Estórias Made In é uma rubrica do Maisfutebol que aborda o percurso de jogadores e treinadores portugueses no estrangeiro. Há um português a jogar em cada canto do Mundo. Este é o espaço em que relatamos as suas vivências. Sugestões e/ou opiniões para djmarques@tvi.pt ou rgouveia@tvi.pt

A carreira de Luís Miguel Gouveia de Oliveira dava um livro. Ou até mais do que um. Foi ao Brasil em 2004, de férias, visitar o irmão e por lá ficou. Começou a trabalhar num projeto social, numa favela do Rio de Janeiro, até entrar no mundo profundo do futebol brasileiro. Começou por treinar um clube de Pernambuco e, em pouco mais de quinze anos, já treinou 25 clubes diferentes. Ainda antes da chegada de treinadores conceituados como Paulo Bento, Jorge Jesus, Sá Pinto ou Abel Ferreira, Luís Miguel já tinha trabalhado em dez estados diferentes do Brasil, do quente Nordeste, ao húmido Amazonas, passando pelo Ceará, Maranhão, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pará, Paraná e Piauí.

Um relato impressionante de uma história que começa no modesto Arrentela, clube do Seixal, da Associação de Futebol de Setúbal, onde o então jovem Luís Miguel viu interrompida, com pouco mais de vinte anos, uma carreira de jogador depois de ter sido operado aos dois joelhos. De jogador passou a treinador, trabalhou na formação do Arrentela e ainda passou pela formação do Atlético, da Tapadinha, até que uma visita ao Brasil mudou por completo a vida do nosso interlocutor, atualmente com 49 anos.  

Estabelecemos contato com Luís Miguel num momento em que tinha acabado de regressar a Fortaleza, a sua cidade-base, onde reside com a família quando não está a treinar longe do Ceará. Atendeu-nos com um cerrado sotaque brasileiro que foi aprimorado ao longo dos últimos quase dezassete anos, a única forma de um português se fazer entender no nordeste brasileiro. Um sotaque que respeitamos, na transcrição desta conversa, para a manter a história fidedigna.

A última vez que ouvimos falar do Luís Miguel foi no início de março deste ano, quando saiu do Pontiguar de Mossoró, clube do Rio Grande do Norte. Já tem um novo projeto entre mãos?

- Já acertei o meu regresso ao Itapipoca, da segunda divisão do Ceará, mas aqui está tudo em lockdown [confinamento]. O campeonato era para começar agora, a 24 de abril, mas vai ser adiado, o futebol aqui está parado, a gente nem está podendo treinar. Estamos à espera das decisões do Governo, para nos apresentarmos e começarmos a pré-temporada. Tenho também um convite para a Série D do Brasileirão aqui no Ceará, mas sobre isso nem posso falar. Tem ainda um treinador lá no ativo e eles estão esperando terminar o Estadual para depois contratar para o Brasileiro. Vamos ver.

Vamos começar pelo início desta aventura. Começou a carreira de treinador no Arrentela, em 1999/00, certo?

- Sim, fui jogador do Arrentela mas tive de parar em 1992 ou 1993. Fui operado aos dois joelhos, tinha lesões graves nos dois joelhos. Parei um tempo e comecei a preparar a nova vida de treinador. Ainda fiz parte do departamento de futebol do Arrentela, ajudando em tudo um pouco, só depois é que comecei a treinar a formação em 1999.

Ainda passou pela formação do Atlético da Tapadinha…

- Foi muito rápido, foi uma passagem rápida antes de ir para o Brasil.

Como é que surgiu essa oportunidade de ir para o Brasil?

- O meu irmão é CEO (Chief executive officer) de uma empresa internacional de medicamentos aqui no Brasil. Comecei por lá ir para visitá-lo, de férias. Estava sem fazer nada, somos só dois irmãos e somos muito ligados um ao outro. Comecei por ir lá passar uns tempos, conheci algumas pessoas ligadas ao futebol aqui no Brasil. Comecei por jogar umas peladas no final de semana. Depois, já a morar no Brasil, em 2004 ou 2005, comecei a trabalhar num projeto social numa favela do Rio de Janeiro.

Já relacionado com o futebol?

- Sim, mas com uma equipa amadora, da favela da Vila Vintém. Era um projeto chamado Ajax para trabalhar com as crianças da favela.

