Crónica de uma morte lenta
Situado no centro da cidade de Aveiro, ao lado da universidade e do hospital, o Mário Duarte continuou sempre a ser visto como a casa dos beiramarenses. Além de não ter essa localização central, o novo Municipal nunca teve a ligação afetiva dos adeptos. Seja qual for o motivo, os números das assistências nos jogos do Beira Mar em casa foram diminuindo e nunca pararam os pedidos dos adeptos para que os jogos voltassem ao Mário Duarte. Mas a Câmara de Aveiro não pretendia deixar vazio o novo estádio, que custou mais de 60 milhões de euros.
Inicialmente a autarquia pretendia vender o estádio antigo à Universidade de Aveiro. O negócio foi feito, no valor de 2,5 milhões de euros, mas o Tribunal de Contas invalidou a compra considerando que houve irregularidades por parte da Universidade. O contrato deveria ter sido alvo de visto prévio do Tribunal de Contas e aprovação do Conselho de Ministros. O que não aconteceu. A autarquia devolveu o dinheiro, voltou a ficar com o estádio e a ter que pagar trimestralmente ao banco com que tinha feito uma operação de leasing sobre o imóvel.
Uma tentativa de vender o estádio em hasta pública, em 2005, também não surtiu efeito. Com a alteração do PDM, os terrenos deixaram de ser categorizados como «equipamentos» para passarem a ser área de habitação e comércio. Chegou a ser planeada uma urbanização de luxo no local, mas o empreendimento não avançou.
O estádio foi ficando sem utilização constante, sendo usado ocasionalmente para os treinos da equipa. Em 2014, depois de a SAD do clube, que tinha os direitos de uso, ter deixado de pagar as despesas correntes, o estádio ficou sem serviço de limpeza. Nas bancadas cresceu vegetação pelo meio de cadeiras partidas e o campo relvado permaneceu completamente abandonado, sem manutenção ao longo de vários meses.
Os direitos de utilização do estádio passaram então da SAD de volta para o clube. Este Verão, um grupo de voluntários deitou mãos à obra e resolveu devolver a vida ao velho recinto. Durante várias semanas foram limpando, pintando e tratando tudo o que puderam, desde as bancadas ao relvado e aos balneários. «O objetivo é recuperar esta infraestrutura para ser a casa dos escalões de formação do clube», contou ao Maisfutebol Hugo Coelho, do departamento de formação do Beira Mar, e um dos dinamizadores da iniciativa, que foi juntando cada vez mais voluntários.
Afinal, o Mário Duarte terá um destino diferente. Fonte da direção do clube revelou ao Maisfutebol que há um acordo com a autarquia para que o Beira Mar jogue esta época (2015/16) no velhinho estádio. Recorde-se que problemas financeiros levaram a que o clube caísse para as competições distritais, e voltar «a casa» poderá ajudar a trazer os adeptos de volta neste começar de novo.
A Câmara de Aveiro permitiu assim excepcionalmente que o recinto voltasse a ser utilizado para os jogos da equipa sénior, mas frisou que seria apenas esta época. Na próxima, o Beira Mar deverá voltar a jogar no Estádio Municipal de Aveiro, que esta época terá ocasionalmente jogos do Arouca, do Tondela e da formação beiramarense.