[artigo atualizado]

Terminados os sucessivos empréstimos por parte do Sp. Braga, onde demonstrou dificuldades de afirmação, João Pedro encontrou aos 31 anos em território cipriota a estabilidade que desejava, ao aliar a qualidade de vida à possibilidade de continuar a rubricar exibições ao mais alto nível.

Formado precisamente nos «arsenalistas», desde cedo experienciou, à semelhança de tantos outros talentos, as dificuldades de adaptação inerentes à passagem para o futebol profissional e acabou cedido ao Penafiel e ao Beira-Mar, nas temporadas 2006/2007 e 2007/2008, respetivamente.

Seguiram-se aventuras pela União de Leiria, UD Oliveirense e Naval, antes de um regresso ao conjunto minhoto, em 2012. Mais tarde, após proveitosos empréstimos ao Belenenses e ao Moreirense, emblemas onde acabou por atuar com menor intermitência, desvinculou-se definitivamente do Sp. Braga, depois de cumprir uma temporada ao serviço do Apollon Limassol.

«Senti que o clube não contava comigo. Recebi o convite por parte do Pedro Emanuel, que, na altura, era o treinador. Como nunca tinha estado no estrangeiro e pretendia ter essa experiência, decidi arriscar. Estive no Chipre durante um ano por empréstimo, porque sabia que, se algo corresse mal, continuava contratualmente ligado ao Sp. Braga. No último ano, percebendo que voltariam a não contar comigo, rescindimos amigavelmente», começou por contar.

«Em Portugal não chegam a competir na parte financeira»

A hipótese de permanecer em território nacional surgiu por intermédio do Moreirense, que realizou um esforço redobrado para contar com os serviços do avançado. Contudo, a determinação em rumar ao estrangeiro e os benefícios salariais falaram mais alto.

«Fizeram um ‘forcing’ para continuar, mas estava focado em ter a experiência no estrangeiro e encontrar um treinador português ajudou. Não falava inglês, nem sabia o que iria encontrar, ao certo. O Pedro Emanuel falou-me bem do clube, conversei com a família e, agora, estou muito contente com a decisão. Em Portugal não chegam a competir na parte financeira, que é também muito importante, admitiu.

Atualmente, habita na cidade de Limassol, a segunda mais populosa do país, que equipara à região do Algarve, em termos paisagísticos e climatéricos.  «É a melhor cidade do Chipre, sem sombra de dúvidas. Quando cheguei comparei-a ao nosso Algarve, em termos de linha de praia, apesar de existir a zona montanhosa. É uma costa longa e muito, muito bonita.»

João Pedro afeiçoou-se verdadeiramente ao futebol cipriota, ainda que aponte os excessos de alguns adeptos e a corrupção desportiva como particularidades assustadoramente negativas.

«Quando há dérbis, há sempre bons espetáculos e ambientes. As pessoas vivem o clube de forma diferente do que estava habituado. Sinto-me acarinhado por toda a gente, embora sejam um bocado fanáticos. O jogo entre o APOEL e o AEL [Limassol], por exemplo, esteve interrompido durante uma hora, porque atiraram petardos e estava demasiado fumo no relvado. No ano passado, também, os adeptos do Anorthosis entraram no campo, envolveram-se em agressões e ganhámos os três pontos na secretaria. De vez em quando estas coisas acontecem...», relatou.

«Há clubes que, quando já não lutam por objetivos, entregam os jogos. É algo que existe no futebol e aqui, se calhar, um pouco mais do que noutros locais. Sabemos que é difícil contrariar um APOEL, porque sabemos que tem controlado alguns jogos contra equipas mais pequenas», acrescentou ainda.

Para a presente temporada, o Apollon Limassol estabeleceu dois objetivos primordiais e um já foi inclusivamente concretizado. «Entrar na fase de grupos da Liga Europa e vencer o campeonato, que é algo que o presidente deseja desde que entrou, há cinco anos. Estamos no bom caminho, em quarto lugar, a quatro pontos do primeiro.»