Foi a porta de entrada para o futebol brasileiro?

- O meu primeiro clube como profissional foi o Vitória de Santo Antão. A minha filha, que agora vive na Noruega, nasceu em Pernambuco, a mãe dela era lá de Vitória e conhecia algumas pessoas. Ela tinha nascido há pouco mais de um ano e foi uma oportunidade de ficar lá mais próximo da minha filha.

O Luís Miguel, entretanto, constituiu família aí no Brasil?

- Sim, essa minha filha vive agora com a mãe na Noruega, mas casei de novo, já lá vão treze anos.

Depois dessa experiência no Vitória, nunca mais parou, são mais de vinte clubes no currículo…

- Também já perdi a conta, mas acho que já são mais de 25 clubes, alguns com mais do que uma passagem. Alguns até com duas ou três passagens. São 25 clubes de dez estados diferentes.

Dez estados diferentes?

- Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte, Ceará, Piauí, Maranhão, Rio Grande do Sul, Pará, Amazonas, Paraná…

Anda literalmente com a casa às costas? É que o Brasil é um país muito grande…

- É um pouco isso. Eu moro em Fortaleza há mais de doze anos, mas quando o telefone toca, a gente arruma a mala e vai. Tem lugares que a gente vai de ónibus, outros de avião, depende da distância. A gente acaba por morar onde está a trabalhar. Já perdi a conta às cidades em que morei. Tem equipas que passei mais de seis meses. É o caso quando treinei o Maranhão. Fui campeão da segunda divisão, disputei a Copa do Maranhão, fomos finalistas, depois disputei a primeira. Tudo de seguida. Cheguei lá em agosto e fiquei até abril do ano seguinte.

Neste percurso já tem dois títulos no currículo, certo?

- Sim, fui campeão da segunda do Cearense, com o Tiradentes, e campeão da segunda do Maranhense, com o Pinheiro. Também fui campeão de sub-20 do Pará, com o Izabelense. E tenho mais duas subidas de divisão no campeonato do Pará.

E tem a ambição de chegar a uma competição nacional, a uma Série B ou mesmo à Série A do Brasileirão?

- A ambição é essa, mas a falta de empresário atrapalha. Em todos esses clubes onde trabalhei, me empreguei sozinho. Ou é um amigo que me indica, ou um jogador que trabalhou comigo que me indica. É por aí, as pessoas já conhecem o meu trabalho e os resultados que apresento. Trabalhei sempre com equipas com orçamentos baixos, mas muitas vezes a gente consegue chegar lá. Ser campeão numa equipa grande é fácil, difícil é disputar quatro Maranhenses [campeonato do Maranhão) seguidos e chegar quatro vezes às semifinais. Difícil é pegar no 4 de Julho de Piripiri, que estava no último lugar só com uma vitória, e acabar por ser a melhor equipa da segunda volta sem contratações. Esses resultados querem dizer alguma coisa. Agora preciso de um empresário para chegar mais acima, a uma Série C ou Série B. É assim que o futebol funciona.

Já passou por tantos clubes, tenta implementar uma ideia de jogo ou vai-se adaptando à realidade que encontra em cada um dos clubes?

- Tenho uma ideia inicial do jogo, sou um treinador de futebol ofensivo. As minhas equipas pressionam sempre muito alto, já faço isso desde 2007. Quem trabalhou comigo sabe que é assim, sempre pressão alta e tentar roubar a bola o mais alto possível, mas depois também temos de nos adaptar à realidade de cada clube. Se não temos jogadores que nos possam dar um futebol ofensivo, temos de ser uma equipa reativa, jogar atrás da linha da bola e jogar no contra-ataque. Procuro adaptar-me à realidade, mas quando é um clube que me dá condições para começar o trabalho desde o início e montar um grupo à nossa imagem, aí sim, procuramos esse tipo de jogo de ataque. Estou preparado para trabalhar em vários cenários, até pela experiência que tenho, de já ter trabalhado em 25 clubes, uns com dinheiro, outros sem dinheiro, outros a pagar em dia, outros com três meses de salários em atraso. Já peguei de tudo.

Nesses 25 clubes, já lhe passaram largas centenas de jogadores pelas mãos. Algum deles com estatuto de craque? Algum acima da média?

