As principais Ligas europeias estão a ficar mais desequilibradas – e a temporada 2013/14 acentua esse desequilíbrio a níveis nunca vistos. A diferença de rendimento entre as equipas de topo e as restantes está a aumentar um pouco por toda a parte – com exceção da Premier League, onde o domínio de quatro/cinco equipas mais fortes não tem sofrido grandes alterações nos últimos anos.

Esta é a conclusão clara de um estudo divulgado esta semana, da autoria do
Football-Observatory, secção do Centro de Estudos Europeus sobre Desporto (CIES) dedicada ao futebol. Analisando as cinco principais Ligas europeias (Inglaterra, Espanha, Alemanha, França e Itália) o critério usado no estudo foi o do rendimento dos três primeiros da classificação, nas últimas cinco épocas. O método passava pela soma dos pontos conseguidos por cada um, a dividir pelo total de pontos possíveis. Os resultados não deixam dúvidas: em quatro dos cinco campeonatos analisados, o rendimento dos primeiros é o mais alto desde 2008/09, o que se traduz no aumento do fosso para as equipas que não lutam pelo título (a fig. 1 traduz a média dos cinco campeonatos analisados).



Esta tendência também se aplica à Liga portuguesa, não englobada no estudo: usando os mesmos parâmetros de análise, os últimos cinco anos mostram uma subida claríssima no rendimento das equipas de topo, que perdem muito menos pontos perante adversários da classe média-baixa. Entre 2004 e 2009, o rendimento médio dos três primeiros da nossa Liga era de 69,5%, de 2009 para cá subiu para 76,4%. Mais sete por cento de rendimento, valor geralmente retirado às equipas do meio da tabela, já que o rendimento pontual das equipas que lutam pela permanência não tem mudado muito.

O campeonato italiano ( fig. 2) é aquele onde essa realidade é mais sensível: entre 2008 e o final da época 2012/2013, o rendimento dos três primeiros nunca tinha superado os 70 por cento, mantendo-se constante entre 67% e 69%. Este ano, porém, a solidez de Juventus, Roma e Nápoles elevou o patamar para uns inéditos 77% que deixam as restantes equipas a perder de vista – incluindo habituais históricos como o Inter (a 14 pontos do terceiro) e o Milan (a 19).



Se a subida mais clara dos últimos anos se dá em Itália, o desequilíbrio mais acentuado acontece na Liga espanhola ( fig. 3): a sensacional temporada do At. Madrid introduz um dado novo na habitual «ditadura» de Barcelona e Real Madrid, que a partir de 2009 fez disparar o rendimento das equipas da frente. Convém recordar que os dois colossos bateram recordes de pontos e golos em anos sucessivos, passando o rendimento médio dos primeiros de 69% para valores superiores a75%. E este ano, pela primeira vez, há fortes probabilidades de o número final superar os 80%, com a luta a três entre Barcelona, At. Madrid e Real a prolongar-se até às últimas jornadas.



Também na Bundesliga – onde a imprevisibilidade e o equilíbrio competitivo tinham sido bandeiras do crescimento desportivo e económico registado no século XXI - os valores têm subido de forma constante. Até 2011/12 os três primeiros nunca tinham conseguido passar os 70% de rendimento, nas últimas três épocas essa fasquia tem sido constantemente superada, com grande responsabilidade do Bayern Munique, que tem assumido um domínio interno nunca visto por aquelas paragens ( fig. 4).



Cenário semelhante para a Liga francesa, onde, depois de alguma irregularidade, mas com as equipas de topo sempre abaixo dos 70 por cento, a temporada 2013/14 promete ser a primeira em que os três primeiros vão apresentar um rendimento médio superior a essa barreira. Culpa de um super-PSG, mas também da aposta mais sólida do Mónaco que, por força dos argumentos económicos de que dispõe, parece ter vindo para ficar nos lugares da frente – e também do enfraquecimento das equipas de classe média e, até, de alguns históricos como Bordéus, Lyon e Marselha ( fig. 5).



Finalmente, o único campeonato de topo onde o domínio dos primeiros não tem vindo a acentuar-se nos últimos anos é a Premier League, que tem registado valores constantes entre os 70% e os 75% de rendimento, que devem ser repetidos no final da época em curso. Historicamente, o campeonato inglês, ao contrário dos outros, é habitualmente discutido por mais do que duas equipas até uma fase adiantada da época, o que volta a acontecer este ano, com Chelsea, Man. City e Liverpool. Trocando o nome das equipas (Man. United e Arsenal também têm andado pelos lugares do pódio) o padrão tem sido constante, à exceção da época 2010/11, em que o Man. United não encontrou concorrência à altura – e o rendimento médio do trio da frente baixou para 65%. ( fig. 6)



Portugal segue a moda

Em Portugal, por fim, a tendência dos últimos anos foi para um evidente acentuar dos desequilíbrios, acelerada com a redução do campeonato de 18 para 16 equipas, em 2005/06. O enfraquecimento do Sporting, que a avaliar pela época em curso poderá estar em vias de ser invertido, ajudou a acentuar o domínio repartido de FC Porto e Benfica, que têm vindo a perder cada vez menos pontos – e a acentuar as diferenças para as equipas que não lutam pelo pódio.

Eis os valores do rendimento médio nas últimas épocas (pontos reais/pontos possíveis, em percentagem):

2013/14: 76,5%
2012/13: 77,4%
2011/12: 76,3%
2010/11: 72,2%
2009/10: 79,6%
2008/09: 72,2%
2007/08: 67,8%
2006/07: 75,5%
2005/06*: 71,2%
2004/05*: 61,4%
2003/04*: 74,8%
2002/03*: 71,8%
2001/02*: 69,6%
2000/01*: 70,3%
1999/00*: 71,6%

* Liga com 18 equipas

Média das últimas 15 épocas: 72,5%
Média das últimas 5 épocas: 76,4%
Média das 5 épocas anteriores: 69,5%