O «milagre» aconteceu no verão. Não foi o primeiro do género. Mas, já lá vão cerca de seis meses, e Chris LaPak continua a ser notícia para quem ainda não conhece a sua história. Por isso, também aqui contamos como este homem esteve morto e voltou a estar bem vivo cinco dias depois, como está hoje.

Acredite no que leu. Não é a primeira vez que o coração de uma pessoa para durante minutos e depois volta a bater fintando a morte; como se espera que não tenha sido a última. «O meu coração parou e permaneceu parado qualquer coisa entre 11 a 13 minutos.» A frase é do diretor de uma companhia gráfica, de 53 anos, triatleta por desporto.

Foi então em agosto, no Triatlo de Nova Iorque (cidade de onde é natural e onde reside), que a vida de LaPak ficou em suspenso. A história – como se disse – tem vindo a ser contada desde que aconteceu; em vários pontos mundo, em vários órgãos de comunicação – nós seguimos aqui as declarações feitas por LaPak à «ABC», feitas cerca de meio ano depois do «milagre». E estas palavras já são suas.

Descrevendo-se a si próprio como um «maníaco do exercício físico», LaPak preparou bem o triatlo: fez três maratonas e praticou a natação com um treinador olímpico durante seis meses a prova que iria começar no rio Hudson. Depois do quilómetro e meio de natação seguir-se-iam mais 40 de bicicleta e outros 10 a correr.

Não passou da água. Teve uma paragem cardíaca. A resposta de quem está lá para ajudar a que tudo corra pelo melhor foi tão pronta como fundamental. Os socorristas no rio, em pranchas de surf, repararam no corpo que tinha ficado imóvel na água. LaPak foi recolhido pelos nadadores salvadores, transportado numa mota de água para um barco, colocado em terra, e foi uma ambulância que o transportou para o hospital.

Os médicos detetaram uma artéria coronária 100 por cento obstruída, mas a primeira preocupação foi descer a temperatura corporal para 33 graus para evitar danos cerebrais. O arrefecimento do corpo foi rápido, o retomar do aquecimento do corpo até à temperatura normal foi lento, demorou 16 horas. Acordou cinco dias depois de ter desfalecido no Hudson.

«Estava toda a gente em choque. À minha família, aos meus amigos, tinham dito que eu tinha menos de 10 por cento de hipóteses de sobreviver. E se o conseguisse, que havia 95 por cento de probabilidades de ficar com lesões cerebrais», contou à «ABC». LaPak fez dois «bypass» coronários para ultrapassar a artéria obstruída de que resultou o ataque de coração sofrido dias antes da prova de triatlo: provavelmente quando sentiu fortes dores no peito e falta de ar numa aula de ioga; e não ligou.

Agora, quer aproveitar «a oportunidade para ter mais da vida», pois é o primeiro a admitir que está a viver «com tempo que foi emprestado». Mas não é também por isso que deixou de fazer exercício e já voltou a correr, entre 15 a 18 quilómetros. LaPak reconhece: «Eu faço muito exercício.» E confessou uma crença: «Eu acho que, no meu subconsciente, eu estava a pensar que podia vencer isto tudo.»


Imagem do Facebook de Chris LaPak, assim como a fotografia de capa do artigo

E LaPak venceu. Mas não é o único agraciado com um «milagre» destes. Nem com o mais surpreendente. Lembramo-nos de outro. Fabrice Muamba esteve morto 78 minutos. «Passaram 48 minutos desde que ele colapsou no relvado até que chegou ao hospital. E outros trinta minutos depois disso. Ele estava, de facto, morto nesse período», admitiu Jonathan Tobin, médico do Bolton.

Em março de 2012, Muamba caiu inanimado no Tottenham-Bolton da liga inglesa. Sofreu uma paragem cardíaca. Mais de uma hora e um quarto depois, e quinze choques com o desfibrilhador depois (dois deles ainda no relvado e um no túnel de White Heart Lane), o seu coração voltou a bater. «O coração não começava a trabalhar. Foram 48 minutos desde o colapso até à entrada no hospital, e depois mais trinta», especificou Tobin poucos dias depois do colapso.

Um mês depois, em abril desse ano, o refugiado zairense que encontrou abrigo no futebol inglês deixou o hospital. Teve de deixar de jogar futebol. A despedida simbólica ao futebol profissional feita no regresso ao estádio do Tottenham pela primeira vez depois de lá ter morrido foi arrepiante.



Não é todos os dias que se volta a viver. E, à parte o desporto profissional que teve de largar, Muamba preparou-se para a sua segunda vida.

O futebol português, em 1990-91, passou por um caso semelhante a estes quando, numa eliminatória europeia, Marlon Brandão, sofreu uma ancada que deixou todos no Torino-Boavista muito preocupados. O jogador dos «axadrezados» chocou com Marchegiani e, como contou depois, ficou inanimado no chão e enrolou a língua.

Marlon precisou de receber massagens cardíacas para voltar a ter batimento e respirar. O médico do Boavista na altura, Joaquim Agostinho, relatou a «crise convulsiva» sofrida pelo jogador entre as dificuldades respiratórias, antes de confirmar a recuperação de Marlon. O lance chocante e a análise clínica que notava já a existência de um desfibrilhador e outros aparelhos no estádio do Torino estão documentados em vídeo.