A sua revista digitalartigo original:31-01-2018 00:43
Estórias Made In é uma rubrica do Maisfutebol que aborda o percurso de jogadores e treinadores portugueses no estrangeiro. Há um português a jogar em cada canto do mundo. Este é o espaço em que relatamos as suas vivências.
O futebol português tem espaço para dois João Moutinho? Muito provavelmente, vai ter de ter. É verdade que ainda há muito que separa o médio do Mónaco do jovem de 20 anos que se vai afirmando nos Estados Unidos. Falamos daquele que foi o primeiro português de sempre a ser a primeira escolha do Draft do futebol dos EUA.
Formado no Sporting, João Moutinho saltou para os Estados Unidos há relativamente pouco tempo, ao abrigo de um programa chamado Next Level, que visa possibilitar aos jogadores estudarem numa universidade norte-americana enquanto jogam. Foi assim que João Moutinho, antigo lateral da formação leonina, se mudou para Akron, no estado do Ohio.
Ao Maisfutebol, o jovem jogador conta a sua história e um percurso que deseja que ainda seja curto quando comparado com o que deseja para a carreira.
«Comecei a jogar futebol aos 9 anos, no Sporting. Cheguei até aos juniores e inscrevi-me na Next Level. Tinha ouvida falar do que faziam, tive uma reunião com eles, disse que gostava de ir para os Estados Unidos e eles puseram-me em contacto com uma das melhores universidades aqui, em termos de futebol. Estive no Ohio, esta época correu muito bem, tive esta oportunidade para ir para a MLS e aceitei», analisa.
Estava a tirar o curso de Business Management, que será equivalente a Gestão. Ficou-se pelo primeiro semestre...para já. «Como a época correu tão bem e tive esta proposta, o curso fica um pouco para trás. Mas a verdade é que posso continuar a tirar o curso online, o que é ótimo», sublinha. A verdade é que o curso é de quatro anos, o que indica que ainda falta muito caminho a percorrer. João Moutinho «por enquanto» tem a ideia de continuar com o curso.
Mas voltemos ao futebol. Juntar o tema com o nome João Moutinho levará qualquer um a pensar no internacional luso, antigo jogador de FC Porto e Sporting. Quem é, então, este novo Moutinho?
«Sou um jogador com intensidade, que joga sempre para a equipa. Inteligente a ler o jogo, bom passe e boa antecipação. Central ou lateral? Agora nem sei bem. Antes de vir para a América jogava sempre a lateral. Um bocadinho a seis, mas sobretudo a lateral. Aqui faltava um central que saísse bem a jogar, fui colocado lá e adaptei-me bem. Joguei a época toda a central. Agora até estou mais habituado a central do que a lateral», confessa.
Veja João Moutinho em ação:
«Reações ao draft? Até pus o telemóvel em modo de voo»
No plano desportivo, a escolha pela Universidade de Akron revelou-se acertada. «É das mais competitivas a nível de futebol, joga para ganhar o campeonato», explica.
Este ano, chegou às meias-finais da prova principal e Moutinho lembra que só na I Divisão existem 206 equipas, o que atesta a qualidade do trabalho feito. A época ajudou, claramente, à sua ascensão.
«Sabia que teria boas hipóteses de chegar a profissional aqui, não sabia é que seria assim tão rápido. A rapidez com que tudo aconteceu, até a mim me surpreendeu», atira.
Na verdade, dado o sucesso, o nome de João Moutinho até já era falado como provável primeira escolha do Draft, que é, basicamente, conforme já explicamos, uma escolha dos 60 melhores jovens saídos das faculdades pelas várias equipas, sendo que as equipas menos bem posicionados na última época têm as primeiras escolhas. É comum aos vários desportos norte-americanos.
Ora, o português sabia que tinha fortes possibilidades de ser escolha inaugural, mas ficou na expectativa até à hora do anúncio. Depois foi hora de celebrar.
«Se tive muitas reações? Olhe, até pus o telemóvel em modo de voo. Quando liguei outra vez estava cheio de mensagens», conta.
Depois da festa foi hora de voltar ao trabalho. O Los Angeles FC é uma equipa nova, formada do zero há pouco mais de um ano e que vai estrear-se na MLS na próxima época. Por isso, de acordo com as normas, teve direito à primeira escolha no Draft.
O treinador é Bob Bradley, antigo selecionador norte-americano e treinador do Swansea, entre outros. João Moutinho já o conheceu: «Disse-me que gosta da maneira como jogo e acha que vou encaixar na equipa. Temos estado a trabalhar, o normal. Os treinos têm corrido bem. Os jogadores são muito bons, mas ainda não nos conhecemos muito bem. Estamos a começar a criar rotinas como equipa.»
A Cidade dos Anjos ainda não se verga para o futebol
Los Angeles tem muitas alcunhas. La la Land. Cidade dos Anjos. Cidade dos Sonhos. O futebol é apenas um pormenor no aglomerado da cidade. Aliás, a imagem não difere muito de todo o país, onde as estrelas do futebol ainda andam longe de outros desportos, como o basquetebol, o basebol ou o futebol americano.
«O futebol não é o que é em Portugal e na Europa. Está a crescer muito e eles cada vez gostam mais, porque é um desporto rápido e com intensidade. Os jogadores é que ainda nem estão perto sequer das estrelas do futebol americano, por exemplo», admite.
Por isso, ter sido a primeira escolha do Draft em nada mudou as rotinas de João Moutinho, exceto, claro está, na mudança de cidade: «Estou aqui há quatro ou cinco dias e ainda ninguém me conhece. Para mim não é problema. Los Angeles é uma cidade tão grande, há tanta gente...»
«Estou a adorar a cidade. Está sempre sol, o que é uma diferença muito grande para Akron, onde era um frio de rachar. Adorava estar lá, tinha grandes amigos, mas é preciso andar para a frente. Ainda não encontrei mais nenhum português aqui. Já me disseram que há aqui várias comunidades», sublinha. Aliás, João Moutinho nem sequer é o único jogador português da cidade. Há João Pedro no Los Angeles Galaxy, outro emblema da cidade, mas ainda não travaram conhecimento.
Quanto aos objetivos de carreira, João Moutinho tenta «não pensar muito à frente».
«Tento não dar passos maiores do que a perna. Penso só no presente, no que posso fazer no dia a dia para melhorar. E depois é ver o que acontece. Agora só penso em cimentar a posição aqui e dar o melhor para a equipa. Não vale a pena pensar no que fazer depois se ainda nem sequer tenho a minha posição cimentada», considera.
Para fim de conversa questionamos sobre o desejo de voltar à Europa e afirmar-se. Moutinho faz o que sabe melhor: joga à defesa.
«Não sei. Por enquanto o meu sonho é jogar na MLS», remata.
E acabar o curso, atalhamos. «Claro», atira, entre risos.