Com passaporte carimbado para a fase de grupos da Liga Europa, o sorteio revelou-se algo desfavorável. Conquistados três pontos na sequência do mesmo número de empates, a participação na prova foi encerrada no último posto, o que inviabilizou a passagem aos 16 avos de final da competição. O balanço foi, no entanto, positivo.

«Tivemos azar no sorteio. É verdade que não apanhámos o melhor Everton, embora seja sempre complicado, mas calhou-nos o Lyon, uma equipa recheada de talento, e a Atalanta que, na minha opinião, era a melhor do grupo. Criámos inúmeras oportunidades, mas faltou-nos um pouco de experiência. As únicas partidas em que não tivemos qualquer hipótese foram em Itália, frente à Atalanta, e diante do Everton, em casa. De resto, foi sempre taco a taco.»

Nos dias correntes, o Chipre permanece, indubitavelmente, enquanto um dos destinos atrativos para os jogadores que atuam em Portugal. «Aqueles que têm vindo, têm mostrado qualidade. Mesmo em ligas secundárias adquirem jogadores relativamente baratos e com qualidade para atuar neste campeonato. Normalmente, valorizam muito o jogador estrangeiro, porque acreditam que têm algo diferente a acrescentar. Alguns dão certo, outros nem tanto, mas a maioria tem dado certo», reconheceu.

«Tenho o desejo de voltar a representar o Moreirense»

A hipótese de regressar ao campeonato português a curto prazo está, neste momento, inteiramente descartada.

«Renovei recentemente por mais três anos, mas penso em regressar e terminar a carreira em Portugal. Um dia, mais tarde, tenho o desejo de voltar a representar o Moreirense. O presidente sabe disso e tenho um carinho enorme pelo clube. Na altura, vou analisar o que aparecer, não deixando de lado outras possibilidades.»

A Naval e uma mágoa: «Preferem apoiar o clube grande do que o clube da terra»

Representou a Naval durante três temporadas, de 2010 a 2013, e é com tristeza que recorda o atual estado do clube, que recentemente suspendeu a atividade do futebol sénior.

«É uma pena ter chegado a este estado. As pessoas da Figueira da Foz afastaram-se um pouco e o presidente viu-se sozinho a tomar conta daquilo. No início, a situação estava sustentável, mas acabou por entrar em dívidas e acontecer o que muitos esperavam. A Naval sempre foi uma equipa estável. Faz falta à cidade e ao futebol. Era um dos clubes com menos assistências, mas não podíamos obrigar ninguém a ir ao estádio. Muitas vezes, preferem apoiar o clube grande do que o clube da terra.»

Além da União de Leiria, envergou igualmente a camisola de outro histórico do futebol nacional, o Beira-Mar, e acredita que o conjunto aveirense possui, neste momento, uma maior capacidade para se reerguer num futuro próximo.

«Mais o Beira-Mar, porque julgo que tem mais força. Sentia uma maior envolvência dos adeptos e, mesmo na distrital, voltaram ao Mário Duarte com muito público. Em Leiria, as pessoas não ligavam muito ao clube. Não sei como está e até ouvi que iriam surgir investidores. Pode ser por aí, mas, atendendo à conjuntura, penso que o Beira-Mar tem mais condições», considerou.

«Sp. Braga campeão? Ainda é cedo para isso»

João Pedro acredita que o Sp. Braga poderá ter uma palavra a dizer na disputa do campeonato português em breve, embora reconheça que não a terá na presente época.

«Acho que o Sp. Braga vai intrometer-se. Porém, não creio que seja este ano. Cresceu imenso nestes últimos 15 anos e está no bom caminho, principalmente com a criação da academia, que serve de base para o futuro. Além disso, é um clube vendedor e seria bom para o nosso campeonato vencer a liga. Se há equipa que pode fazê-lo é o Braga, mas penso que ainda é cedo para isso», rematou.

Nota de redação:  Entretanto, e através do site oficial do Apollon, o jogador João Pedro fez um desmentido, garantindo que nunca quis colocar em causa a credibilidade e o prestígio do APOEL ou de qualquer outro clube. O Maisfutebol lamenta que João Pedro não tenha conseguido expressar-se como queria e que se tenha gerado um equívoco.