- Já vi muitos perderem-se no futebol. Tem muitos jogadores de qualidade, mas que depois não conseguem ter a oportunidade para chegar mais alto. Por exemplo, quando joguei no Pará, joguei várias vezes contra o Raúl Silva do Sp. Braga, quando ele jogou no Remo e no Paysandu. Na altura já dava para ver que ele era um jogador com algo a mais. Já tive vários meninos que chegaram a ir para a Europa, mas depois não conseguiram vingar. Muitas vezes estou a ver jogos da liga portuguesa e vejo jogadores que já me passaram pelas mãos. Mas são tantos que a gente já nem lembra. Já tive muitos jogadores de qualidade, mas a maior parte depois perde-se no meio do caminho por falta de oportunidades, clubes com salários em atraso. É difícil manteres-te no futebol nesse contexto para quem tem família.

Os treinadores portugueses estão na moda no Brasil. O Jorge Jesus deu um impulso grande, depois também apareceram o Jesualdo Ferreira, o Ricardo Sá Pinto, agora o Abel Ferreira…

- É um modismo como digo aqui. Os jornalistas brasileiros falam-me muito nisso, eu digo sempre que tem treinador português bom e tem treinador português ruim. Se a escola portuguesa é boa? É, mas é preciso saber escolher. Às vezes o treinador, quando vem daí para cá, também tem de saber escolher o clube para onde vai. O Jesualdo nem tanto. O Santos não tinha dinheiro, mas tinha uma boa equipa. Acho que ele não estava preparado para as dificuldades fora do campo e por isso caiu. Mas o Sá Pinto chegou ao Vasco logo com um clima de rejeição, até porque tinham tirado o Ramón [Menezes] da equipa e ele era um ídolo lá. O Paulo Bento, não sei se esta história lhe chegou aos ouvidos, mas chegaram-me a perguntar se queria fazer parte da equipa técnica. Acabou por não acontecer, não sei se foi ele que vetou ou se foi um empresário. Na altura fui sondado, mas acredito que isso nem tenha chegado aos ouvidos do Paulo Bento. Os treinadores portugueses que estão a vir para cá não estão a dar oportunidade aos portugueses que já cá estão e podiam ajudar. Alguns dos treinadores que chegaram depois de mim, quer dizer, todos chegaram depois, mas aqueles com quem tive mais contato, sempre que me pediram informações sobre jogadores, eu ajudo. Para eles seria bem mais fácil ter alguém aqui que já conhece bem o mercado, a logística, tudo isso é importante aqui no Brasil. Por exemplo, não é fácil jogar em São Paulo num sábado, depois no Nordeste na quarta-feira e no Sul no outro sábado. Os treinadores que vêm daí não têm noção disso, como é o clima, as viagens, tudo. Os que já cá estão podiam dar uma ajuda, mas essa colaboração não tem existido.

Li uma entrevista do Luís Miguel em que se denominava o «descobridor» dos treinadores portugueses por ser o que está no Brasil há mais tempo.

- Isso foi uma brincadeira, mas quem está aqui há mais tempo, sem dúvida, que sou eu. Quem tem mais clubes, jogos disputados em solo brasileiro, sou eu, mas isso também não quer dizer que eu seja melhor do que ninguém. Quer dizer apenas que vim lá de trás, tenho um conhecimento maior da realidade brasileira do que de quem está a chegar. Se alguém precisar de ajuda, estou aqui para ajudar. Ainda há umas semanas atrás, o treinador da equipa feminina do Atlético daí me pediu ajuda para saber se podia trabalhar aqui. Eu respondi, com certeza, assim que acabar essa pandemia posso dar indicações, posso tentar ajudar.

Podemos dizer que o Luís Miguel é o treinador que melhor conhece o futebol brasileiro?

- Acredito que sim, até pelo engajamento que tenho em todos os estados. Não me cingi a trabalhar só numa região, sempre fiz questão de procurar novos mercados. Às vezes tenho um convite para ficar aqui no Ceará, mas se surgir um convite para ir para conhecer um mercado novo, vou na hora. Às vezes a minha mulher não gosta dessas minhas decisões, mas eu acho que quanto mais experiência e conhecimento cultural e futebolístico tiver de todas as regiões do Brasil, só me faz crescer mais na profissão.

