Desde que em 2004 o Beira Mar se mudou para o novo Estádio Municipal de Aveiro, os adeptos pedem o regresso do clube a casa, ao Mário Duarte. Propriedade da autarquia, foi hipotecado num negócio que permitiu à Câmara Municipal de Aveiro receber as verbas que ajudaram à construção do novo recinto para o Euro 2004. Agora, numa altura em que o clube foi empurrado para os distritais por questões financeiras, esse desejo será cumprido, mas por pouco tempo. Uma alteração ao PDM (Plano Diretor Municipal) transformou os terrenos do velhinho estádio em zona para habitação e comércio. Durante a época 2015/16 voltará a ser, excepcionalmente, palco dos jogos de futebol do Beira Mar.
 
Crónica de uma morte lenta
 
Situado no centro da cidade de Aveiro, ao lado da universidade e do hospital, o Mário Duarte continuou sempre a ser visto como a casa dos beiramarenses. Além de não ter essa localização central, o novo Municipal nunca teve a ligação afetiva dos adeptos. Seja qual for o motivo, os números das assistências nos jogos do Beira Mar em casa foram diminuindo e nunca pararam os pedidos dos adeptos para que os jogos voltassem ao Mário Duarte. Mas a Câmara de Aveiro não pretendia deixar vazio o novo estádio, que custou mais de 60 milhões de euros.
 
Inicialmente a autarquia pretendia vender o estádio antigo à Universidade de Aveiro. O negócio foi feito, no valor de 2,5 milhões de euros, mas o Tribunal de Contas invalidou a compra considerando que houve irregularidades por parte da Universidade. O contrato deveria ter sido alvo de visto prévio do Tribunal de Contas e aprovação do Conselho de Ministros. O que não aconteceu. A autarquia devolveu o dinheiro, voltou a ficar com o estádio e a ter que pagar trimestralmente ao banco com que tinha feito uma operação de leasing sobre o imóvel.

Uma tentativa de vender o estádio em hasta pública, em 2005, também não surtiu efeito. Com a alteração do PDM, os terrenos deixaram de ser categorizados como «equipamentos» para passarem a ser área de habitação e comércio.  Chegou a ser planeada uma urbanização de luxo no local, mas o empreendimento não avançou.
 
O estádio foi ficando sem utilização constante, sendo usado ocasionalmente para os treinos da equipa. Em 2014, depois de a SAD do clube, que tinha os direitos de uso, ter deixado de pagar as despesas correntes, o estádio ficou sem serviço de limpeza. Nas bancadas cresceu vegetação pelo meio de cadeiras partidas e o campo relvado permaneceu completamente abandonado, sem manutenção ao longo de vários meses.
 
Os direitos de utilização do estádio passaram então da SAD de volta para o clube. Este Verão, um grupo de voluntários deitou mãos à obra e resolveu devolver a vida ao velho recinto. Durante várias semanas foram limpando, pintando e tratando tudo o que puderam, desde as bancadas ao relvado e aos balneários. «O objetivo é recuperar esta infraestrutura para ser a casa dos escalões de formação do clube», contou ao Maisfutebol Hugo Coelho, do departamento de formação do Beira Mar, e um dos dinamizadores da iniciativa, que foi juntando cada vez mais voluntários.
 


 
Afinal, o Mário Duarte terá um destino diferente. Fonte da direção do clube revelou ao Maisfutebol que há um acordo com a autarquia para que o Beira Mar jogue esta época (2015/16) no velhinho estádio. Recorde-se que problemas financeiros levaram a que o clube caísse para as competições distritais, e voltar «a casa» poderá ajudar a trazer os adeptos de volta neste começar de novo.
 
A Câmara de Aveiro permitiu assim excepcionalmente que o recinto voltasse a ser utilizado para os jogos da equipa sénior, mas frisou que seria apenas esta época. Na próxima, o Beira Mar deverá voltar a jogar no Estádio Municipal de Aveiro, que esta época terá ocasionalmente jogos do Arouca, do Tondela e da formação beiramarense.