Um golo histórico valeu a vitória no derradeiro jogo e no grupo numa noite perfeita da Croácia, que venceu por 2-1 a bicampeã Espanha, doze anos depois derrotada numa fase final de um campeonato da Europa.

Com as duas seleções já apuradas para os oitavos-de-final o que se discutia esta noite em Bordéus era sobretudo o primeiro lugar do Grupo D.

A Croácia precisava de vencer a campeã em título e candidata para chegar a líder, mas teve de deixar no banco o seu «farol» Modric – assim o definiu o selecionador Ante Cacic na antevisão –, ainda a recuperar de uma contusão muscular, além do goleador Mandzukic que cedeu o seu lugar na frente de ataque a Nikola Kalinic.

O cenário para os croatas piorou logo aos 8’, quando Morata abriu o marcador e fez o seu terceiro golo na prova (igualando Bale entre os melhores marcadores), ao empurrar para o fundo da baliza uma bola picada por Fabregas à saída de Subasic.

Seria de esperar que, em vantagem, os virtuosos do meio-campo espanhol guardassem a bola, mas a reação croata não tardou.

Já depois de Kalinic e Nolito terem levado o perigo às duas balizas, Rakitic, à passagem do quarto de hora, teve nos pés um dos melhores golos da competição. O médio do Barcelona aproveitou um erro de David de Gea para tentar de primeira um chapéu que levou a bola a bater na barra e no poste não ultrapassando a linha de baliza.

Estava dado o mote para um grande jogo entre duas das melhores equipas deste Euro. A Croácia, sempre com muita intensidade e a explorar bem os flancos (mais um grande jogo de Perisic, já lá vamos) para contrariar o jogo interior espanhol.

O prémio para abnegação croata veio em cima do intervalo. E de que forma! Perisic cruzou com precisão sobre a esquerda e Kalinic surgiu na pequena área para desviar de primeira com a parte lateral do pé.

O golaço, digno do grande jogo a que esta noite se assistiu em Bordéus, quebrou o recorde de inviolabilidade das redes espanholas em fases finais do Europeu. 735 minutos depois, La Roja voltava a sofrer um golo numa fase final do campeonato da Europa.

Castigo máximo para o bicampeão

Faltava à Croácia um outro recorde bem mais difícil. Derrotar os espanhóis no Euro, algo que já não acontece desde 2004 (já lá vamos, Nuno Gomes). Uma missão quase impossível e 45 minutos para a conseguir.

A segunda parte até deixou o jogo de feição para a Espanha o poder resolver. Bjorn Kuipers ignorou um lance muito duvidoso em que Sergio Ramos parece derrubar Pjaca na área espanhola para meia dúzia de minutos depois assinalar uma grande penalidade num empurrão, ainda mais duvidoso, de Vrsaljko sobre David Silva.

Na conversão, Ramos atirou denunciado para o meio da baliza e Subasic saltou uns largos passos para a frente da linha de baliza e quase foi à entrada da pequena área salvar a Croácia do castigo máximo.

Havia ainda cerca de vinte minutos para jogar… E foi nesse último fôlego, aos 88’, que a Croácia chegou ao golo da vitória – no jogo e no grupo – que lhe permite atirar a Espanha para um escaldante confronto com a Itália nos oitavos-de-final (e eventualmente cruzar-se com Portugal, mas só se a seleção nacional terminar o seu grupo em terceiro).

Perisic, o homem do jogo, concluiu o contra-ataque com um remate forte e cruzado de pé esquerdo, na área, com a bola a desviar ligeiramente na bota de Piqué antes de deixar pregado ao relvado o mal batido De Gea.

Um momento histórico. Doze anos e um dia depois daquele golo de Nuno Gomes, com que saiu eliminada da prova após uma derrota contra Portugal (1-0), a bicampeã europeia Espanha voltou a perder um jogo numa fase final do Europeu.