E foi difícil conquistar esse espaço entre os treinadores brasileiros? Como é que foste recebido pela comunidade?

- Nunca tive problemas com os outros treinadores, aliás, tenho muitos amigos treinadores brasileiros. Agora, no início, os clubes e os dirigentes olhavam para mim com alguma desconfiança. Um português aqui? O português não entende nada de futebol. Era o que ouvia. Tinha de matar um leão todos os dias para mostrar trabalho. Mas como acredito no trabalho e no meu desempenho, não tive problemas. Até cheguei a propor ir para clubes com contrato por objetivos para eles entenderem o que ia ser feito. No início os dirigentes olhavam-me com muita desconfiança, mas fui conquistando o meu espaço com trabalho e resultados dentro de campo.

Tantos clubes, tantos dirigentes, deves ter histórias peculiares para contar…

- Tenho muitas. Por exemplo, no Vila Rica, que foi o meu primeiro clube no Pará, quase não tínhamos tempo para treinar. O clube estava sedeado numa cidade [Ilha de Marajó] que para chegar à capital [Belém] tinha de fazer uma viagem de doze a catorze horas de navio. Jogávamos um jogo em casa, outro na capital. Quando jogávamos em Belém, tínhamos de correr para o porto, pegar o navio e descer o rio para jogar na quarta-feira. Depois voltávamos para jogar em casa no sábado e no domingo já estávamos a voltar para o porto para pegar o navio. A gente até brincava que a gente treinava no navio. Era uma coisa meio surreal. Imagina uma equipa na Europa andar catorze horas de barco para ir jogar?

Vou aproveitar essa deixa para lhe lançar um desafio: diga o que lhe vier à cabeça sobre cada um dos clubes por onde já passou, para termos uma noção mais real da sua carreira. Pode ser?

- Pode ser, começamos pelo Vitória? Foi o meu primeiro clube como profissional.

Sim, Vitória de Santos Antão, na segunda divisão do Pernambucano, em 2007?

- Foi a primeira experiência.

O Vera-Cruz, também de Pernambuco, no mesmo ano?

- Aí foi Série C do Brasileirão, foi um aprendizado.

Em 2008 mudamos para o Rio Grande do Norte, para o Corinthians RN.

- Para não ser deselegante com ninguém, diria que foi um pouco bagunçado. Para ser simpático.

2009, viajamos até ao Pará, para treinar o Vila Rica, a tal história do navio...

- É um clube sui generis, porque tem um presidente que é um lutador. Muita luta, tudo lá era difícil, mas a gente ia conseguindo as coisas.

No mesmo ano, o Santa Rosa, do Rio Grande do Sul.

- Ressurreição. Era um clube que não lutava por nada há vários anos e conseguimos subir à primeira divisão do Paraense. Ressurreição e desilusão porque, no final, o presidente foi safado comigo [risos].

2010, temos o Ananindeua, é do Pará?

- Isso. Aí também foi uma desilusão. Era um clube que sempre tinha muito dinheiro para investir. O clube está ligado a uma família local e, na altura, o governador do Pará era o perfeito da cidade e ele fazia sempre uma aposta forte no futebol. Mas, precisamente nesse ano, não fez. Não conseguimos contratar ninguém, foi uma desilusão e falta de capacidade financeira.

Em 2011 vamos até ao América-AM, do Amazonas…

- Foi a minha primeira experiência no Amazonas, foi uma boa experiência. É diferente do Nordeste, mas é parecido com o Pará.

Em 2012, temos o Iranduba, de Manaus.

- Não vou falar muito, não podemos pular? A história é a seguinte, fui para lá para tirar a equipa da zona de descida. Fiz quatro jogos e ganhei os quatro. Depois o presidente do Iranduba, que já não está entre nós, teve um enfarte, ele próprio me negociou para o São Raimundo. Foi uma passagem muito curta.

Pulamos então para o São Raimundo, também Amazonas, certo?

- São Raimundo é time grande. Foi o primeiro clube com torcida (claques) a sério com que trabalhei.

Ainda no Amazonas, já em 2013, temos também o Holanda.

- Grande presidente, um cara visionário que, entretanto, já se afastou do futebol.

