o professor William Sutton, a referência mundial da área e antigo vice-presidente da liga americana de basquetebol.
Para Sutton, o futebol português tinha muito a ganhar com a organização desportiva que é base da NBA. «Quando comecei a trabalhar na NBA, os jogos profissionais eram disputados à tarde e não tinham grande cobertura televisiva porque ninguém os ia ver. Há 20/30 anos, havia uma ideia de provocar mudanças na NBA e adaptar as competições ao tempo presente. Quem trabalha nas direcções das ligas tem que ter essa capacidade de visão, é a chave.»
O professor da Universidade da Florida não se escusou a falar da situação concreta do campeonato português e sugeriu medidas para o melhorar, ainda que não acredite que elas possam realmente ser postas em prática. «Vocês têm três equipas fortes e umas quantas fracas. Para a liga ser efectiva, competitiva, as equipas grandes teriam de ser enfraquecidas, para permitir às restantes tornarem-se mais competitivas. Actualmente, como são sempre os mesmos clubes a ganhar, a liga perde interesse e competitividade», constatou.
«A liga portuguesa melhorava com draft à americana»
A solução? «Nos Estados Unidos (NBA), o sistema faz os melhores jogadores irem parar às equipas mais fracas a cada ano. O nosso sistema de draft foi trabalhado nesse sentido. Por exemplo, a equipa que vence fica com o pior jogador no draft. A última equipa fica, por sua vez, com a primeira escolha, com o melhor jogador disponível nesse draft. Isso foi estabelecido para fortalecer a liga e não para fortalecer as equipas já de si superiores. É essa a mentalidade a seguir para conseguir melhorar um campeonato.»
O grande problema é que para isso acontecer, os grandes craques têm que aceitar «descer de nível. Parece-me, por isso, que seria difícil instalar um sistema semelhante em Portugal. Um jogador de primeiro nível não ia aceitar ir para uma equipa má. Não teria nada a ganhar, mas por outro lado, o jogador de 15 anos, que esteja a aparecer e que tenha talento para ser uma super-estrela no futuro, tem tudo a ganhar com isso.»
«A paixão dos portugueses é intensa»
Sutton admite que o futebol português tem algumas particularidades. «A Liga portuguesa serve um propósito. A paixão das pessoas pelos emblemas é muito forte, move muita coisa. A identificação entre pessoas e o seu clube é muito próxima. O que parece também acontecer com a selecção.»
A questão da competitividade em Portugal é o único ponto menos positivo, admite o especialista, mas pode ter uma solução. «Se tivermos duas equipas a jogar e uma delas for um dos três grandes, já sabemos que ele vai vencer. Isso reduz a atenção, a menos que eu seja desse clube. Aí é óbvio que o quero ver ganhar. Eu começaria por tentar perceber porque é que as três equipas mais fortes o são e saber o que tenho de fazer, como líder, como chefe, como responsável da Liga ou da Federação para fazer outros clubes chegarem ou aproximarem-se desse nível.»
«O futebol português precisa de atenção»
Para William Sutton, o essencial é perceber o que as pessoas gostam e o que não gostam. «Diria que o estado do futebol português precisa de receber atenção. Sendo fã do desporto e não rigidamente do clube x, quero ver um bom espectáculo, quero emoção. E se calhar não tenho tanta emoção porque já sei o que vai acontecer a seguir: o que costuma ganhar, ganha.»
A autoridade mundial do marketing desportivo deixa a sua ideia para os clubes mais pequenos conseguirem auxilio para superar a crise. Os adeptos podem ser o melhor apoio. «O meu objectivo seria fazer crescer o clube para máximo de nível possível. Mudaria tudo o que fosse preciso para conseguir apelar mais aos fãs», remata.