O Marítimo venceu o Estrela da Amadora por 1-0 e somou o seu primeiro triunfo fora de portas. Uma vitória clara da razão sobre o coração. Num encontro pouco interessante, o Estrela actuou sempre com o coração na boca, desesperado na procura do golo e pressionado pelos adeptos. O Marítimo, pelo contrário, exibiu uma tranquilidade que lhe proporcionou a vitória e aumentou ainda mais os níveis de tensão do adversário. 

Carlos Brito apresentou o seu tradicional 4x3x3 que rapidamente deixou de fazer sentido com a linha do meio-campo colada à de ataque no centro do terreno. Nelo Vingada optou pelo clássico 4x4x2 com todas as pedras fixas no terreno. Mas a atitude exibida pelos jogadores das duas equipas acabou por ganhar maior relevância no resultado final do que qualquer aspecto táctico. 

O Estrela entrou de rompante, decidido a reanimar a esperança na manutenção. No entanto, logo aos 2 minutos, o Marítimo quase chegou ao golo numa boa iniciativa de Jokanovic que, com dois toques, tirou Rebelo e Raúl Oliveira do caminho e solicitou a entrada de Joel que atirou em jeito à barra. A equipa da Reboleira tinha os olhos fixos na baliza de Gilmar, mas sentia muitas dificuldades em lá chegar. Com um futebol feito de improvisos, o Estrela dispendeu doses industriais de energia para avançar no terreno, mas o enorme esforço esfumava-se à entrada da área, ora por um passe mal medido, ora por uma bola adiantada, as jogadas do Estrela nunca chegavam a um termo. 

Semedo, no lado direito do ataque, era o único que conseguia fazer alguma mossa na defesa insular. Tirando proveito da sua velocidade e drible estonteante, o jovem avançado trocou por várias vezes as voltas a Mariano para depois cortar para o centro da área. Aos 20 minutos levantou muitos adeptos das bancadas quando ultrapassou Jorge Soares e Paulo Sérgio e depois solicitou o remate de Tiago Lemos. O seu companheiro, com a baliza de Gilmar à sua mercê, atirou por cima. Esta foi a jogada de maior perigo do Estrela que de resto esbanjou a sua sofreguidão longe da baliza de Gilmar. 

O Marítimo nem tentou ripostar à fogosidade do adversário. Exibindo uma tranquilidade absoluta, jogava devagar, mas com inteligência. Passe a passe chegava com facilidade à área de Tiago onde muitas vezes criava perigo. Jokanovic quase chegou ao golo, na sequência de um pontapé de canto. O jugoslavo ganhou um ressalto e encheu o pé obrigando Tiago a aplicar-se e a desviar a bola para canto. 

A paciência do Estrela estava a esgotar-se na mesma medida em que aumentava o desgaste físico dos seus jogadores. Além de dois fortes remates de Pedro Simões à entrada da área, a equipa de Carlos Brito pouco mais fez até ao intervalo. No segundo tempo, o desespero da equipa da casa tornou-se ainda mais evidente. Ao ponto de se começar a confundir a impetuosidade dos seus jogadores com violência. O Marítimo continuou a jogar de pé para pé e acabou por chegar ao golo numa jogada extremamente simples. Na sequência de um canto, Joel surge à entrada da área, simula um passe para a direira e desmarca Ronaldo na esquerda. O jovem avançado brasileiro corta na direcção de Tiago que vinha ao seu encontro e, com um pequeno toque, passa por ele e remata cruzado para a baliza. 

Se o Marítimo até aqui vinha jogando devagar, depois do golo passou ainda a jogar mais lento. O Estrela pouco mais podia fazer do que continuar a jogar da forma atabalhoada com que começou o jogo. Carlos Brito evidenciou os mesmos níveis de ansiedade da sua equipa esgotando as substituições em poucos minutos, lançando Cadete e Serginho para os lugares de Tiago Lemos e Semedo. Incompreensível esta última troca. Estavam já passados vinte minutos do segundo tempo e o Estrela ainda não tinha conseguido um único remate à baliza de Gilmar. O Marítimo já tinha usufruído de novas oportunidades, com destaque para um forte remate de Sumudica após abertura de Bruno. 

Nelo Vingada foi fazendo as suas substituições a conta-gotas, refrescando todos os sectores. Nos derradeiros segundos da partida a sorte quase sorriu ao Estrela na sequência de mais uma jogada repleta de solavancos, ressaltos e malabarismos, mas Gaúcho I e Cadete não tiveram discernimento suficiente para empurrar a bola para as redes de Gilmar. 

A vitória no Restelo há três semanas tinha trazido alguma esperança à equipa de Carlos Brito mas, com o resultado de hoje, parece agora irremediavelmente perdida.