Uma espécie de acerto de contas. Faria todo o sentido a Hungria encarar o jogo com a Bélgica desta forma. Há 44 anos, a seleção magiar marcou presença num Europeu pela última vez, naquela que foi a melhor prestação daquele país em grandes competições depois da geração de Puskas, Kocsis, Czibor e companhia. Depois de caído às portas da final, restava à Hungria, lutar pelo bronze, mas a Bélgica estragou-lhe os planos.
Não foi preciso ver muito do Hungria-Bélgica para se perceber quem seguiria em frente. Acidentes acontecem, mas seria necessária uma sequência improvável de eventos catastróficos para que a seleção de Marc Wilmots não marcasse encontro com o País de Gales no próximo dia 1.
Quando a Bélgica chegou ao golo aos 10 minutos pelo central Alderweireld, a dar de cabeça o melhor seguimento a um livre batido por Kevin de Bruyne, já a Bélgica tinha estado perto de inaugurar o marcador em duas ocasiões.
Mesmo sem muita bola, a seleção belga ia controlando todos os momentos do jogo. Concedia aos húngaros um aparente controlo territorial do jogo e lançava ataques rápidos que apanhavam a defesa magiar muitas vezes desposicionada.
Armadilha montada que só não teve mais efeitos práticos graças a um homem: Gabor Király. O guarda-redes quarentão brilhou entre os postes e conseguiu o que não se afigurava fácil: que a Hungria fosse para o intervalo a perder pela margem mínima e ainda em condições de sonhar com os quartos de final.
Bernd Storck, selecionador da Hungria, mexeu para o reatamento: lançou Elek e tirou Gera, que nunca conseguiu apoiar Nagy nas tentativas de estancar a velocidade furiosa imprimida por Kevin de Bruyne e Eden Hazard.
A equipa magiar arrumou-se, subiu no terreno e parecia ligada perante uma Bélgica que já não conseguia ser tão eficaz nas saídas rápidas: pareciam começar a faltar pernas. A meio da segunda parte, a Hungria esteve perto do golo por duas vezes. Na primeira delas, Adam Pinter obrigou Courtois a uma defesa de recurso depois de um remate que desviou em Alderweireld.
Tic-tac.
O avançar do cronómetro obrigava à tomada de decisões. Nikolic entrou para dar poder de fogo aos húngaros, mas a Bélgica – com um novo barril de oxigénio – chegou ao segundo aos 78 minutos. Hazard abriu o livro no vértice da grande área, foi à linha e serviu o recém-entrado Batshuayi que só precisou de encostar para bater Király.
Não havia make-up que disfarçasse as enormes debilidades defensivas da Hungria.
E também não havia quem travasse Eden Hazard (jogo ENORME do jogador do Chelsea), que voltaria a fazer das suas logo a seguir. Bola ao centro, contagem de segundos e Hazard esquecido na esquerda, como aconteceu tantas vezes ao longo dos 90 minutos. O resto? O artista faz o resto. Arranca para o centro num slalom entre adversários e remata para mais um.
Último ato de Hazard, que saiu logo de seguida para os aplausos. Chapeau para monsieur Eden aqui da redação do Maisfutebol.
Se pelo que produziu na segunda parte a Hungria não merecia tão pesada derrota (pelo menos o golo de honra seria ajustado), o que o fez nos primeiros 45 minutos acaba por justificá-la. O castigo acabou por vestir-se de goleada (a maior deste Euro) em cima dos 90’ quando Ferreira Carrasco selou o marcador.
O tal acerto de contas fica para uma próxima... Hazard!