Ainda em 2013, temos também o Cordino, do Maranhão.

- Não paga… [risos].

Depois volta ao São Raimundo e, já em 2014, treina o 4 de Julho do Piauí.

- Volta por cima. Tinha sido demitido do São Raimundo e o 4 de Julho estava no último lugar. Numa volta inteira fomos a melhor equipa e fomos à final. Perdemos a final do Piauí para o River Atlético.

Ainda em 2014, temos ainda o Tianguá do Ceará.

- Esse tenho pouco a comentar, podemos pular esse.

Já em 2015, voltamos ao Maranhão, para o São José…

- Time pequeno, mas com muito coração. É um clube que não tem muitos apoios, mas nos dois anos em que lá estive fomos à meia-final do campeonato.

Ainda em 2015, temos o Tiradentes, no Ceará, aqui já sei que foi uma boa experiência…

- Sim, fomos campeões. Subimos à primeira e disputámos a Fares Lopes, que é uma taça que tem no segundo semestre e dá acesso a uma vaga na Copa do Brasil. No ano a seguir já não joguei a Copa do Brasil, acertei com o Parnahyba, não fiquei lá.

Sim, em 2016, temos o Panahyba, também de Piauí.

- Cidade maravilhosa e um grande presidente.

ainda em 2016 tivemos o Imperatriz, do Maranhão…

- Complicado.

Segue-se o Maranhão, de São Luís.

- Paixão. Fiquei com uma ligação afetiva ao clube.

Em 2017 regressa ao 4 de Julho, em 2018 também regressa ao São José ainda antes de treinar o Moto Club do Maranhão. Um nome invulgar…

- O que vou dizer do Moto? Grande clube, pouco presidente. O problema lá é o presidente.

No mesmo ano ainda temos o Pinheiro, também do Maranhão.

- Aí também fui campeão. Uma grande cidade, um presidente dedicado e um perfeito que gosta de futebol. Tem uma simbiose perfeita para um projeto que pode vir a ter muito sucesso no futuro.

Já em 2019 salta do Pinheiro para o Timon, do Maranhão.

- Clube modesto. Eu estava a recuperar de uma cirurgia e aceitei ir lá ajudar o presidente.

Já em 2020, há aqui outro Timon, mas do Piauí…

- Aí o presidente estava a ser enganado com uma história de apostas. Coitado do presidente, estava um cara vendendo jogo nas costas dele. Estava uma confusão, fiz três jogos e saí fora.

Em 2020 também temos o Cascavel do Paraná…

- Para esse a palavra que tenho é mau carácter.

Depois também regressa ao Pinheiro, curta passagem, e assina pelo Itapipoca, do Maranhão.

- Cidade acolhedora e uma direção que faz tudo para devolver o clube à primeira divisão. É para lá que estou voltando agora.

Já em 2021, temos aqui o Aliança do Ceará…

- Já foi este ano, fiz só dois jogos. Estava em casa sem fazer nada e dois jogadores pediram-me para ir lá ajudar e fui fazer esses dois jogos. Nem estava a receber, era terceira divisão, nem coloquei esse no meu currículo.

E para acabar, temos o Pontiguar, do Rio Grande do Norte…

- Direção entrega ao jogo. Interferiam no meu trabalho, saí por causa disso.

Tem noção que está a falar com sotaque brasileiro? Ninguém diria que é natural de Lisboa...

- Já são quase dezassete anos aqui. No início os jogadores nem me entendiam direito, principalmente aqui no Norte e no Nordeste. Tive de ir me adaptando ao sotaque, falando mais pausadamente para eles me entenderem. Não é só a velocidade com que você fala, são algumas palavras, algumas conjugações. Quando eu ainda falava português de Portugal eles ficavam a olhar, diziam que sim com a cabeça, mas eu percebia que eles não entendiam nada. Tive de me adaptar para passar a mensagem.

Mas ao longo destes anos todos tem vindo a Portugal regularmente?

- Vou todos os anos, tenho a minha mãe aí. Só em 2020 é que não deu para ir por causa da pandemia, mas espero voltar no final deste ano. Aproveito mais para ir em novembro ou dezembro, espero que até lá cheguem as vacinas ao Brasil para que a gente possa viajar.

Então boa sorte neste regresso ao Itapipoca.

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