Dizer que o futuro do futebol está nos pés e nas mãos dos atuais sub-23 é uma daquelas evidências cuja validade o tempo não terá problemas em provar. Já avaliar o seu impacto atual nas principais Ligas europeias é um trabalho um pouco mais árduo – que o Football-Observatory/CIES se propôs efetuar, socorrendo-se dos dados que recolhe regularmente em 31 campeonatos na Europa. O objetivo é identificar os jogadores nascidos depois de 1992 que mais se têm destacado nas respetivas Ligas, definindo assim os cabeças de fila da geração que vai dominar em breve o futebol mundial.

O estudo do CIES centra-se no chamado Top-5 do futebol europeu, as Ligas de Inglaterra, Espanha, Alemanha, França e Itália. Recorrendo a seis índices de intervenção no jogo – duelos defensivos, recuperações de bola, eficácia de passe, duelos ofensivos, criação de oportunidades e eficácia de remate – organiza as tabelas com os jogadores mais eficazes. Em comum, a obrigação de terem nascido a partir de janeiro de 1992 e o facto de terem alinhado em mais de metade do tempo pelas suas equipas.



Assim, no que diz respeito à eficácia defensiva, definida pela percentagem de duelos ganhos, a lista é encabeçada pelo jovem uruguaio José Gimenez (At. Madrid), seguido do inglês Michael Keane (Burnley), e do brasileiro Marquinhos (PSG).



Já no capítulo da recuperação de bolas, o maior especialista nas Ligas Top-5 joga na equipa de Leonardo Jardim: o internacional francês Kurzawa, companheiro de Moutinho, Bernardo Silva e Ricardo Carvalho no Mónaco. Logo a seguir, dois nomes consagrados: o austríaco David Alaba (Bayern) e o inglês Phil Jones (Manchester United) .



No que toca à eficácia de passe, medida pela percentagem de passes falhados , Marco Verratti (PSG) comanda esta lista, seguido por outro jogador a atuar em França: Gilbert Imbula (Marselha). O pódio fica completo com o dinamarquês  Eriksen (Tottenham), que ainda na semana passada distribuiu magia neste jogo.



Entrando no capítulo ofensivo do jogo, o inglês Oxlade-Chamberlain (Arsenal) é o sub-23 mais eficaz a tirar adversários da frente em situações de um para um, seguido de perto pelo argentino Paulo Dybala (Palermo) e pelo brasileiro Lucas Moura (PSG).



Já nos itens das assistências e da criação de oportunidades de golo, o destaque vai para um nome já consagrado, o internacional espanhol Isco (Real Madrid), companheiro de Cristiano Ronaldo, Pepe e Coentrão. O alemão Yunus Malli (Mainz) e outro internacional espanhol, também companheiro de vários portugueses, Paco Alcácer (Valencia), completam este pódio, à frente do inglês Raheem Sterling (Liverpool).



Na eficácia de remate, a lista é liderada por um dos maiores talentos da atualidade, o brasileiro Neymar (Barcelona). Segue-se mais um jogador da Premier League, Harry Kane (Tottenham) e o pódio fica completo com um dos grandes nomes do ano de 2014, precisamente o homem que deu o título mundial à Alemanha, Mario Götze (Bayern).



A terminar, duas notas de destaque. Por um lado, o facto de nem um sub-23 português entrar nos melhores 12 de qualquer uma destas categorias. Por outro, o registo para a polivalência de dois jogadores que atuam na série A: o já citado Paulo Dybala (Palermo), e o arrasador Paul Pogba (Juventus) são os únicos que figuram entre os melhores da Europa em três categorias distintas: o argentino brilha nos duelos ofensivos, assistências e eficácia de remate, enquanto o francês repete duelos ofensivos e eficácia de remate, sendo também um dos melhores da Europa no acerto do passe.

E em Portugal, como é?

A Liga portuguesa, já se sabe, não se destaca pelas portas que abre a jovens. Dos 198 jogadores que estiveram em campo em mais de metade dos minutos nesta edição da prova (855), apenas 37 cumprem os critérios de idade, ou seja, menos de um quinto do total. A média de idades dos jogadores utilizados na Liga é de 25,7, o que a deixa precisamente a meio da tabela etária das Ligas Europeias, que tem a Holanda (24,2) no extremo mais jovem e a Itália (27,2) no mais velho. Refira-se, aliás, que as cinco principais Ligas tendem a apostar na experiência: Inglaterra (26,8), Espanha (26,2), Alemanha (25,9) e França (25,8) também estão na metade mais idosa desta tabela.

Ainda assim, em Portugal, o único clube que não tem qualquer jogador sub-23 no onze base é o Moreirense. Todos os outros têm pelo menos um (casos de Benfica, Paços de Ferreira, Belenenses, Marítimo, Boavista, Penafiel, Arouca). O V. Guimarães é aquele que mais aposta nesta faixa etária, com cinco habituais titulares nascidos em 1992 ou mais tarde: Bruno Gaspar, Josué Sá, Bernard, Cafu e Tomané. Logo a seguir vem o Rio Ave, com quatro sub-23 no onze base (Prince, Wakaso, Diego Lopes e Hassan), e o bom desempenho destas equipas na Liga ajuda a desmontar o preconceito sobre a hipotética falta de competitividade dos jovens.

Dos sub-23 que integram o onze base das suas equipas, 15 são portugueses, com V. Guimarães (quatro) e Sporting (três) a proporcionarem os maiores contingentes. Eis a lista dos 37:

Talisca (Benfica), Bruno Martins Indi, Casemiro e Oliver Torres (FC Porto), Paulo Oliveira, João Mário e William Carvalho (Sporting), Bruno Gaspar, Josué Sá, Bernard, Cafu e Tomané (V. Guimarães), Matheus, Danilo, Rafa Silva (Sp. Braga), Prince, Diego Lopes, Wakaso, Hassan (Rio Ave), Fábio Sturgeon (Belenenses), Sérgio Oliveira (P. Ferreira), Tozé, Sebá (Estoril), Bauer (Marítimo), Miguel Rodrigues, Ali Ghazal e Gomaa (Nacional), Philipe Sampaio (Boavista), Frederico Venâncio e João Schmidt (V. Setúbal), Ivan Balliu (Arouca), Iago Santos e Ofori (Académica), Aldair (Penafiel), Pecks, Luís Silva e Simy (Gil Vicente).

A falta de estatísticas fiáveis na Liga portuguesa, no que diz respeito a vários dos aspectos avaliados no estudo do CIES, não permite organizar classificações idênticas aos das Ligas top-5. Assim, Maisfutebol optou por definir um onze base, de acordo com os desempenhos de cada um destes jogadores na Liga. Assumindo a necessidade de adaptar um jogador a lateral-esquerdo, já que não há especialistas jovens a titulares nessa posição, o onze ideal dos sub-23 da Liga portuguesa seria sensivelmente este: